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New Orleans é tão conhecida pelo jazz, pelo Mardi Gras (carnaval) e pelos bares da Bourbon Street (aquela rua maluca que aparece nos filmes, com pessoas jogando colares de contas das sacadas), que a gente praticamente esquece de sua importância histórica.
Antes de virar a mais francesa das cidades norteamericanas, New Orleans foi espanhola, francesa (por isso o símbolo da cidade é a flor de lis), espanhola de novo (por um ano), britânica, francesa de novo.
Ela finalmente virou norteamericana quando Napoleão, em 1803, vendeu todo o território da Louisiana – essa faixa vermelha no meio do mapa, que hoje corresponde a 13 estados – por US$15 milhões.
Em valores de 2014, isso corresponderia a 729 milhoes de dolares. Aqui tem um post bem legal falando mais sobre isso.
E, embora Napoleão nunca tenha ido a New Orleans, lá tem até uma “casa de Napoleão” – isso porque o prefeito Girod disse que, após escapar da ilha de Elba, Napoleão poderia ser seu convidado naquela casa.
Origem
Fundada por franceses no século XVII, a cidade recebeu no século XVIII mais franceses, mas dessa vez os Acadianos (ou Cajuns), que já estavam no Canadá há algumas décadas. Durante as disputas entre França e Espanha, a aristocracia francesa e a nobreza espanhola se fundiram por meio de casamentos, dando início a uma nova cultura, chamada de Creola.
Quando os norteamericanos chegaram, depois de 1803, a sociedade Creola deixou claro que eles eram muito bem vindos – desde que se instalassem do outro lado da Canal Street. E, assim, New Orleans cresceu no começo do século XIX dividida: de um lado do canal, americana; de outro, creola.
Pra ver o lado americano dessa época, basta pegar um bondinho e caminhar pelo Garden District, onde os casarões da era pré-guerra civil estão até hoje.
A união dos dois lados da cidade se deu pela existência de um inimigo comum, a Grã-Bretanha. Durante a segunda guerra de independência (1812-1815) aconteceu a Batalha de New Orleans. O general Andrew Jackson convocou voluntários para lutar pela independência dos Estados Unidos, e moradores dos dois lados da cidade se alistaram.
Não apenas isso: também um dos piratas mais famosos daquela região, Jean Lafitte, voltou-se contra os britânicos e forneceu canhões e munição para os soldados americanos.
Depois disso, a cidade floresceu, graças ao algodão produzido por escravos. Paradoxalmente, a região era uma das em que mais havia “homens e mulheres de cor livres”.
A miscigenação crescia, ainda mais com a chegada de imigrantes alemães e irlandenses, que cresceu muito nesse período.
Os italianos chegaram em 1880, depois da guerra civil e já numa época sem mão de obra escrava. Cresce o jogo e a prostituição. Surge o jazz. O porto no rio Mississipi torna-se um dos mais importantes dos Estados Unidos. Tudo isso faz de New Orleans uma cidade com uma cultura única e uma aura fascinante.
A região mais turística é o French Quarter. É lá que fica a Bourbon Street, com os bares, sacadas e colares de contas. O melhor horário para circular por lá é cedo, de tarde ainda. Nesse horário o lugar é super família: pais, filhos e avós circulam pelas ruas. E, com sorte, dá pra ver um casamento com “Second Line Parade“.
Durante o dia dá pra caminhar por tudo, ver os tipos estranhos, tomar as bebidinhas diferentes – e se livrar dos esquisitos e bêbados, que é só quem sobra na rua a partir da meia noite.
A partir desse horário, o melhor a fazer é entrar nos bares. São muitos, de vários estilos, e, como não se paga para entrar, dá pra ficar um pouquinho em cada um, sem problema.
Um sábado qualquer na Bourbon Street
Começamos o dia com um brunch no Cafe Rose Nicaud, muito tranquilo e agradável naquele horário. E como já era 14h, saímos dali direto para o primeiro bar.
Foto: FreeImages/KiraButler
Começamos pelo Lafitte’s Blacksmith, onde tomamos um Voodoo Daiquiri, drink fantástico! Lá conhecemos uma turma de americanos, com quem andamos pela cidade nas horas seguintes.
Com essa turma, entrei pela primeira vez na vida numa casa de strip-tease. Quer saber o pior? Era super família!!! Bem aquela coisa de seriado: pole dance, umas pessoas na volta do palco colocando dinheiro na lingerie da dançarina (que ficava de lingerie o tempo inteiro) e, pra completar, ficamos “amigas” de uma delas! Que nos disse que adorava o trabalho, era só ir ali e dançar, e ganhava um bom dinheiro. Detalhe: todas juram que não fazem programa – e que o negócio delas é sustentar a família sendo dançarina mesmo. Vai saber…
A parada seguinte foi no Pat O’brien’s, um dos bares mais populares da cidade. Como era fim de tarde, ficamos no pátio, super agradável, enquanto provávamos o famoso drink Hurricane. À noite, bem mais tarde, voltamos, e aí ficamos lá dentro onde estavam tocando um jazz bem bom.
O que, pra mim, significa que tem alguém cantando (não gosto quando o jazz é só instrumental), de preferência com pianistas interagindo com o público, no melhor estilo Casablanca. E em New Orleans tem muito disso.
Em seguida descobrimos o Fritzel’s, onde ficamos por uma boa hora. E de lá fomos para o The Spotted Cat, minúsculo, onde as pessoas ficam todas em pé na beira do palco, cantando os clássicos do jazz como se estivessem em um show de rock. Só estando lá pra entender a animação daquele lugar.
Além desses 4, meus bares preferidos em New Orleans, entramos em uns outros dez, onde não ficamos mais de 15 minutos. E isso valeu muito a pena também, porque cada um tem seu estilo, seu som, sua gente… para os curiosos pelo ser humano, como eu, é simplesmente imperdível!
Acabamos a noite às seis da manhã, de volta no Lafitte’s Blacksmith, sentadas ao redor do piano de cauda, no melhor estilo fim de noite. Único! Fantástico!
Vivenciando a cidade
Tivemos um dia para conhecer o resto da cidade. Começamos com o clássico beignet (tipo um bolinho de chuva) no café da manhã. Preferimos ir no charmoso Cafe Beignet ao invés de ir no super turístico Cafe du Monde, onde só demos uma paradinha mais tarde pra tomar um suco.
Para ver as mansões fomos ao Garden District de bondinho, mas o ideal seria fazer um passeio nos arredores da cidade e ver as River Road Old Plantations – casas do tipo “E o Vento Levou”.
Oak Alley Plantation. Foto: plantationadventure.com
Para provar a comida cajun / creole, almoçamos no Monty’s on the Square. Achei muito apimentada e gordurosa, mas, enfim, provei. Para relaxar, sentamos à beira do rio Mississipi. Não fizemos o passeio de barco porque todo mundo nos disse que era roubada. É uma região industrial, nenhuma vista bonita.
Mardi Gras
New Orleans tem tradição de Carnaval, o Mardi Gras. Como era fora de época, o melhor que podíamos fazer era tentar achar os barracões onde eles preparam e guardam os carros e fantasias utilizadas no desfile. Mas, no fim, não encontramos.
Nao é o carnaval da Sapucaí (que eu adoro), mas, estando por lá na época de carnaval, acho que vale a pena descobrir o lugar dos desfiles e ir atrás. Eles nunca são na Bourbon Street, porque ela é pequena demais para isso, mas alguns “blocos” circulam por lá.
Voodoo
Pra terminar o passeio com algo bastante único, compre um boneco voodoo, é uma das maiores tradições da cidade. Se tiver mais interesse no assunto, visite o Voodoo Temple. O voodoo, prática religiosa e/ou espiritual, originária da África, foi parar em New Orleans junto com os escravos que vinham das ilhas do Caribe.
Numa cidade em que tantas culturas viviam em harmonia, foi fácil manter a prática, que se estende até hoje. Um encerramento único para um passeio numa cidade sem igual.