Como fã de história, sempre vi muitas referências aos “bárbaros” e nunca ficou realmente claro pra mim quem exatamente eles eram.
Tantos povos tão diferentes, vivendo em épocas tão distintas… Celtas, vikings, povos germânicos, mongóis… todos chamados de bárbaros. Mas, afinal, o que eles tinham em comum?
Até que li Contra a Maré, uma História dos Primeiros Estados (Against the Grain, a deep history of the earliest states), de James C. Scott.
Para o autor, a definição é clara: bárbaros é um termo criado pelos Estados para referirem-se aos povos que viviam fora do controle dos Estados.
Por Estado, ele entende a estrutura administrativa (rei, coletores de impostos, escribas) que surgiu cerca de 5 mil anos atrás nas socidades agrárias que cultivavam grãos. E que, com o passar do tempo, evoluiu para o que conhecemos hoje.
Essa definição de bárbaros fez muito sentido pra mim, e decidi, finalmente, escrever um post sobre o assunto.
Nele vou te contar sobre a visão de Scott sobre os benefícios de ser “bárbaro” em relação a ser “civilizado” e de que maneira o desenvolvimento das civilizações dependia da existência dos bárbaros.
Para finalizar, vou contar um pouquinho sobre os bárbaros mais famosos, dos “Povos do Mar” aos Vikings e Mongóis, passando pelas tribos Germânicas.
Civilizados versus Bárbaros
A definição mais conhecida da palavra bárbaro é “grosseiro, inculto, rude”. E é essa ideia que nos vêm à cabeça quando lemos algo sobre povos bárbaros.
Já o termo civilização, segundo o dicionário Oxford, significa “um estágio de desenvolvimento social, cultural e organizacional que é considerado mais avançado”.
Em Against the Grain, James C. Scott nos desafia a pensar de uma outra forma.
Do sedentarismo às civilizações
A história nos conta que o homem pré-histórico, caçador-coletor, aprendeu a plantar. Isso teria possibilitado que ele abandonasse a vida nômade e se tornasse sedentário.
Sua alimentação melhorou, as populações cresceram, cidades foram fundadas, a cultura se desenvolveu e surgiram as primeiras civilizações.
Tudo como um contínuo, um processo claro de evolução.
Scott começa questionando isso.
Primeiro ele diz que há indícios de vida sedentária (12.000 A.C.) muito anteriores aos primeiros vestígios de agricultura e domesticação de animais (9.000 A.C.).
E, depois, que há um espaço de 6.000 anos entre a domesticação de plantas e animais e os primeiros indícios da existência de cidades muradas e escrita (3.000 A.C.), indicativos da existência de uma “civilização”.
Sua tese é de que, embora soubesse plantar, o homem primitivo não via benefício nisso.
Afinal, a natureza lhe fornecia alimentos em abundância. Caçar e coletar frutas e vegetais era muito mais fácil do que plantar.
Apenas uma mudança radical no ambiente, como alterações climáticas, explicaria por que a agricultura teria se tornado a principal fonte de alimentação em algumas regiões.
Embora a agricultura tenha se desenvolvido simultaneamente em várias regiões do planeta, foi na Mesopotâmia que, acredita-se, surgiram os primeiros Estados.
Scott desconfia que a localização não foi por acaso. Ele acha que os primeiros Estados surgiram como consequência da combinação de dois fatores: o tipo de cultivo e uma nova mudança climática.
A Mesopotâmia, uma área entre os rios Tigre e Eufrates, era favorável ao cultivo de cereais.
Cereais precisam ser colhidos em uma época exata e podem ser armazenados de um ano para o outro. Também são fáceis de ser medidos e, por isso, facilmente utilizados como moeda de troca.
Estudos arqueológicos indicam que a taxa de crescimento populacional nesses grupos que cultivavam cereais também era maior, o que aumentava a densidade populacional nessas regiões.
Isso ainda não explica, entretanto, por que essas populações submeter-se-iam ao controle de um Estado.
O autor imagina que foi um período de seca na região, entre 3.500 e 2.500 A.C., que criou as condições para o surgimento dos primeiros Estados.
Com o recuo das águas, a população concentrou-se nas áreas mais férteis (agora reduzidas). O plantio passou a depender mais e mais de irrigação.
Construir canais, um trabalho muito árduo, dependia da obtenção de escravos.
Isso criou condições para o surgimento de uma elite que, em troca de parte da produção de grãos, capturava escravos e utilizava essa mão de obra para a construção de canais.
Essa elite passou a coletar em impostos mais do que precisava para a construção dos canais. O excedente possibilitou a construção de templos e palácios.
Para administrar a coleta de impostos, surgiram as primeiras formas de escrita.
Em relação aos muros que cercavam as primeiras cidades, o autor levanta a hipótese de que, talvez, elas não fossem apenas para manter os inimigos do lado de fora, mas, também, para manter os “cidadãos” do lado de dentro.
O autor chega a essa conclusão ao analisar o uso do termo “colapso das civilizações”.
Na prática, isso significa que, em determinado momento, cessaram os registros arquitetônicos ou escritos de uma certa população.
Para Scott, isso simplesmente significa um colapso do centro, ou seja, da elite dominante.
Sem a elite, a população dispersa-se e volta a viver da forma que lhe é mais natural: da caça, coleta de frutas e vegetais, pastoreio e agricultura de subsistência.
Com o desaparecimento da elite, a escrita é abandonada e a construção de templos e palácios cessa.
Mas isso não significa necessariamente empobrecimento cultural ou alimentar.
Afinal, ser bárbaro era ser livre (ter mobilidade e pode viver onde quiser), trabalhar menos (não havia necessidade de produzir excedente para sustentar a elite) e se alimentar melhor (sem obrigação de plantar cereais, a dieta voltava a ser variada).
E a cultura era transmitida de forma oral de geração para geração.
A relação complementar entre civilizados e bárbaros
O fato é que, com o passar do tempo, as civilizações multiplicaram-se e tornaram-se mais importantes.
Seus governantes conseguiram estabelecer um equilíbrio entre o que forneciam para os cidadãos e o que exigiam em troca.
E isso só foi possível graças aos bárbaros.
Desde cedo, as civilizações dependiam dos bárbaros para obter produtos que não cultivavam, coletavam ou produziam. De alimentos a pedras preciosas, de peles a escravos.
Quanto mais civilizações surgiam e cresciam, mais poderosos ficavam os bárbaros, que, graças à sua mobilidade e estilo de vida, eram os grandes comerciantes e fornecedores de escravos e mercenários da Antiguidade e da Idade Média.
Ouvimos falar muito de seus ataques, mas, de forma geral, o que eles buscavam mesmo era riqueza. E conseguiam isso seja recebendo tributos em troca de paz, seja comercializando produtos e pessoas obtidos em regiões distantes.
Em muitos casos, a aproximação entre os dois mundos levou povos bárbaros a adotarem a cultura dos vizinhos, incluindo idioma e religião.
Em outros casos, os bárbaros conseguiram apoderar-se das estruturas de governo e tornaram-se o Estado. Um dos principais exemplos são os Francos, bárbaros germânicos que deram origem à França.
Com o passar do tempo e expansão dos Estados, mais e mais os bárbaros vendiam outros bárbaros como escravos ou tornavam-se mercenários para Estados que combatiam bárbaros.
Scott diz que esse foi o principal fator que levou ao seu quase desaparecimento em torno do ano 1600.
Hoje são raras às populações vivendo à margem do Estado.
Conheça alguns dos povos bárbaros da Eurásia
Antes de falar sobre “povos” bárbaros é preciso fazer uma ressalva.
Quando falo em “povos” e “tribos” estou usando uma simplificação adotada pelos Estados e suas narrativas da história.
Na prática, as população nômades ou semi-sedentárias que viviam fora do controle dos Estados, viviam em grupos bem pequenos, clãs, bandos.
E eles só uniam-se em grupos maiores (tribos ou confederações) quando necessário. Por exemplo, para fazer uma longa jornada ou para saquear vizinhos mais fortes.
As Civilizações da Era do Bronze e os Povos do Mar
A Era do Bronze é o período histórico que vai do ano 3.300 A.C. até 1.100 A.C..
Foi nessa época que existiram as primeiras grandes civilizações, incluindo a Egípicia, a Babilônica, a Hitita e a Micênica (sobre a qual já falei no post sobre a Guerra de Troia).
Elas colapsaram simultaneamente em torno do ano 1.200 A.C. e, até hoje, discutem-se as causas disso.
Possivelmente foi uma sequência de eventos incluindo terremotos, seca, rebeliões (os primeiros “conflitos de classe”) e ataques dos “povos do mar”.
O termo “povos do mar” foi criado por um egiptologista francês no século XIX.
Até hoje não se sabe exatamente de onde eles vinham. Os registros dos egípcios falam apenas em “povos que chegavam do mar em seus navios de guerra”.
Houve pelo menos duas guerras entre o Egito e esses povos vindos do mar.
Esses mesmos registros também indicam que havia relações amistosas entre os Egípcios e os Povos do Mar, pois há menções à presença de mercenários contratados entre esses grupos no exército egípcio.
Mas isso não significa que eles eram aliados.
Os documentos egípcios também registram que no exército Hitita (um dos principais inimigos do Egito) também havia mercernários contratados entre os Povos do Mar.
Eles também não eram aliados dos Hititas: desconfia-se que o fim do Império Hitita foi acelerado por saques dos Povos do Mar, que teriam levado ao seu enfraquecimento, em torno do ano 1.200 A.C., facilitando sua posterior conquista pelos Assírios.
De forma geral, acredita-se que os ataques dos povos do mar foram um dos elementos que levaram ao colapso simultâneo das grandes civilizações mediterrâneas da época, marcando o final da Era do Bronze.
Para saber mais sobre os povos do mar, leia esse artigo da World History Encyclopedia ou esse da Britannica.
A Civilização Greco-Romana e os Povos em suas Fronteiras: Celtas, Germânicos e Hunos
O período clássico da civilização grega, que começa em torno do ano 600 A.C., e sua continuidade com o Império Romano é o que os historiadores chamam de Antiguidade.
É dessa fase o surgimento do termo “bárbaros”, provavelmente criado pelos gregos para fazer referência a povos que não falavam seu idioma.
Os Celtas (também conhecidos como Gauleses)
Os bárbaros mais famosos dos tempos áureos da Grécia (600 A.C. a 100 A.C.) foram os Celtas.
Eles saquearam Roma em 390 A.C., Delphi em 279 A.C. e Roma, novamente, em 225 A.C..
Os Celtas viviam na Gália, região que inclui hoje a França, Bélgica, Suiça, norte da Itália e partes da Holanda e da Alemanha.
Durante o século I A.C., as tribos Celtas começaram a ser atacadas pelas tribos Germânicas, que estavam vindo do oeste do rio Reno.
Ao mesmo tempo, o Império Romano vinha expandindo-se e começava a cercar a área onde viviam os Celtas.
Os Romanos, que a essas alturas conviviam com tribos Celtas e Germânicas, consideravam os primeiros “menos bárbaros”, pois eles eram sedentários e haviam desenvolvido a agricultura.
Por algum tempo, Romanos e Celtas co-existiram. Algumas tribos Celtas chegaram a colaborar com os Romanos na contenção dos Germânicos.
Mas, em torno do ano 52 A.C., Júlio César já havia conquistado a maior parte da Gália, impondo a lei e a cultura romana aos Celtas.
Nesse ano ocorreu o último grande ato de resistência Celta. O líder Vencigetorix conseguiu mobilizar as diferentes tribos e, com táticas de guerrilha, conseguiu várias vitórias sobre os Romanos.
Não foi suficiente. Com a prisão e morte de Vencigetorix, os Celtas que não foram mortos acabaram sendo vendidos como escravos ou assimilados pela cultura romana.
Para saber mais sobre os Celtas, leia meu post sobre eles aqui.
As Tribos Germânicas
O primeiro grande conflito entre Romanos e povos Germânicos foi um pouco antes, em torno do ano 100 A.C., quando duas diferentes tribos, os Cimbri e os Teutões, tentaram invadir o sul da Gália e o norte da Itália.
Cerca de 50 anos depois, na época de Júlio César, os Romanos já faziam uma distinção clara entre Celtas e Germânicos.
E, no ano 100, o historiador romano Tacitus escreveu De origine et situ Germanorum, livro que ficou conhecido como Germania.
Nele, ele fazia uma descrição dos povos Germânicos: pessoas de olhos azuis e cabelos avermelhados, que viviam ao norte do rio Danúbio e ao oeste do rio Reno e tinham um estilo de vida caçador-coletor.
A essas alturas, alguns membros dessas tribos já viviam entre os Romanos e referiam-se a si mesmos como Germani.
Não se sabe a origem desse termo. A população de olhos azuis e cabelos avermelhados que vivia além do Danúbio e do Reno não usava nenhuma palavra específica para o conjunto das tribos.
E elas eram muitas, vivendo ao longo da imensa fronteira do Império Romano. Para citar apenas algumas:
- no século III, os Godos avançaram pelos Bálcãs. Quando foram contidos pelos Romanos, muitos deles passaram a servir como mercenários para o Império; com o passar do tempo, os Godos desaparareceram;
- os Francos e os Saxões, por essa mesma época, começaram a saquear as cidades da costa da atual França e Inglaterra; com o passar do tempo, eles estabeleceram-se nessas regiões, adotaram muitos dos costumes dos Romanos e tornaram-se o Estado (se você quer saber como isso resultou na criação da França, leia meu post sobre a história da Bélgica)
- ainda nessa época, os Visigodos chegaram à Península Ibérica, tornaram-se cristãos e controlaram a região por 3 séculos, até perdê-la para os muçulmanos (mais sobre isso no post sobre Toledo)
- o nome Alemanha vem dos Alemmani, tribo que começou a ser mencionada no século III e que, no século V, vivia na região que hoje forma o nordeste da França (Alsácia-Lorena), o sudoeste da Alemanha (Baden-Wurtemberg) e Suiça. Eles foram incorporados pelos Francos.
- no século VI, os Lombardos ocuparam a Itália – é por isso que uma região no norte do país, até hoje, é chamada de Lombardia (no meu post sobre Milão eu falo sobre eles e outros bárbaros que também passaram por aquela região)
E esses são apenas alguns exemplos dos muitos povos Germânicos, que tinham idioma e cultura similar e migraram para os territórios Romanos cerca de 1.500 anos atrás.
Sua evolução resultou na formação dos Estados Europeus atuais.
Para saber mais sobre essa grande migração, confira esses artigos da Britannica: sobre a relação entre Romanos e Povos Germânicos e essa sobre as Invasões Germânicas.
Os Hunos
Mas o que teria provocado essa movimentação das tribos Germânicas em direção ao sul do rio Danúbio e leste do rio Reno?
Um dos principais motivos foi o ataque dos Hunos, povos mencionados pela primeira vez em registros escritos pelo mesmo historiador romano, Tacitus.
Tacitus, naquela época (em torno do ano 100), não deu muita importância aos Hunos, apenas referiu-se a eles como mais outros povos bárbaros, esses vivendo na área onde hoje fica o Cazaquistão.
Mas, a partir da segunda metade do século IV, os Hunos fizeram uma série de ataques a várias tribos Germânicas, forçando sua migração em direção aos territórios Romanos.
Essa fase, do ano 376 ao ano 476, ficou conhecida como “A Grande Migração”.
Os Hunos também atacaram os Romanos diretamente. No ano 408, uma de suas tribos saqueou completamente a província romana Trácia (nos Bálcãs).
Como não conseguiam vencê-los militarmente, os Romanos passaram a empregar os próprios Hunos em sua defesa.
A partir daí, essa foi a tática preferencial dos Romanos para combater ataques de tribos de Hunos ao longo de suas fronteiras.
Como os outros povos bárbaros, os Hunos viviam em pequenos clãs. A primeira menção a um rei dos Hunos foi só no ano 430, mas não há indícios de que todas as tribos tenham se submetido a ele.
Foi seu sucessor, Átila, quem unificou as tribos e levou terror aos povos Germânicos e ao Império Romano.
Átila formou um exército formidável. Eles chegaram até 40 km de Constantinopla – hoje Istambul – que, na época, era onde ficava o imperador Romano.
Os ataques de Átila forçaram os Romanos a assinar o Tratado de Margus, em que concordavam em pagar tributos regulares aos Hunos em troca de paz.
O pagamento de tributos continuou até a morte de Átila, quase 20 anos depois.
Mesmo assim, várias vezes os Hunos quebraram o acordo e saquearam outras regiões do Império. A cada vez o acordo era renegociado e o valor pago pelos Romanos aumentava.
Até salário de general romano Átila chegou a receber (mesmo durante as fases em que seu exército estava saqueando o Império!).
Também havia relações diplomáticas entre Romanos e Hunos: Priscus de Panium, um historiador grego, acompanhou uma missão romana que visitou a corte de Átila.
Foi Priscus quem deixou os relatos escritos mais confiáveis sobre o modo de vida dos Hunos e sobre o próprio rei, com quem ele teria jantado.
Ironicamente, o rei guerreiro não morreu em batalha. Foi em casa, no ano 454, possivelmente de uma hemorrragia.
A essas alturas, ele havia controlado uma área geográfica enorme, que ia da atual Rússia até a Alemanha e a França, incluindo Hungria e parte do Bálcãs.
Átila foi sucedido por seus 3 filhos, que brigaram entre si, desperdiçaram os recursos obtidos por seu pai e provocaram a ira dos chefes das tribos, que acabaram afastando-se com seus seguidores.
Algumas das tribos foram viver isoladas e acabaram desaparecendo; outras passaram a viver com os povos vizinhos, como os Romanos e Germânicos, e adotaram sua cultura.
A última referência escrita aos Hunos é do ano 469, apenas 15 anos depois da morte de Átila.
Para saber mais sobre Átila e os Hunos, confira esse artigo da World History.
A Europa Medieval e os Povos em suas Fronteiras: Berberes, Vikings e Mongóis
Enquanto o Império Romano ia sendo substituído por reinos organizados por povos Germânicos, outros povos sem Estado moviam-se para suas fronteiras.
No ano 1000, a situação era mais ou menos assim:
Da África, os Berberes invadiam o Reino dos Visigodos, estabelecido na Península Ibérica.
Da Escandinávia, uma nova onda de pessoas de olhos azuis e cabelos avermelhados que, mais tarde, passariam a ser chamados de Vikings, atacava as atuais Grã-Bretanha e França.
E, das Estepes, uma faixa de campo que se estende da Hungria à China, de tempos em tempos apareciam novos bárbaros nômades-pastoralistas. Os mais famosos deles foram os Mongóis.
Os Berberes
Eles eram povos nômades que viviam no norte da África antes da chegada dos árabes muçulmanos.
Suas tribos viviam na área onde hoje ficam a Argélia, o Marrocos, a Tunísia, a Líbia, a Nigéria, Mali e a Mauritânia.
Eles tinham em comum o idioma, chamado Amazigh, que é uma das variações dos idiomas Afro-Asiáticos.

Idiomas Afro-Asiáticos. Fonte: Enciclopedia Britannica
Os Berberes (também chamados de Mouros) são mais conhecidos pela invasão da Península Ibérica no século VIII.
Em apenas 7 anos esses bárbaros controlaram o reino dos Visigodos. E, junto com novas ondas de povos Berberes e Árabes, lá ficaram por 8 séculos.
A maioria dos Berberes, entretanto, continuou na África. Junto a nômades do Saara, eles criaram uma rota de comércio através do deserto entre os séculos XI e XIII.
Porém, depois disso, a região foi sendo arabizada. A maioria dos Berberes foi assimilada pela nova cultura, que incluia o idioma árabe e a religião muçulmana. Os outros fugiram para as montanhas, onde a cultura e idioma desse povo sobreviveu.
Foi apenas após a chegada dos franceses no Marrocos, a partir do século XIX, que os Berberes foram reconhecidos como uma nação, com cultura e idioma próprios.
Isolados em enclaves, eles continuavam vivendo como muitos séculos atrás, com agricultura de subsistência, produção artesanal e, muitas vezes, graças a seu estilo de vida nômade, como agentes de comércio entre regiões distantes.
A partir do século XX houve um renascimento do berberismo em algums países do norte da África. O idioma Amazigh, que era só falado, foi reavivado com a criação de uma versão escrita chamada Tamazight.
Desde 2002, o Tamazight é reconhecido na Argélia como um idioma nacional (mas não oficial) e, desde 2011, como idioma oficial no Marrocos.
Estima-se que, atualmente, 25% da população da Argélia e 60% da população do Marrocos é descendente de Berberes.
Para saber mais sobre esses povos, leia esse artigo da Enciclopédia Britânica. Ou o meu post sobre a Espanha Muçulmana, onde falo sobre dois povos Berberes, os Almoravids e os Almohads.
Os Vikings
Nas suas próprias terras, onde hoje ficam Noruega, Suécia e Dinamarca, eles cultuavam vários deuses, ganhavam a vida como fazendeiros e usavam o alfabeto rúnico para deixar registros escritos.
Mas, em busca de mulheres, ouro e aventura, de tempos em tempos eles entravam em seus barcos e iam saquear territórios distantes, principalmente as ilhas Britânicas e a França.
A palavra viking provavelmente vem daí, já que, em norueguês antigo, viking significa saquear.
Nesse post sobre a Irlanda eu já contei sobre como os vikings começaram saqueando e destruindo mosteiros e acabaram fundando várias cidades.
É um bom exemplo de bárbaros como agentes de comércio de longa distância e que, com o passar do tempo, misturaram-se à população local.
Vikings na França: os Normandos
Já na França, onde estava surgindo o Sacro Império Romano Germânico, os ataques vikings começaram no ano 820, quando 13 barcos entraram pelo rio Sena em direção a Paris.
Em 841, depois de saquear e queimar a cidade de Rouen, os vikings cercaram Paris. Em troca de muito dinheiro, eles abandonaram a cidade e ficaram longe por um tempo.
Mas eles voltaram, saquearam mais e estabeleceram uma base em Rouen, de onde faziam mais e mais saques.
E foi assim até o ano 911, quando, o chefe viking Rollo assinou um acordo com os Francos: Rollo ganharia terras (Rouen e arredores) e casamento com Gisela, a filha do rei dos Francos, em troca de converter-se ao cristianismo e proteger o rei e seus territórios de ataques de outros vikings.
As terras de Rollo passaram a ser chamadas de Normandia (em tradução livre, terra dos homens do norte). Ele cumpriu sua palavra e os ataques vikings ao território que hoje é a França pararam.
Seus companheiros, que passaram a ser conhecidos como Normandos, adotaram o francês como idioma, trocaram os barcos por cavalos, mas continuaram sendo guerreiros excepcionais.
E, a partir de sua nova base, continuaram fazendo saques, agora pelo Mediterrâneo. Eles chegaram a governar o sul da Itália (atuais Calabria, Puglia e Sicília).
Mas seu ato mais famoso é a Conquista Normanda, em 1066, que foi a última invasão à Inglaterra até os dias de hoje.
Seu chefe na época era Guilherme, duque da Normandia.
Seu parente distante, Edward, era rei da Inglaterra. Edward não tinha filhos e prometeu a Guilherme que ele herdaria o trono inglês (em troca de ajuda militar).
Só que, quando Edward morreu, os nobres ingleses colocaram outra pessoa no trono.
Pra quê? Guilherme juntos seus Normandos, cruzou o Canal da Mancha, ocupou o trono inglês por mais de 20 anos e mudou a história da Inglaterra. Seus sucessores governariam o país por mais um século.
Para saber mais sobre a história do fundador da Normandia, Rollo, leia esse artigo do site World History.
Os Mongóis
Eles vieram das estepes da Eurásia, essa extensa área de campo que atravessa a Eurásia e é cortada por várias cadeias de montanhas.

Estepes da Eurásia. Fonte: Enciclopédia Britânica
Essa área sempre foi ocupada por bandos nômades, especialmente em função das condições climáticas da região.
Os antigos Impérios, como o Assírio, já deixavam registros de ataques de povos que chegavam das estepes à cavalo e que desapareciam tão rapidamente quanto haviam chegado.
Os Mongóis, especificamente, eram tribos que tinham idioma e cultura comuns e viviam no Planalto da Mongólia.
Assim como os outros povos das estepes, eles viviam em pequenos grupos e, de tempos em tempos, organizavam-se em grupos maiores, cujo líder era chamado Khan.
A primeira confederação mongol mencionada na história é a Xiognu. Foram seus ataques, a partir do século V A.C., que levaram ao início da construção dos muros que, mais tarde, transformar-se iam na Muralha da China.
Mas, a mais importante das confederações Mongóis foi a “Liga de Todos os Mongóis”: o ano em que Temüjin, filho de Yesügei, foi eleito Genghis Khan, marca o começo do que ficou conhecido como o Império Mongol (1206 – séc XV).
A federação de tribos formada por Gengis Khan, que incluia tribos Mongóis e Turcas, inicialmente dominou o território da atual Mongólia e, depois, expandiu seu domínio até o Rio Amarelo, na China, e a Crimeia, na Rússia.
Quando Gengis Khan morreu, seu território foi dividido entre seus filhos. A expansão continuou e, no auge, o Império Mongol estava organizado assim:

King, Arienne. “Four Khanates of the Mongol Empire.” World History Encyclopedia
Porém, não durou muito tempo.
O Khanato Chagatai, do Casaquistão ao Afeganistão, tinha muitas tribos turcas e, já no século XIV, a cultura prenominante era a turca, não a mongol.
O Khanato Il aproximou-se dos cristãos. Um de seus chefes, Hulegu, chegou a casar-se com a filha do imperador bizantino.
Mas, após a morte de Kublai Khan (veja abaixo), os descendentes de Hulegu tornaram-se muçulmanos, romperam com os mongóis e, em poucas décadas, seu idioma e cultura foram substituídos pela cultura persa/iraniana.
O Khanato do Grande Khan, no outro lado das estepes, passou a ser governado por Kublai, um dos netos de Gengis Khan.
Kublai Khan mudou sua capital do Planalto da Mongólia para Pequim, na China, e é lembrado hoje como um dos maiores imperadores desse país.
Seus descendentes governaram a China por 100 anos (dinastia Yuan), mas os chineses nunca aceitaram de fato essa situação.
O último imperador mongol da China, Togon-Temur, precisou fugir para as estepes, onde morreu no ano 1370.
O Khanato do Bando Dourado (Golden Horde) conquistou Kiev, ocupou a Polônia, chegou à Hungria e esteve a um triz de conquistar o resto da Europa.
Por motivos até hoje desconhecidos (eles estavam vencendo), os Mongóis voltaram. A partir daí, moveram-se em outra direção. No auge, eles controlaram todo o território entre o oeste da Ucrânia e a Sibéria (boa parte do que é hoje a Rússia) e chegaram a ameaçar Constantinopla.
Seus guerreiros ficaram conhecidos como Tartars.
Mas, a partir de uma derrota para a Lituânia, em 1362, o jogo começou a virar.
O grupo dividiu-se em vários sub-reinos (khanatos).
A maioria deles foi exterminada por um rei russo, Ivã, o Terrível (1547 – 1584). O último, o Khanato da Crimeia, foi anexado pela Rússia em 1783.
Os Mongóis desempenharam um papel muito importante para as civilizações com as quais interagiram. Durante os cerca de 150 anos em que eles estiveram unidos em um único império, eles reativaram a Rota da Seda e fizeram dela um caminho seguro.
Por ela passaram produtos desconhecidos para quem vivia do outro lado (como a pólvora) e viajantes (como Marco Polo).
Infelizmente, passou por ela também a Peste Negra: ela mataria milhões de pessoas na Europa nos séculos seguintes.
A cultura mongol sobreviveu no Planalto da Mongólia. Em 1912, após a queda da dinastia Qing na China (1912), os Mongóis finalmente conseguiriam formar um Estado independente.
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