No post anterior contei a história da Galícia, uma das regiões mais bonitas da Espanha. Nesse eu vou te contar o que visitar por lá.

É super fácil encaixar a Galícia em um roteiro por Portugal, já que esse pedacinho da Espanha compartilha com o país vizinho uma fronteira de mais de 200 quilômetros.

A maior cidade  galega, Vigo (300 mil habitantes), fica a apenas 120 quilômetros do Porto, segunda maior cidade de Portugal (240 mil habitantes).

Entre os destaques da Galícia está Santiago de Compostela.

Essa cidade é o destino de uma das rotas de peregrinação mais importantes do mundo, o Caminho de Santiago.

Mas muita gente também visita essa região em função das suas paisagens naturais espetaculares.

São 1.500 quilômetros de costa atlântica, metade voltada para o oeste (região conhecida como Rías Baixas) e a outra metade voltada para o norte (mar Cantábrico).

Aqui você pode dar uma espiada em fotos das 14 praias galegas consideradas mais bonitas pela National Geographic.

A culinária galega, baseada em frutos do mar e ingredientes simples, é uma das mais prestigiadas da Espanha.

Há ainda quem visite a Galícia para conhecer sua arquitetura histórica, que inclui cidades pré-romanas (os castros), pontes e muralhas romanas (incluindo a de Lugo, uma das mais bem preservadas da Espanha) e muitos prédios medievais.

Nesse post, vamos explorar os lugares mais especiais da Galícia.

Nosso roteiro vai começar em Santiago de Compostela, seguir para as Rías Baixas e, depois de chegar pertinho de Portugal, voltar para o norte da Espanha, até chegar no Mar Cantábrico (litoral norte).

Primeira Parada: Santiago de Compostela

Como não podia deixar de ser, nossa primeira parada é em Santiago, a cidade mais visitada da Galícia.

Ela surgiu em 813, quando o túmulo do apóstolo Santiago foi encontrado em um “campo estrelado” (origem da palavra Compostela).

O rei de Astúrias e Galícia da época, Afonso II, foi o primeiro peregrino do que tornar-se-ia o Caminho de Santiago.

Ele construiu uma capela no local onde foi encontrado o túmulo e cedeu a terra ao redor para a Igreja.

Séculos de peregrinação resultariam na cidade de hoje, com 100 mil habitantes. Somam-se a eles 700 mil visitantes por ano.

Uma visita a Santiago significa explorar seu centro antigo (casco viejo), o maior da Galícia.

São várias ruas como essa, cheias de prédios medievais transformados em cafés, bares, hoteis, lojas e restaurantes.

E, se você tiver sorte, possivelmente verá algum grupo de tradições galegas apresantando-se pela cidade.

Se você surpreendeu-se de ver na foto gaitas de fole, normalmente associadas à Escócia, saiba que elas são super antigas e, provavelmente, originárias do Egito.

Para conhecer melhor a gaita de foles galega – e a gaita de foles de várias outras regiões, espie o site Um Mundo de Gaitas. Curiosíssimo.

Seguindo nosso passeio pelo casco viejo, chegamos à catedral de Santiago. Ela fica no mesmo local em que aquela primeira capela foi construída.

Essa fila é para entrar e visitar o túmulo do apóstolo.

Para explorar a comida típica local, uma boa parada é o mercado público (Mercado de Abasto), a cerca de 500 metros da catedral.

Chegar em Santiago é facílimo: a cidade tem aeroporto e vôos diretos para muitas outras cidades europeias.

Quem está em Madri também pode chegar de trem rápido, viagem que leva pouco mais de 3 horas.

E, se você tem interesse em percorrer o Caminho de Santiago, provavelmente vai chegar a Santiago a pé.

Existem muitas rotas – e distâncias – possíveis. Os trajetos mais comuns são o Caminho Primitivo, o Caminho Francês, o Caminho Português e o Caminho Português da Costa.

O Caminho Primitivo, com 313 quilômetros, é um dos mais curtos.

Trata-se do mesmo trajeto percorrido pelo rei Afonso II quando o túmulo do apóstolo foi descoberto.

Começa em Oviedo, hoje capital da Comunidade Autônoma Astúrias.

O Caminho Francês é o mais longo e, também, o mais tradicional.

Ele começa na fronteira entre França e Espanha (na cadeia de montanhas Pirineus) e estende-se pelo norte da Espanha por quase 800 quilômetros.

Quem começa o trajeto em Portugal, pode escolher entre o Caminho Português, que começa em Lisboa e cruza a fronteira pelo interior (620 quilômetros), ou o Caminho Português da Costa, que começa no Porto e segue sempre próximo ao litoral (266 quilômetros).

Para receber o certificado de conclusão do Caminho (um documento chamado Compostela), é necessário chegar a Santiago tendo percorrido pelo menos 100 quilômetros a pé ou 200 quilômetros de bicicleta (mais detalhes aqui).

O site Pilgrim tem mapas ótimos, mostrando as diferentes possibilidades e várias informações sobre cada uma das opções.

Mas não são só motivos religiosos que motivam os peregrinos: das 446 mil pessoas que completaram o Caminho de Santiago em 2023, apenas 184 mil (41%) dizem ter feito o percurso por motivos estritamente religiosos.

Outros motivos comuns para percorrer o Caminho de Santiago são vontade de conhecer as paisagens e cultura local, busca por auto-conhecimento, espaço para reflexão, férias baratas ou, simplesmente, conhecer outros peregrinos.

Na minha opinião, uma das coisas mais legais de fazer o Caminho de Santiago é poder andar por uma rota segura, cada um no seu ritmo, contando com uma estrutura de apoio (pousadas, hoteis, restaurantes, etc) bem estabelecida ao longo de séculos.

Dependendo da época do ano, a experiência é completamente diferente.

A maioria dos peregrinos faz o Caminho no verão (maio a setembro) e já li pessoas dizendo que “o Caminho vira uma movimentada highway” nesse período.

Ótimo para quem quer fazer amigos, mas não ideal para quem busca solidão.

Já no inverno, em que há grande probabilidade de haver chuva, vento e, às vezes, neve, há bem menos peregrinos.

O que também significa maior disponibilidade de camas nas hospedarias ao longo do trajeto. E mais espaço para momentos de silêncio e reflexão.

Se você tem curiosidade em saber mais sobre como é trilhar o Caminho, há muitos livros sobre o tema. De guias de viagem a romances.

Dentre os que li, sugiro O Diário de um Mago (1987), em que Paulo Coelho narra sua experiência de três meses trilhando o Caminho de Santiago. Li na época em que foi escrito, e me marcou muito.

Indico também Encontros e Desencontros em Compostela, que li recentemente. É um romance delicioso que mostra o poder do Caminho para transformar a vida até de quem não está em uma jornada espiritual.

Finis Terrae, o “Fim da Terra” e o Começo da “Costa da Morte”

Nem todos os peregrinos encerram sua jornada em Santiago. Muitos continuam por mais 90 quilômetros em direção ao mar, até o Cabo Finisterre (originado a partir do termo em latim que significa fim da terra).

Os historiadores do Império Romano escreveram que, lá naquele cabo, havia um templo milenar de adoração ao sol (Ara Solis), provavelmente construído pelos fenícios.

Hoje encontramos lá o marco zero do Caminho de Santiago.

E, também, uma escultura de uma bota, feita em bronze.

Trata-se, literalmente, do fim do Caminho.

O Cabo Finisterre fica em um dos extremos da Costa da Morte, trecho do litoral galego que se estende por 80 quilômetros e é conhecido pelo mar agitado.

A Costa da Morte vai até Malpica de Bergantiños e é famosa pelos muitos naufrágios ocorridos nessa região.

As paisagens são lindas. Elas incluem praias desertas, vilas de pescadores e construções medievais.

Nessa área você também pode visitar o dolmen de Dombate, um dos monumentos megalíticos mais importantes da Galícia.

Para planejar um passeio de três dias por essa região, confira essa página do site do governo da Galícia.

No caminho, aproveite para comer percebes, uma iguaria culinária da região.

Se você sair do Cabo Finisterre na direção contrária (rumo a Portugal), vai passar perto da Fervenza (cachoeira) do Ezaro.

Ela é conhecida por ser a única cachoeira galega que desagua no mar.

Mas não vá esperando ver uma cachoeira que desagua diretamente no mar. Ela chega antes ao rio Xallas e, esse sim, após cerca de um quilômetro, chega ao Oceano Atlântico.

O lugar é bem agradável. Merece uma parada se você estiver passando por lá.

Segunda Parada: Rías Baixa (Costa Ocidental)

Continuamos nosso caminho pela costa do Atlântico em direção ao sul. Estamos entrando na região conhecida como Rías Baixas.

As rías são entradas de mar no continente, o que no Brasil chamamos de baía ou enseada.

Fonte: Hidrogalicia_ESCC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

Entre as várias rías galegas, destacam-se a ría de Muros-y-Noia, a ría de Arosa, a ría de Pontevedra e a ría de Vigo.

Além de serem belíssimas, as rías formam um ecossistema ideal para o cultivo de mexilhões (dos quais a Galícia é o segundo maior produtor mundial).

Ría de Muros y Noia

Na primeira enseada ao sul de Finisterre encontramos uma das vilas medievais mais bonitinhas da região (Muros), um dos maiores sítios arqueológicos pré-romanos da Galícia (Castro de Baroña) e longas praias de areias brancas (com destaque para a Praia das Furnas).

A vila de Muros foi fundada no século XIII e declarada bem cultural da Espanha em 1970.

Prédios e ruelas medievais abrem-se para uma orla charmosa, cheia de cafés e restaurantes.

O trajeto contornando a ría de Muros-y-Noia nos leva até o Castro de Baroña, uma vila pré-romana construída na beira do mar.

Escavações no século XX encontraram vestígios de cerca de vinte casas, que provavelmente foram habitadas entre o século VI A.C. e o século I D.C..

Do castro enxergamos a Praia do Castro de Baroña, que aparece nessa lista de lista de 25 melhores praias da Espanha, publicada pela National Geographic.

Quem prefere praias mais amplas, pode continuar 7 quilômetros ao sul. Lá, separadas por pedras e riachos, estão três praias que, juntas, estendem-se por cerca de três quilômetros.

Elas são a Praia Rio de Siera, a Praia das Furnas e a Praia de Areas Longas.

A Praia das Furnas é uma das locações do filme Mar Adentro, estrelado por Javier Barden e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2005.

Ría de Arosa

A próxima ría no caminho é a de Arosa. Ela é a mais extensa das Rías Baixas e sua capital é uma cidade costeira lindinha chamada Vilagarcía de Arosa.

Querendo, dá pra passar uma semana inteira nessa região: além das praias, há também várias ilhas na enseada.

Para quem gosta de história, também há uma oportunidade de ver um monumento megalítico aqui: o Dolmen de Axeitos.

Atualmente classificado como Bem de Interesse Cultural, acredita-se que esse monumento funenário pré-histórico tenha sido construído há cerca de cinco mil anos.

Mas o destaque turístico da região é O Grove, município com pouco mais de dez mil habitantes.

Ele fica em uma península com dez quilômetros de praias. O que ajuda a entender porque uma localidade tão pequena tem 13 hotéis.

Os destaques turísticos dessa região são a Praia da Lançada e a Ilha da Toxa.

A praia da Lançada tem dois quilômetros de extensão, o que faz dela a mais extensa do sul galego. Você pode caminhar pela areia ou por uma passarela de madeira que acompanha a costa.

A Ilha da Toxa fica na ponta da península de O Grove e tem pouco mais de um quilômetro quadrado (110 hectares). O acesso é por uma ponte construída em 1910.

Até o século XIX, a ilha era utilizada pelos habitantes de O Grove como campo de cultivo e pastoreio (eles levavam os animais até lá de barco). Mas, nessa época, foram descobertos poços de água termal e medicinal na ilha.

Em pouco tempo a ilha transformar-se-ia em um balneário termo-medicinal, inspirado nos de Baden-Baden (Alemanha) e Vichy (França).

O alojamento mais tradicional é o Gran Hotel, inaugurado em 1907 e hoje parte da cadeia Eurostars.

Ele foi o primeiro hotel da Espanha a ter um campo de golfe.

A rede Eurostars tem ainda um segundo hotel lá, o Isla de la Toja, também com circuitos de banhos em águas termo-medicinais.

O terceiro e último hotel da ilha, o Talaso Louxo, não tem circuitos termais. Mas oferece talasoterapia, que são tratamentos de saúde e beleza a partir de produtos do mar (água, barro, algas, etc).

Ría de Pontevedra

Ao sul da península de O Grove começamos a entrar na Ría de Pontevedra.

Os destaques são Sanxenxo (a praia mais badalada da Galícia), Pontevedra (capital da província de Pontevedra) e o arquipélago de Ons.

Sanxenxo, uma das praias mais badaladas da Galícia

Nossa primeira parada é no município de Sanxenxo, que tem dois núcleos urbanos principais: a praia de Silgar (normalmente chamada simplesmente de Sanxenxo) e Portonovo (com três praias: Baltar, Canelas e Caneliñas).

Silgar e Portonovo são praticamente ao lado uma da outra. Estão separadas apenas pela Punta de Vicaño (de onde se tem essa vista para Silgar):

A praia de Silgar é uma gracinha.

Ela virou sinônimo de Sanxenxo por abrigar a Marina de Sanxenxo, fundada em 1951.

Além de ser um porto para lanchas e veleiros, a marina tornou-se um centro para a prática de esportes náuticos, de remo à pesca submarina.

Isso atraiu várias personalidades para a região, transformando a antiga vila de pescadores na praia mais badalada do litoral galego.

Isso sem falar nas aparições frequentes do rei emérito Juan Carlos, que tem participado regularmente de regatas na região.

Nas novas instalações da marina, inauguradas no começo do século XXI, além de excelentes instalações para barcos, há também uma área de lazer que inclui bares, restaurantes e lojas.

Essa badalação toda em Silgar faz com que Portonovo, embora seja o principal núcleo urbano do município, seja relativamente mais tranquilo.

As duas praias ficam a apenas 20 quilômetros da cidade de Pontevedra, que é a capital da província de Pontevedra e também conhecida como “a capital das Rías Baixas”.

Pontevedra, uma das cidades medievais mais bonitas da Galícia

Pontevedra fica na margem do rio Lerez, que desagua na ría de Pontevedra.

A cidade tem um centro medieval lindo.

Mas a capital das Rías Baixas tem muito mais do que alguns séculos de história.

Em escavações recentes foram encontrados três miliários romanos (século I, século II e século IV). Miliários são marcos que o Império Romano colocava em suas estradas para indicar a distância (em milhas).

Os miliários encontrados em Pontevedra estão no Museu Provincial.

E, ao ar livre, perto de onde eles foram encontrados, existe uma réplica de um deles, o Miliário de Adriano (ano 134).

Os três miliários são a prova de que por ali passava uma estrada, a Via XIX, que ligava duas cidades importantes do império romano: Bracara Augusta (atualmente Braga, em Portugal, sobre a qual já escrevi aqui) e Lucus Augusti (atual Lugo, sobre a qual falaremos em seguida).

Dessa mesma época, foram encontrados vestígios de uma construção e alguns objetos.

Historiadores acreditam que isso prova que ali ficava um prédio chamado Turoqua, um centro para armazenagem de mercadorias que sabe-se haver existido na Via XIX.

Com a queda do império romano, a partir do século V, Turoqua parece ter sido abandonada.

A cidade de Pontevedra, que teria surgido no mesmo local algum tempo depois, começa a ser citada no século XII.

Seu nome aparece em um documento assinado pelo rei Fernando II (1157-1188), que reconhecia a existência daquela cidade à margem do rio Lerez.

Nesse documento, a cidade já é chamada de Pontevedra, que vem do latim Pontem Veteram (em português: ponte velha).

O que indica que, oitocentos anos atrás, a ponte principal da cidade já era considerada velha.

Seu nome é Ponte do Burgo. E ela continua lá, firme e forte, restaurada e iluminada.

Ela é parte do trajeto de quem faz o Caminho de Santiago Português.

Você pode saber mais sobre a evolução da ponte ao longo dos últimos oito séculos clicando aqui.

Durante esse período, a cidade crescia. E as muralhas que protegiam a cidade iam sendo ampliadas.

Essa imagem mostra a evolução da muralha. Tudo o que fica dentro do traçado cor-de-rosa forma o que chamamos hoje de Zona Monumental (o centro histórico ou casco viejo).

Fonte: Concello de Pontevedra / Ponte do Burgo

É nessa área que você vai encontrar os prédios e praças medievais. Como essa, a Praza da Leña.

Em um dos prédios dessa praça está o único restaurante com estrela Michelin da cidade, O Eirado.

Sua especialidade é cozinha galega, baseada em frutos do mar.

Mas são tantos restaurantes nessa área que fica bem difícil escolher onde ir.

Se eu fosse te indicar dois, seriam o clássico Casa Fidel, O Pulpeiro (que me fez gostar de polvo, com o tradicional polvo à feira) e o mais refinado Casa Román (tradicional entre os moradores da cidade).

A Casa Fidel fica a dez passos da Praça das Cinco Ruas.

Nessa casa onde hoje há um restaurante morou Valle Inclán, um dos maiores escritores galegos de todos os tempos. Há uma plaquinha sinalizando o local.

E um vizinho engraçadinho colocou na sua casa (que não aparece na foto) uma outra placa que diz: “Aqui morou o vizinho de Valle Inclán”. Pra mim a parte mais divertida da praça!

Falando em praças, outra que não pode faltar no passeio por Pontevedra é a da Ferraria. É lá que acontecem os grandes eventos públicos, como concertos ou a feira de Natal.

Ao lado ficam o Convento de São Francisco e sua igreja, construídos no século XIV.

São dessa mesma época o Convento de Santa Clara e o Convento de São Domingos.

Este último foi derrubado junto com as muralhas da cidade, no século XIX.

Pertinho do Convento de São Francisco está a Igreja da Virgem Peregrina, que tem planta em formato de concha de vieira (símbolo do caminho de Santiago).

Ela é bem mais recente (séc XVIII) e é dedicada à Virgem Peregrina, padroeira da cidade.

Ela foi construída para abrigo da imagem da santa, já então cultuada em outras regiões do norte da Espanha sob o nome de Virgem do Caminho.

Mas a igreja mais impressionante da cidae é a Basílica de Santa Maria, construída no século XVI.

Ela diferencia-se das outras por ter sido construída voltada para o lado de fora dos muros da cidade, entre a muralha e o rio, sobre o bairro dos mareantes (barqueiros), oficialmente chamado de Moureira.

Os barqueiros que viviam ali fundaram uma associação no começo do século XIV.

Eles foram muito importantes para o desenvolvimento econômico da cidade, especialmente no século XVI.

Seu sucesso econômico possibilitou o financiamento da construção da igreja, que é um dos destaques da cidade até hoje. A associação, chamada Grêmio de Mareantes, também continua a existir.

A pesca e o comércio enriqueceram muitas famílias galegas.

O sucesso econômico pode ser visto nas muitas mansões dos séculos XVII e XVIII que ainda existem no centro histórico.

Muitas delas tem brasões de pedra nas paredes, que identificavam a que família a casa pertencia.

Isso não é raro na Espanha, mas sua concentração na Galícia e, principalmente, em Pontevedra, é marcante.

Um dos melhores lugar onde observar esses brasões de pedra é a Praça do Teucro.

A destruição dos muros medievais no século XIX abriu espaço para novas áreas urbanas.

Entre elas destacam-se a Alameda de Pontevedra (Xardíns de Vicenti) e o parque das palmeiras, próximos às ruínas do Convento de São Domingos.

A partir dessa região, podemos seguir a margem do rio Lerez por uma calçada que se estende por cerca de cinco quilômetros.

Se você caminhar em direção ao mar, vai chegar até a entrada da ría (cerca de dois quilômetros de caminhada por esse calçadão).

Seguindo o rio para o outro lado (em direção a ponte do Burgo), chegamos a uma área verde super agradável.

Ela inclui uma pequena ilha, chamada de Ilha das Esculturas, a praia fluvial do Lerez e uma trilha (senda do Lerez).

Tudo isso a apenas dez minutos a pé do centro da cidade.

Arquipélago de Ons

Nossa última parada na ría de Pontevedra é o Arquipélago de Ons, já no Oceano Atlântico. São duas ilhas, Ons e Onza, das quais apenas a primeira é habitada.

Elas fazem parte de um conjunto de ilhas nessa região chamado Parque Natural das Ilhas Atlânticas da Galícia.

Embora menos conhecido que as vizinhas Ilhas Cíes (das quais falaremos em seguida), o arquipélago de Ons merece uma visita.

A ilha maior, Ons, tem quase seis quilômetros de extensão e chega a 1,3 quilômetro de largura. A única forma de locomoção na ilha é a pé.

A parte voltada para o continente é a que tem as melhores praias.

Dizem que a praia mais bonita é Melide, a 30 minutos de caminhada do cais. E, por isso, ela também é a mais lotada. A mais deserta desse lado da ilha é Canexol.

Já a parte voltada para o oceano é mais agreste, com ondas violentas.

Os dois lados de costa estão divididos por uma área verde com quatro trilhas demarcadas: Rota do Sul, Rota do Norte (a mais longa, com 8,1 quilômetros), Rota do Farol e Rota do Castelo (a mais curta, com 1,1 quilômetro).

Existe transporte público para Ons (de maio a setembro), mas o número de visitantes é limitado. Por isso, antes de comprar a passagem, é necessário ter uma autorização especial.

Dá pra conhecer a ilha em um passeio bate-e-volta de um dia. Mas também é possível dormir por lá.

Nesse caso, é fundamental reservar com antecedência local para dormir. Acampar fora da área de camping é proibido, e as vagas na área de camping são limitadas.

Mas vale a pena tentar reservar o camping: se você não curte ficar em barraca, existe também opção de glamping (camping chique).

Existem ainda algumas opções de alojamento local, mas elas também são bastante limitadas.

Visitar Ons exige um pouco de planejamento. Se você está pensando em conhecer a ilha, recomendo a leitura desse artigo do blog Vagamundos. Ele é super informativo.

Atualizações sobre como visitar Ons podem ser encontrados no site oficial do arquipélago.

Ria de Vigo

De Ons vamos para a nossa última ría, a de Vigo. E, já que estamos pelo oceano, vamos começar conhecendo o arquipélago Cíes, também parte do Parque Natural das Ilhas Atlânticas da Galícia.

Cíes fica no encontro da ría de Vigo com o mar.

Depois conheceremos a maior cidade dessa área (Vigo) e uma praia charmosa que está ligada ao descobrimento da América (Baiona).

Ilhas Cíes

Esse arquipélago é formado por três ilhas: Monteagudo (ilha norte), Faro (ilha do meio) e San Martiño (ilha sul).

As Cíes ficaram conhecidas internacionalmente quando o jornal britânico The Guardian publicou um artigo dizendo que suas praias estão entre as dez mais bonitas do mundo.

Ele mencionava especificamente a Praia das Rodas, uma faixa de areia que liga a ilha de Monteagudo à ilha do Faro.

A partir da publicação desse artigo, essa praia começou a ser citada internacionalmente.

Mais recentemente, as Cíes apareceram em um artigo da Lonely Planet.

E a praia de Rodas, em 2024, foi incluída pela National Geographic na lista de 25 praias mais bonitas da Espanha.

Assim como a visita a Ons, a visita a Cíes precisa ser planejada com antecedência.

A vantagem é que há mais barcos fazendo o trajeto e mais espaço no camping. Detalhes podem ser encontrados nesse post do blog Vagamundos.

Muita gente prefere fazer um bate-e-volta a Cíes a partir da cidade de Vigo.

Uma ótima opção, já que Vigo, por si só, vale a pena.

Vigo

Vigo é a cidade mais populosa da Galícia, com quase 300 mil habitantes. Lá já viviam povos celtíberos há pelo menos três mil anos.

Por isso minha sugestão é você começar o passeio pelo Castro de Vigo, o assentamento pré-romano.

Além dos vestígios arqueológicos (como os dessa imagem), você também vai encontrar réplicas de como essas casas eram quando os romanos chegaram.

Os vestígios arqueológicos do castro ficam em uma colina bem no centro da cidade, o Parque do Castro.

No alto da colina há ruínas de um castelo medieval. E a vista lá de cima é linda!

De lá você pode ir para o centro histórico (casco viejo). São apenas quinze minutos a pé.

Se for época de Natal, aproveite: Vigo é famosa por ser uma das cidades espanholas mais bem decoradas nessa época.

E, embora a decoração esteja por toda a cidade, ela se concentra no casco viejo, nas proximidades da praça de Compostela.

Eu fui conferir em 2023 e gostei bastante.

Vigo também tem uma área agradável à beira-mar.

E, se você gosta de praia, vale a pena ir até Samil.

Uma praia linda, com um calçadão super agradável, com quase dois quilômetros de extensão.

Quem está disposto a esticar um pouco mais pode também ir até a Praia América, que também tem um calçadão com bares e restaurantes que se estende por quase dois quilômetros na beira do mar.

Baiona

Continuando nossa viagem em direção a Portugal, já no finzinho da ría de Vigo, chegamos a Baiona.

Ela entrou na história ocidental porque foi lá que Pinta, a primeira das três caravelas de Cristóvão Colombo a retornar à Europa, atracou.

Foi a partir de Baiona que se esparramou pela Europa a descoberta do que, naquele momento, ainda não se sabia ser um continente inteiro.

O irônico é que Colombo não estava na caravela Pinta. A caravela que ele conduzia fez uma pausa em uma ilha no Atlântico em função do mau tempo.

Dizem que ele nunca perdoou Martín Alonso Pinzón, o comandante da Pinta, por ter continuado a viagem sem ele e ter chegado à Europa antes.

Eu entrei na réplica da Pinta, que está ancorada no porto de Baiona.

É assustador imaginar que dezenas de pessoas cruzaram o Atlântico (várias vezes!) em barcos tão pequenininhos. Quanta coragem!!!

Além da réplica da caravela Pinta (e de um museu sobre a viagem da Descoberta), Baiona tem uma trilha linda pela beira do mar.

Rico passeio para uma tarde de sol.

Acabamos assim nosso passeio pelas Rías Baixas.

Se você escutar algo sobre Rías Altas, saiba que se trata de uma denominação turística para as rías menores que existem na costa norte da Galícia. Vamos falar delas mais adiante, quando chegarmos ao litoral norte.

Terceira Parada: Muralhas Romanas de Lugo, o Destaque do Interior Galego

Das rías, vamos para o interior, para conhecer Lugo. O nome da cidade vem do tempo de sua fundação pelo Império Romano, quando foi chamada de Lucus Augusti.

Suas muralhas do século III são as mais bem preservadas da Europa Ocidental e, por isso, consideradas Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

O mais legal é que seus dois quilômetros não são percorridos apenas pelos turistas que vão até lá.

Moradores caminham por ela nas suas rotinas diárias. O legado romano é parte da vida da comunidade lucense dos dias de hoje.

A muralha foi renovada ao longo desses quase dois milênios, mas cinco das dez portas da muralha são do período romano (as outras cinco foram abertas mais tarde).

E é possível subir em várias das 85 torres que existem ao longo do trajeto.

Ainda mais antigas são as termas romanas da cidade. Acredita-se que elas tenham sido construídas no ano 15.

Outro destaque de Lugo é o museu universitário, que tem um nome enigmático: A Domus do Mitreo.

Ele refere-se a dois prédios que foram encontrados em escavações nas últimas décadas, e onde o museu foi construído.

Domus é como eram chamadas as mansões romanas. Mitreo era o local onde os romanos cultuavam o deus Mitra, importante na sua cultura antes da adoção do cristianismo como religião oficial do império.

O museu universitário é um local interessante também para observar a muralha romana. As escavações possibilitam ver a estrutura da muralha no subsolo.

E, se você quiser ver mosaicos romanos do século III, faça uma visita ao Museu Provincial.

Uma boa época para conhecer o centro histórico de Lugo é outubro, quando acontecem as Fiestas de San Froilán, que são celebradas desde 1754.

O evento termina com uma feira medieval na praça da catedral e nas proximidades da muralha.

Se você ainda tem tempo disponível em Lugo, aproveite para visitar dois prédios nas redondezas da cidade: o Santuário de Santa Eulália de Bóveda e a Igreja de San Martín de Mondoñedo.

O Santuário, a apenas 14 quilômetros de Lugo, é um dos grandes mistérios arqueológicos da Espanha.

O prédio do século III, em bom estado de conservação, foi descoberto no começo do século XX.

Mas seu uso até hoje não foi identificado.

Já a Igreja de San Martín parece ter sido fundada no ano 560. Ela tem a fama de ser a catedral mais antiga da Espanha.

O prédio que vemos hoje, em estilo românico, é do século XI. Ele está a apenas 90 quilômetros de Lugo.

Quarta Parada: Litoral Norte, de A Coruña até Ribadeo

A parte do Oceano Atlântico que banha o norte da Espanha e o oeste da França é chamado de Mar Cantábrico.

Fonte: Tony Rotondas, GPL, via Wikimedia Commons

Duas das quatro províncias galegas tem praias nessa região: La Coruña e Lugo.

Como falei antes, essa região também tem algumas rías, todas elas bem menores do que as da costa oeste. Ao todo, e segundo o critério do jornal El Español, elas são dez ao todo.

Mas o grande destaque do litoral norte da Galícia é a Praia das Catedrais, considerada uma das mais bonitas da Espanha (se você ainda não viu a lista da National Geographic com as praias mais bonitas do país, clique aqui).

O motivo dessa praia estar na lista é que, quando a maré está baixa, aparecem entre as pedras vãos de até 30 metros de altura.

Mas a praia é linda com qualquer maré!

Visitá-la no inverno é mais fácil. Como a praia é muito pequena, no verão (julho a setembro) o acesso é restrito. É preciso reservar com antecedência (saiba mais aqui).

Mas há outras praias bonitas no litoral norte.

Não longe da Praia das Catedrais, em um trecho de apenas 15 quilômetros, você vai encontrar outras três praias lindas: Praia de Area Longa, Praia de Covas e Praia de Xilloi.

E, um pouco mais adiante, você encontra as duas praias urbanas mais visitadas da Galícia: Orzan e Riazon.

Elas ficam na cidade de La Coruña, capital da província, que tem 250 mil habitantes.

Essas duas praias ficam uma ao lado da outra, cobrindo os dois quilômetros de areia da Enseada de Orzán.

Estando em A Coruña, aproveite para conhecer a Torre de Hércules. É o único farol construído pelo Império Romano que continua em uso.

A ampliação feita no século XVIII preservou a parte central de quase dois mil anos. Esse é um dos motivos pelo qual ele foi classificado como Patrimônio da Humanidade.

Para saber mais sobre o farol e sobre a cidade, leia esse post do blog Nandicas de Viagem.

Espigueiros, um Símbolo da Galícia

Não posso terminar de falar sobre turismo na Galícia sem mencionar os espigueiros (hórreos, em espanhol).

Eles são estruturas de pedra feitas para secar milho e outros grãos.

Esse fica a poucos metros do Castelo de Soutomaior, um dos mais bonitos castelos medievais galegos (saiba como visitá-lo aqui).

Mas você vai ver espigueiros por toda a parte.

Essa é uma tradição galega de longa data. Por isso, eles não estão apenas na Espanha. Você vai encontrá-los também no norte de Portugal, naquela região que, até o século XII, foi parte da Galícia.

Pra saber a parte dessa história que se passa do outro lado da fronteira, leia o meu post Portugal ao Norte do Porto.