Conhecer a capital da Eslovênia é fácil para quem está viajando pela Croácia ou norte da Itália. Ela fica a apenas 100 km da cidade italiana de Trieste. E, quem está na capital da Croácia, Zagrebe, pode chegar de carro em Liubliana em apenas uma hora e meia.
Mas por que ir até Liubliana?
Há pelo menos três motivos: descansar e comer bem em uma cidade encantadora, apreciar a arquitetura e a obra dos escultores eslovenos que decoram as ruas e espaços públicos, ou, ainda, usar a cidade como base para explorar o resto do país, cheio de belezas naturais (sobre as quais já falei no post Na Europa como os Europeus: Férias na Eslovênia).
Mas o que faz de Liubliana uma cidade encantadora?
Pra começar, sua arquitetura, que lembra muito a de Viena. Depois, o excelente aproveitamento do rio que cruza a cidade: suas margens são cheias de restaurantes e as pontes que o cruzam são repletas de esculturas de artistas eslovenos.
Pra completa, o charme do castelo medieval no alto de um morro, que pode ser visto de qualquer lugar da cidade e onde você chega a pé em apenas dez minutos.

É sobre como explorar essa capital europeia fofa, de apenas 300 mil habitantes, que a gente vai falar nesse post.
Pequena História de Liubliana
Acredita-se que o primeiro assentamento na região onde hoje fica a capital da Eslovênia tenha aparecido no século X A.C..
Mil anos depois, os romanos, no seu caminho para a ocupação dos Balcãs, fundaram uma cidade praticamente ao lado dessa primeira vila.
A cidade romana foi chamada de Emona, e seus vestígios ainda podem ser vistos em Liubliana (eu falo sobre onde vê-los em seguida).
Emona foi enfraquecendo à medida que o império romano ia fragmentando-se. Muitos povos “bárbaros“, em seu caminho para Roma e o resto da Europa Ocidental, passaram pela cidade: os visigodos no ano 408, os hunos em 452, os lombardos em 568.
Acredita-se que os últimos habitantes de Emona tenham abandonado a cidade no final do século VI. A cidade romana só seria redescoberta por arqueológos no século XIX.
Novos registros sobre uma cidade no local, chamada Laibach (palavra em alemão para Liubliana até hoje), surgiram a partir do ano 1144.
Os habitantes da nova cidade eram eslavos, e as terras em que eles estavam vivendo eram propriedade da família Spanheim (nobres do Sacro Império Romano Germânico).
Havia três areas principais na Liubliana do século XIII (quando ela ganhou status de cidade), cada uma protegida por seus próprios muros. Elas eram “a cidade” (Mesto), a praça antiga (Stari trg) e a praça nova (Novi trg).
Hoje elas estão complementamente integradas e formam o centro histórico da capital eslovena.
Protegendo a cidade, no alto de um morro, havia uma fortaleza.
As terras, com cidade, população e tudo, passaram das mãos da família Spanheim para a família Habsburgo, que, sob vários formatos, manteve o controle sobre a região até 1918.
O grande desenvolvimento populacional da cidade ocorreu no século XX, quando ela foi de 36 mil habitantes (em 1900) para 267 mil habitantes (no ano 2002).
Quando a Eslovênia tornou-se um país independente, em 1991, Liubliana passou a ser sua capital. Ela é, de longe, a maior cidade do país: a segunda maior, Maribor, tem apenas cem mil habitantes.
Como maior e mais importante cidade da Eslovênia, é natural que Liubliana seja sua capital cultural.
O centro da cidade é cheio de obras dos maiores artistas do país, como o arquiteto Josef Plečnik e o escultor Jakov Brdar.
E a fortaleza no alto do morro é hoje um centro de eventos, que abriga exposições e festivais de música e cinema, entre outras artes.
É sobre como explorar essa cidade fofa que vamos falar daqui para a frente.
Primeiro, vou te levar para um passeio pela margem do rio Liublianica, da Ponte do Dragão (Zmajski most) à Ponte de Santiago (Šentjakobski most). Essa é a cidade medieval.
Depois, vamos subir até o castelo. Vou te contar sobre como a prefeitura da cidade transformou o antigo prédio em um animado centro cultural.
Para terminar, vamos cruzar para a outra margem do rio e explorar um pouco a cidade romana, Emona, e a parte nova da cidade.
A Cidade Medieval na Margem do Rio Liublianica
O centro histórico de Liubliana é uma graça. Nele, há prédios de diferentes épocas e estilos, nas duas margens do rio Liublianica.
E quanto a gente olha para o alto, enxerga o castelo medieval no alto do morro.
A melhor referência para explorar essa parte da cidade são as pontes que cruzam o rio. Ao todo, Liubliana tem mais de vinte. Vamos fazer um trajeto de 800 metros onde encontram-se as seis mais centrais.
No nosso caminho da Ponte do Dragão (Zmajski most) até a Ponte de Santiago (Šentjakobski most), vamos passar por outras quatro pontes: Mesarski most (ponte dos Açougueiros), Tromostovje (ponte Tripla), Ribja brv (Ponte do Peixe) e Šuštarski most (ponte do Sapateiro).
Nas margens, há duas áreas de bares e restaurantes: mais ao norte, a Petkovškovo nabrežje; e, mais ao sul, a Cankarjevo nabrežje.
O rio em si é considerado uma rua navegável: há varias embarcações fazendo esse trajeto. Se você gosta de passeio de barco, aqui você pode encontrar mais informações.
Ponte do Dragão (Zmajski most): o Mascote de Liubliana
O dragão é o símbolo da cidade, e aparece no seu brasão.
O motivo? Há várias versões. A mais popular delas é que Liubliana teria sido fundada por um herói da mitologia grega, Jasão.
No seu caminho para casa, depois de ter recuperado o “velo de ouro” (uma pele de carneiro com pelos de ouro), Jasão e os Argonautas (seus companheiros, que viajaram com ele no navio chamado Argo) teriam passado pelo pântano onde é hoje Liubliana e fundado a cidade após terem derrotado um monstro (o tal dragão).
Outra possível explicação para o dragão ter virado símbolo da cidade é o fato de que a capela do castelo, uma de suas partes mais antigas, tenha sido consagrada, em 1489, a São Jorge – aquele que matou um dragão que apareceu no meio de um pântano.
O dragão virou símbolo de Liubliana e mascote da cidade. Ele pode ser visto em estátuas, souvenir, bandeiras e múltiplos eventos.
Um dos principais é o carnaval do dragão, uma celebração das antigas tradições eslavas, que acontece todos os anos, em fevereiro.
Falando em eventos de rua, Liubliana tem outro evento famoso desse tipo em novembro: a Rota do Vinho de Liubliana. Em um dia específico, expositores de várias vinícolas eslovenas montam stands no centro histórico. É um grande evento de degustação, que já é tradição na cidade.
Mas voltemos à ponte do Dragão. Estando lá, você tem duas opções: seguir pelo rio, passando pelo Mercado Central, ou virar em direção ao castelo.

Se você virar em direção ao castelo, logo chega à praça da Rachadura (Krekov trg).
Ali fica o Teatro de Fantoches (Lutkovno gledališče) e, logo depois dele, você encontra três opções de caminho para ir até o castelo.
Primeiro você vai enxergar a Trilha dos Fantoches (Lutkarska pot), uma escadaria por onde você chega ao castelo em dez minutos.
Depois você vai ver a entrada do teleférico, que é a forma mais fácil de subir até o castelo.
E, atrás da entrada do teleférico, tem uma rua estreitinha, chamada Študentovska. A rua vira uma trilha, que também te leva até lá em cima.
Mais adiante eu vou te falar sobre outras duas trilhas por onde você pode ir a pé até o castelo e sobre o castelo em si. Por enquanto, vamos continuar nosso passeio pela cidade medieval.
Do Teatro de Fantoches você pode retornar para a margem do rio por um caminho diferente: passando pela catedral de Liubliana (igreja de São Nicolau).
Esse é um dos três locais onde a cidade medieval começou. Sabe-se que já existia uma igreja nesse local no ano 1262. Aquela primeira igreja foi destruída, reconstruída e reformada várias vezes ao longo do tempo. O prédio que vemos hoje é do século XVIII.
O que mais me chamou a atenção na parte exterior da igreja foi essa porta.

Achei a imagem curiosíssima e não consegui encontrar nenhuma explicação confiável sobre seu significado. Se você descobrir mais sobre ela, me conta!
Ponte dos Açougueiros (Mesarski most): Esculturas de Jakov Brdar
Chegando de volta ao rio, você provavelmente vai se encontrar entre a Ponte dos Açougueiros (Mesarski most) e a ponte Tripla (Tromostovje).
Vale a pena voltar até a ponte dos Açougueiros, construída em 2010 para trânsito de pedestres.
Nela, você vai encontrar várias esculturas de um dos mais populares artistas eslovenos, Jakov Brdar.
As grandes representam Adão e Eva e mitos gregos, e, entre as pequenas, destacam-se os sapos que parecem piranhas. As esculturas são no mínimo estranhas (imagens aqui).
Você pode saber mais sobre o artista, que também teve suas esculturas expostas em países como Alemanha, Itália e Croácia, no site do fotógrafo Alessio Franconi.
Ponte Tripla (Tromostovje): France Prešeren, o Maior Poeta Esloveno
Continuando a caminhada pelo outro lado do rio, você vai passar por vários restaurantes com mesinha na rua (área chamada de Petkovškovo nabrežje).

Até chegar à ponte seguinte: a Ponte Tripla (Tromostovje).
Ela tem esse nome por motivos óbvios: são três pontes uma do lado da outra, uma mais larga ao centro e outras duas mais estreitas nas suas laterais.

A praça que fica bem na frente da ponte, mas na margem oposta ao castelo, é a Prešeren (Prešernov trg).
O nome é uma homenagem ao maior poeta do idioma esloveno, France Prešeren (1800-1849), e na praça há uma estátua dele.
Uma prova de sua importância no país é o fato de que a letra do hino da Eslovênia é uma parte de um poema seu, chamado “Um Brinde” (Zdravljica).
Sua musa era Julija Primic, a quem ele dedicou vários poemas de amor. Contam que, de uma área na rua onde ele encontrava os amigos, ele via a moça em sua janela, no palácio localizado no número 4 da rua Wolfova.
Em homenagem a esse amor não realizado, uma pequena estátua de Julija foi colocada sobre a porta do palácio da rua Wolfova. Ela foi estrategicamente posicionada para parecer que, de sua janela, a moça olha para a estátua do poeta na praça. Fofinho, não?
Na praça Prešeren você vai ver também um prédio bonito, cor de rosa, construído no século XVII. É a igreja da Anunciação.

Ela também é conhecida como igreja Franciscana, por isso, às vezes, as pessoas referem-se à ponte Tripla como ponte Franciscana.
Os outros prédios dessa área são palácios do começo do século XX, hoje transformados em lojas ou prédios públicos.
A praça Prešeren é um importante ponto de referência para quem está fazendo turismo na cidade: nela começam a maioria dos passeios guiados por Liubliana, e, do outro lado da ponte, fica o centro de informações turísticas.
Cruzando a ponte e indo além do centro de informações turísticas, você chega na Praça da Cidade (Mestni trg), onde fica a prefeitura. Essa é nossa segunda área da cidade medieval.

Se preferir continuar caminhando pela margem do rio, você estará andando por uma das áreas mais animadas da cidade, a Cankarjevo nabrežje.
Esse trecho na beira do rio, que começa na ponte Tripla (Tromostovje) e estende-se até a Ponte dos Sapateiros (Šuštarski most), é cheio de bares e restaurantes, incluindo alguns dos mais sofisticados da cidade.

Ponte do Peixe (Ribja brv): Mais Esculturas de Jakov Brdar
No meio do caminho tem uma ponte estreitinha, apenas para pedestres, a Ponte do Peixe (Ribja brv). Embaixo dela tem um bar, o Makalonka, com mesas bem na beirinha do rio.

Voltando para a margem mais próxima ao castelo e seguindo pela beira do rio, você vai ver uma rua pequenininha, a Rua dos Chaveiros (Ključavničarska ulica).
Vale a pena entrar nela para observar outras esculturas estranhas de Jakov Brdar. Olhando para o chão, você vai ver um caminho formado por cerca de 700 rostos em miniatura, com as expressões mais diversas.
O caminho termina em uma pequena fonte e várias outras esculturas estranhas ao seu redor. Você pode ver fotos dessa instalação, inspirada em um poema de Rainer Maria Rilke, nesse artigo do Atlas Obscura.
Ponte dos Sapateiros (Šuštarski most): uma das Obras do Arquiteto Jože Plečnik
A ponte é moderna, mas substitui uma ponte que já existia pelo menos desde o século XIII e que facilitava o acesso entre duas das áreas mais importantes da cidade naquela época: a Praça da Cidade (Mestni trg) e a Praça Nova (Novi trg).
A versão atual é do arquiteto Jože Plečnik (1872 – 1957), que, depois de trabalhar em Viena e Praga, voltou para sua terra natal, em 1921, para ensinar arquitetura e renovar a cidade.
Ele liderou a recuperação de vários prédios e áreas públicas antigos, assim como a construção de outros tantos novos.
Para conhecer mais sobre a obra desse arquiteto, que inclui a Ponte Tripla e o Mercado Central, confira esse roteiro arquitetônico de Liubliana.

O trabalho de Plečnik em Liubliana foi possível, em grande parte, graças ao político a quem é atribuída a reconstrução da cidade após um terremoto em 1895: Ivan Hribar. Você vai passar por uma estátua dele no caminho entre a Ponte do Sapateiro e a Ponte de Santiago.
Prefeito de Liubliana (1896-1910) e membro da Assembleia Nacional do Império Austríaco (1907-1911), Ivan foi também um dos nomes importantes do movimento pan-eslavo.
Foi ele quem atraiu não apenas Plečnik, como também vários outros arquitetos e artistas eslovenos que estavam vivendo em cidades como Viena e Praga, para transformar Liubliana em uma cidade moderna, digna de ser a capital de todos os eslovenos.
Ivan, que foi também senador do Reino da Iugoslávia (1932-1938), era considerado por seus contemporâneos um dos grandes patriotas eslovenos.
Essa percepção fortaleceu-se após sua morte trágica: quando a Itália ocupou a Eslovênia durante a II Guerra Mundial, ele preferiu suicidar-se do que aceitar o cargo de prefeito de Liubliana sob às ordens do invasor.
Aos 89 anos, ele se jogou no rio Liubliana enrolado na bandeira iugoslava. Em sua carta de despedida, deixou as frases do poeta Prešeren: “É menos assustadora a longa noite do fim da vida do que a vida na terra sob o opressor”.
Entre a Ponte dos Sapateiros (Šuštarski most) e a Ponte de Santiago (Šentjakobski most): a “Praça” Antiga (Stari trg)
Voltando para a margem do rio que fica do lado ao castelo, chegamos logo à Stari trg, a terceira área da cidade medieval. Foi essa região, onde acontecia regularmente uma feira, a que ganhou status de cidade no ano 1220.
O nome é de praça (trg em esloveno), mas a Stari trg é uma rua que acaba em uma área mais ampla onde tem uma estátua de Hércules enfrentando um leão.
A Stari trg continua sendo super central em Liubliana. E ali ficam muitos dos prédios medievais que resistiram ao terremoto que destruiu 10% da cidade no ano 1895. Muitos deles são hoje lojas, bares e restaurantes.
Chegando na “praça” você vai ver a fonte com a estátua de Hércules. Ela é uma cópia finalizada em 1991 de um original barroco do século XVII, esculpido por Johannes Komersteiner. O original pode ser visto na prefeitura da cidade.
O prédio bem atrás da fonte, no número 34, é o destaque da rua. Trata-se de uma mansão barroca do ano 1630. Hoje ela é a sede da Academia de Música da Cidade (parte da Universidade de Liubliana).
Uma das minúsculas transversais da Stari trg, a ruela Reber, é um dos caminhos possíveis para ir a pé até nosso próximo destino.
O Castelo de Liubliana
Seguindo pela escadaria da rua Reber, você vai chegar numa rua em curva (encontro das ruas Posojna e na Grad). Do lado da Posojna você vai ver uma trilha, chamada Mačja steza. Ela te leva até o castelo.
Outra opção é continuar um pouquinho mais pela rua Posojna e pegar a trilha seguinte, chamada Osojna steza. Todos os caminhos levam ao castelo de Liubliana 😉
E, chegando lá, você pode ter a sorte de ver um pôr-do-sol lindo, num ambiente super agradável!

O castelo de Liubliana é hoje uma das 11 instituições culturais públicas da cidade, e lá acontecem centenas de eventos culturais todos os anos.
Alguns dos mais importantes são o festival de cinema ao ar livre “Sob as Estrelas” (todos os anos em julho) e o “Clube de Jazz do Castelo” (música ao vivo todas as sextas-feiras de setembro a abril).
O castelo que vemos hoje é muito diferente daquele das descrições do século XII. Sabemos que, no século XV, foram feitas várias alterações que modificaram completamente a arquitetura da fortaleza original.
Em 1489 foi finalizada a capela de São Jorge, a parte mais antiga do edifício atual. No teto da capela estão registrados os nomes de todos os proprietários que fizeram alterações no castelo a partir de então.
As áreas novas, construídas principalmente nos séculos XVI e XVII, incluem apartamentos residenciais. Mas, a partir do final do século XVII, o castelo perdeu sua função de moradia: ele passou a ser utilizado para fins militares e como penitenciária. E foi assim até o começo do século XX.
Foi em 1905 que o prefeito Ivan Hribar, aquele que mais tarde se suicidaria enrolado na bandeira do país, decidiu restaurar o castelo e fazer dele um centro cultural.
Mas as guerras do século XX e a necessidade de usar o prédio para resolver um problema de falta de moradia na cidade atrasaram os planos. Apenas em 1964 começaram as reformas.
Na década de 1990, o espaço finalmente começou a ser usado para a realização de eventos. A abertura do funicular em 2006 facilitou o acesso ao castelo, que é hoje um símbolo da cidade.
Vale a pena ir até lá em cima apenas para apreciar a vista e ver o pôr-do-sol. Se você tiver mais tempo, aproveite para ver uma das exposições, participar de um dos eventos, experimentar um dos restaurantes ou, simplesmente, explorar o prédio com uma visita guiada.
Entre o Rio Liublianica e o Parque Tivoli
Mas o castelo de Liubliana não é o único destino para quem quer explorar a rica vida cultural da cidade. Um dos destaques nessa área é a instituição Festival Liubliana.
Essa organização surgiu para realizar um evento em 1953, com o objetivo de atrair turistas para a cidade. Aquele primeiro festival (hoje conhecido como Festival de Verão) deu tão certo que, em 2023, aconteceu sua 71º edição.
O sucesso fez com que a instituição passasse a organizar outros eventos, alguns esporádicos, outros regulares. Isso garante agenda cheia na cidade o ano inteiro. A agenda completa pode ser encontrada aqui.
Centro Cultural Križanke (antigo Mosteiro de Santa Cruz)
A maioria dos eventos organizados pela associação Festival Liubliana acontece em Križanke. Hoje uma grande área de eventos, a área é, na verdade, um complexo medieval. Essa área, chamada Novi trg, era o terceiro núcleo da cidade do século XII.
Foram os Cavaleiros Templários que construíram uma primeira igreja no local, no final do século XII. Quando eles abandonaram a cidade, algumas décadas depois, cavaleiros da Ordem Teutônica, outro grupo militar religioso, passou a ocupar o espaço.
Foi nessa época que o complexo passou a ser chamado de Križanke (em português você vai ver referências a ele como “Mosteiro de Santa Cruz”). O motivo do nome é que os cavaleiros teutônicos eram conhecidos em esloveno como križniki, que significa “aquele que carrega a cruz”.
Além da igreja, o complexo contava também com um monastério e um orfanato. A estrutura original foi destruída por um terremoto no ano 1511, por isso, a que vemos hoje, é um pouco mais nova (finalizada em 1567). A igreja em estico Barroco-Veneziano foi adicionada no século XVIII.
A Ordem dos Cavaleiros Teutônicos foi a proprietária do complexo até o final da II Guerra Mundial. Todo o conjunto foi então nacionalizado, pela mesma época em que a organização Festival Liubliana estava começando a operar.
Por sugestão do maior arquiteto esloveno, Jože Plečnik (do qual já falamos antes), o prédio foi alterado para tornar-se um centro cultural. Plečnik, já com 80 anos, foi um dos arquitetos a trabalhar no projeto (que seria a sua última grande obra).
Nessa mesma área da cidade fica a maioria dos prédios da Universidade de Liubliana. O que faz dessa região, especialmente os arredores da Borštnikov trg, uma boa opção para comer bem e barato.
Vestígios da Cidade Romana
Essa também é a região onde se encontrava Emona, a cidade romana abandonada no século VI.
Os 5 melhores locais para explorar essa época em Liubliana são a Casa Emona, os muros romanos, um centro cristão, o Museu da Cidade e a praça do Congresso (Kongresni trg).
Você pode começar pela rua Mirje, número 4. Lá fica a Casa Emona, um prédio residencial de cerca de 500 metros quadrados que foi habitado do século I ao século V.
Na mesma rua, um pouco mais adiante, você vai encontrar vestígios dos muros romanos, com mais de dois mil anos.
Um pouco mais adiante, na rua Erjavčeva cesta 18, foi encontrado um antigo centro cristão, com capela e batistério do século IV, que também pode ser visitado.
Os objetos encontrados nessa área toda estão expostos no Museu da Cidade (Mestni muzej), pertinho dali. Durante o verão, o museu também organizada uma visita guiada a esses sítios arqueológicos romanos.
No museu ainda podem ser vistos objetos encontrados em escavações recentes de uma necrópole romana (embaixo da rua Gosposvetska).
Alguns dos achados mais admirados são uma tigela de vidro azul com insrições em grego e um conjunto de jóias de ouro encontradas junto ao corpo de uma menina.
Uma curiosidade sobre o Museu da Cidade: o prédio onde ele fica é o palácio medieval dos Condes de Auersperg, uma das famílias nobres mais importantes da Carniola. O prédio foi renovado em estilo barroco no século XIX e comprado pela prefeitura da cidade no século XX.
Para terminar nossa exploração da cidade romana, caminhando até a Praça do Congresso (Kongresni trg), você vai encontrar uma cópia da estátua conhecida como “Cidadão de Emona” (séc. II), de cerca de 1,5 metros de altura.
A estátua original, hoje exposta no Museu Nacional da Eslovênia, foi encontrada em escavações perto da praça, no ano 1836.
Estando nessa região, você pode aproveitar ainda subir no Arranha-Céu (em esloveno: Ncebotičnik), prédio construído em 1933 e que foi o mais alto dos Balcãs no período de sua construção.
Ele tem vistas para toda a cidade, incluindo o castelo. Lugar perfeito para um café ou coquetel.
E, quem gosta de arquitetura, tem que passar na frente da Casa Vurnik, considerado por muitos o prédio mais bonito de Liubliana.
Ele é um projeto dos arquitetos Ivan e Helena Vurnik para um banco, em estilo “Rompimento Vienense” (Vienna Secession), que faz parte do movimento que ficou conhecido como Art Noveau.
Liubliana Alternativa
Pra quem quer explorar o lado underground da Europa, Liubliana é um achado e tanto.
Da Casa Vurnik você está a pouco mais de um quilômetro de Metelkova, um antigo campo militar que foi abandonado quando o país tornou-se independente (1991).
Embora eu tenha lido algumas pessoas comparando Metelkova a Christiania, a “comunidade livre” de Copenhagem (sobre a qual já falei aqui), acho que a comparação é um pouco exagerada. Mas é fácil entender: as duas foram ocupadas ilegalmente por grupos de artistas que transformaram o local radicalmente.
Metelkova foi ocupada por um grupo de cerca de 200 artistas que, na época, buscava lugar para viver e trabalhar. Eles tentaram negociar a ocupação do local abandonado com a prefeitura da cidade. As negociações não avançaram, mas eles ocuparam Metelkova mesmo assim.
Os novos moradores passaram a referir-se ao bairro como um “centro cultural autônomo“. Lá você vai muita street art (graffiti) nos prédios, da melhor e da pior qualidade.
Há também vários bares e clubes noturnos, com apresentações de DJs locais e internacionais da cena alternativa. É underground e, sim, você provavelmente vai ver pessoas usando drogas por lá (especialmente à noite).
É seguro andar por Metelkova (pelo menos de dia). Se vale a pena ou não visitar, realmente depende do tipo de turista que você é. Parece seguro: aqui tem um post ótimo de uma turista mulher que foi até o bairro sozinha.
A relação de Metelkova com as instituições públicas é ambígua, mas parece que a cidade decidiu não remar contra a maré: a associação Castelo de Liubliana, por solicitação da prefeitura, administra desde 2018 o hostel Celica, que opera em uma antiga prisão no bairro. E vem divulgando o hostel (lindinho) e o próprio Metelkova em sua comunicação cultural e turística.
Mergulho na Natureza: Parque Tivoli
Vamos terminar nosso passeio no parque Tivoli, a principal área verde da capital eslovena. Ele fica a apenas um quilômetro do rio Liubianica, super acessível pra quem está visitando a cidade.
O Tivoli é um parque relativamente pequeno, com 5 km², mas encantador. Ele tem muitas áreas verdes e dois lagos artificiais. Além disso, tem várias quadras de esporte e uma calçada entre as duas mansões que deram origem ao parque.
A mansão Cekin (séc. XVIII) abriga o Museu Nacional de História Contemporânea. É possível agendar visitas guiadas em inglês, italiano e alemão.
Já a mansão Tivoli (séc. XVII) foi transformada no Museu Internacional de Artes Gráficas, que, além de exposições, promove vários cursos e atividades ao ar livre.
O Tivoli é porta de entrada para as florestas que cercam Liubliana. O conjunto é chamado “Parque Paisagístico Tivoli e Montanhas Rožnik e Šiška” e tem 459 hectares (cerca de 30% maior do que o Central Park de Nova Iorque).
Enquanto o parque é o lugar ideal para quem quer o convivío com outras pessoas, as trilhas na floresta são perfeitas para quem quer sossego.
Bem atrás da Mansão Tivoli (às vezes também chamada de Castelo Tivoli) começa a trilha Jesenko, que tem cerca de três quilômetros.
Outra área com muitas trilhas é Mostec, uma região pantanosa ao redor da colina Debeli (Debeli hrib). Ali tem um centro de lazer, e, pertinho, uma pista de salto de esqui. Poucos turistas vão até lá, então você tem grandes chances de interagir com moradores da cidade.
Encerrando nosso passeio, vamos falar de uma trilha bem mais longa. Ela passa pelo parque (você pode começar seu passeio lá, mas estende-se por mais de 32 quilômetros.
Trata-se da Trilha da Memória e Camaradagem, uma trilha circular pelo caminho por onde passava uma cerca de arame farpado que rodeava a cidade durante a Segunda Guerra Mundial.
A trilha é hoje é um espaço para esportes, mas, também, parte do trajeto de muitos habitantes da cidade na suas rotinas do dia-a-dia. Esse post publicado no Exposure tem fotos lindas dessa trilha!