Ibiza, a ilha, tem como capital uma cidade que também se chama Ibiza.

Para evitar confusão, a capital é normalmente chamada simplesmente de Porto de Ibiza, Vila ou Eivissa (que significa Ibiza em catalão, o idioma local).

Normalmente, quem pensa em Ibiza, está pensando em vida noturna. A ilha é famosa por seus clubs, que abrem sete dias por semana durante o verão e atraem os melhores DJs do mundo.

A maioria desses clubes noturnos se concentra na metade sul da ilha, como você pode ver nos pontos em rosa do mapa abaixo.

Fonte: Family Holidays (inclui o nome dos 20 clubes)

Mas Ibiza também é um destino interessante para quem não está interessado em balada: a ilha, que tem cerca de 41 quilômetros de comprimento e 15 quilômetros de largura, tem praias lindas.

Cala Saladeta

E, por seu valor ambiental e histórico, a ilha é considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESO.

Para completar, a ilha tem uma excelente infraestrutura turística e, ainda, acesso privilegiado a outra ilha, menos conhecida e ainda mais espetacular, chamada Formentera.

É disso tudo que a gente vai falar nesse post.

Contexto

As ilhas de Ibiza e Formentera são conhecidas como Ilhas Pitiusas.

As duas, junto com as ilhas Maiorca e Menorca, formam uma das 17 Comunidades Autônomas da Espanha: Ilhas Baleares.

Ibiza é habitada há pelos menos três mil anos, quando os fenícios, povos originários do Líbano, fundaram uma colônia por lá.

Vários outros povos ocupariam a ilha depois disso, incluindo cartagineses, romanos, bizantinos, muçulmanos e, finalmente, catalães e espanhois.

No século XX, período em que o mar Mediterrâneo já tinha perdido sua importância comercial, começaram a chegar os turistas.

Cerca de cinco mil deles em 1935, que, em sua maioria, ficavam nos três núcleos urbanos principais da ilha, os únicos locais onde havia hoteis naquela época: Eivissa, Sant Antoni e Santa Eulària.

Fonte: Ontheworldmap.com

Praticamente não houve turistas nas décadas seguintes, principalmente em função da Guerra Civil Espanhola (1936-39) e da II Guerra Mundial (1939-1945).

Nesse período, apenas alguns poucos hotéis em Sant Antoni, cidade voltada para o continente, permaneceram abertos.

O turismo voltou a crescer com o estabelecimento de uma linha regular de barco entre Barcelona e Sant Antoni em 1947 e da criação de um aeroporto na ilha (1958).

Em 1970, a ilha recebeu 360 mil turistas. Em 2024, segundo o site de estatísticas das Ilhas Baleares, o número chegou a três milhões e seiscentos.

Destes, cerca de 1 milhão foram espanhóis (linha verde no gráfico abaixo) e quase 3 milhões foram estrangeiros (linha amarela):

Fonte: IbEstat

Parte importante do crescimento do turismo na ilha nos últimos 50 anos deve-se à sua fama de ser uma “party island” (ilha de festa).

Nos blocos seguintes, eu vou te contar por que Ibiza ficou conhecida assim e, também, por que vale a pena visitar a ilha ainda que seu objetivo seja outro.

Party Island

Antes de ser conhecida como ilha de festa, Ibiza era conhecida como a ilha da liberdade.

Essa fama começou na década de 1930, quando intelectuais e artistas europeus que fugiam do regime nazista descobriram Ibiza.

Na época a ilha era um lugar totalmente rural, literalmente um paraíso onde eles podiam viver “à margem do sistema” e gastando muito pouco: antigas fincas (sítios) podiam ser compradas por quase nada.

Além disso, estilos de vida pouco convencionais eram aceitos tranquilamente pelas comunidades locais.

Nessa época foi inaugurado o primeiro hotel da ilha, o Gran Hotel Montesol (1933), atualmente um hotel cinco estrelas.

A presença desses primeiros artistas e intelectuais criou as bases para que, na década de 1950, os beatniks se instalassem por lá.

Os beatniks eram membros de um movimento literário e social nascido nos Estados Unidos (o movimento Beat).

Seus membros buscavam fugir do tradicional e viver suas vidas com liberdade e propósito.

Eles amavam jazz, experimentavam drogas, promoviam a liberdade sexual e praticavam uma “nova” forma de fé: o budismo.

Na literatura, um dos ícones do movimento beatnik é o escritor Jack Kerouac, autor do clássico “Pé na Estrada” (On the Road).

E como os beatniks foram parar em Ibiza?

Bem, assim como os intelectuais da década de 1930, eles estavam descontentes com a política de seu país de origem, os Estados Unidos. Era a época de um forte movimento anti-comunista, conhecido como macartismo.

Esse intelectuais buscavam um lugar distante onde pudessem expressar suas opiniões livremente e viver suas vidas do jeito que quisessem.

Encontraram isso na ilha espanhola de Ibiza.

Além do Grand Hotel Montesol, outro ponto de encontro famoso dos beatniks era um bar chamado The Domino, que não existe mais.

Aos poucos, os beatniks foram sendo substituídos pelos hippies.

Os hippies também buscavam liberdade e fuga do convencional, mas, ao contrário dos introspectivos e individualistas beatniks, eles gostavam de viver em comunidade, ouvir música mais experimental e usar roupas coloridas.

Um dos hábitos dos hippies era reunirem-se para cantar e dançar em espaços abertos, no campo e na praia.

Com o crescimento do turismo no final da década de 1960, empresários viram uma oportunidade de transformar isso em negócio.

Assim surgiu o Pacha (1973), o mais antigo clube noturno ainda em operação na ilha.

Pacha na época de sua abertura. Fonte: Vogue

Em seguida surgiria o Amnesia (1976), outro dos clubes da década de 1970 que existem até hoje.

Inicialmente, essas casas noturnas eram pequenas e simples, mas com a explosão do turismo nas décadas seguintes, elas foram ampliadas. Hoje, algumas tem capacidade para mais de dez mil pessoas.

Durante a temporada de verão (junho a setembro), esses clubes noturnos chegam a abrir sete dias por semana. Os melhores DJs do mundo tocam por lá.

Eles concentram-se no sul da ilha, como indicam os pontos em rosa do mapa que vimos antes:

Fonte: Family Holidays (o site inclui o nome dos 20 clubes)

Um dos queridinhos do momento é o Ushuaïa (número 16 no mapa acima), que abre diariamente das 17h às 23h (é considerado um “esquenta”). O complexo, com bares e pistas de dança, inclui um hotel. Hóspedes circulam livremente por todo o espaço.

Do outro lado da rua fica o Hï Ibiza (número 18), que pertence à mesma rede e funciona em horário noturno (geralmente abre às 23h30).

Essa mesma rede abriu em 2025 um novo espaço, o UNVRS (pronúncia: Universe), no mesmo local do legendário KU (1979-1995).

No KU começou a carreira do grupo Locomía, que fez um sucesso estrondoso na Espanha e na América Latina no final da década de 1980.

Se você viveu essa época, possivelmente vai lembrar do refrão: “Disco, Ibiza, Loco Mía / Moda, Ibiza, Loco Mía…” (e por aí vai). Espia o vídeo original aqui.

Há clubes para todos os gostos.

Para quem quer ir para a noite, mas quer fugir das grandes multidões, a recomendação dos 40+ que encontrei pela ilha é o Chinois (número 11 no mapa), que, dizem, oferece um ambiente um pouco mais sofisticado.

Além dos clubes noturnos, outra marca de Ibiza são os beach clubs (clubes de praia), que são frequentados, em geral, durante o dia.

O conceito de beach club é simples: é um bar de praia com opção de aluguel de cadeiras e guarda-sóis. Isso é comum nas praias europeias.

Mas, em Ibiza (assim como nas ilhas gregas), esse negócio atingiu um outro patamar.

Os clubes de praia chegam a cobrar mais de 100 euros por uma cadeira ao sol (espia os preços do Beach House) e, muitos deles, tem restaurantes liderados por chefs famosos.

E mais: há beach clubs que nem praia tem! Um exemplo é o O’Beach, que fica próximo dos pontos 2,3,4,5 no mapa (povoado de Sant Antoni).

O O’Beach é basicamente um clube noturno que funciona de dia.

As cadeiras e guarda-sóis estão ao redor de uma piscina (alugá-las custa uma exorbitância!), DJs e shows acontecem ao longo de toda a tarde, e cada espaço livre vira pista de dança.

Para quem quer explorar esse lado da ilha, de clubes noturnos e beach clubs, há duas regiões de hospedagem super recomendadas.

A primeira é Eivissa (incluindo Platja d’en Bossa, que fica logo abaixo), já que 10 dos 20 clubes do mapa ficam nessa região.

Foto tirada de Eivissa. Ao fundo está a Platja d’en Bossa.

A segunda é Sant Antoni, que apesar de ficar do outro lado da ilha, tem acesso super fácil aos clubes, inclusive durante a madrugada: a linha de ônibus Disco Bus vai direto de Sant Antoni para Eivissa e Platja d’en Bossa.

A vantagem de Sant Antoni é que a hospedagem costuma ser mais barata.

Além disso, alguns clubes são lá mesmo. E há também excelentes opções de praia com acesso fácil mesmo para quem está sem carro.

Além disso, por ser virada para o oeste, Sant Antoni tem um lindo pôr-do-sol.

Já a vantagem de hospedar-se voltado para o leste (Eivissa e Platja d’en Bossa) é que são de lá que saem os barcos para Formentera (falaremos dessa outra ilha em seguida).

E se eu não gosto de noite e badalação?

Na minha opinião, ainda assim vale a pena conhecer Ibiza.

A ilha é bonita, tanto em termos de praia e natureza, quanto de arquitetura. E, se a parte sul é o paraíso para quem gosta de festa, a parte norte é o lugar ideal para quem quer tranquilidade e contato com a natureza.

E, claro, Ibiza é o ponto de partida para a espetacular Formentera. Falaremos dela mais tarde.

Vamos começar explorando os cinco municípios de Ibiza. No bloco a seguir vamos falar de cada um deles.

Mapa dos 5 municípios da ilha de Ibiza. Fonte: Ibiza Travel

Sant Josep: Um Pouco de Tudo

Sant Josep é o município mais ao sul da ilha. É nele que fica o aeroporto e a Platya d’en Bossa com seus clubs (à direita no mapa abaixo).

Mas Sant Josep também tem um dos principais sítios arqueológicos da ilha, vista privilegiada para o rochedo Es Vedrà (um dos ícones de Ibiza), uma salina tradicional e muitas praias lindas.

Fonte: Idealista

Logo abaixo da Platja d’en Bossa fica Ses Salines, que significa “as salinas”.

Foi o sal que fez de Ibiza uma região tão importante para os fenícios, que construíram essa salina – que produz sal até hoje – há 2800 anos.

No post sobre Aveiro já falei sobre a importância das salinas ao longo da história da humanidade. Assim como as salinas de Aveiro, as piscinas para coleta de sal construídas em Ibiza também perderam sua importância econômica nos últimos duzentos anos.

Mas transformaram-se de uma maneira linda: com o abandono parcial, algumas das piscinas de água salgada se transformaram em lagoas com alta concentração de nutrientes.

Isso levou ao desenvolvimento de muitas espécies vegetais, que, por sua vez, atraem muitas espécies de animais, em especial pássaros que migram anualmente entre o norte da Europa e a África, como os flamingos.

Um dos motivos que favoreceram o desenvolvimento das salinas nessa região foi a presença da posidônia no mar.

A posidônia oceânica é um tipo de vegetação que se desenvolve na areia móvel no subsolo do mar e funciona como uma barreira natural, evitando a erosão e contribuindo para a preservação da costa.

Ao mesmo tempo, ela contribui para a transparência da água, pois suas raízes bloqueiam a movimentação da areia (que é o que deixa a água turva).

O resultado disso tudo é um ambiente natural espetacular e uma das praias mais bonitas da ilha.

Praia de Ses Salines. Fonte: Hotel Barceló

Foi atraídos pela riqueza das salinas que os fenícios fundaram, há poucos quilômetros dali, uma cidade.

Os fenícios são originários da região onde hoje fica o Líbano. Eles controlaram o comércio no mar Mediterrâneo em torno do ano 800 A.C. e fundaram várias cidades ao longo de toda a costa do Mediterrâneo e em muitas de suas ilhas.

As ruínas dessa primeira cidade fenícia em Ibiza podem ser visitadas na península Sa Caleta.

O sítio arqueológico inclui um museu onde estão expostos os itens encontrados nas escavações (para mais detalhes, clique aqui).

Estando nessa região, você também pode observar exemplares importantes de dois dos elementos arquitetônicos mais importantes da ilha: as torres de defesa e as igrejas fortificadas.

Eles foram construídos entre os séculos XVI e XVIII, uma fase em que o mar Mediterrâneo era disputado entre vários povos, tanto cristãos quanto muçulmanos, e suas ilhas estavam sob constante ameaça de piratas.

Para proteger as salinas, foi construída a torre des Carregador. Você pode subir nela para tem uma vista panorâmica dessa região.

Ela é uma das sete torres costeiras de defesa de Ibiza. Há outras três em Sant Josep (torre de ses Portes, des Savinar e d’en Rovira), duas em San Joan (torres Portinatx e Balansat) e uma em Santa Eulària (torre d’en Valls), municípios dos quais falaremos em seguida.

As igrejas fortificadas de Ibiza, quatro ao todo, também são dessa época. Não se engane: há muitas igrejas brancas na ilha, mas apenas quatro delas foram construídas como fortalezas para proteger a população em caso de ataque.

A igreja de Sant Jordi de Ses Salines, a apenas cinco quilômetros da torre des Carregador, é a mais representativa delas, já que foi a que mais preservou sua arquitetura original ao longo dos séculos.

Fonte: Turismo Ilhas Baleares

As outras três igrejas fortificadas da ilha são as de Sant Antoni, Santa Eulària e Sant Miquel (no município de Sant Joan).

Saindo de Sant Jordi e seguindo em direção ao oeste, você chegará à Reserva Natural de Es Vedrà, Es Vedranell e Ilhotas do Oeste.

Indo até o mirador de Sa Vedrà, ou até a torre costeira de mesmo nome, você verá a ilha de Sa Vedrá, um rochedo que é um dos ícones de Ibiza.

Muita gente vai até lá para ver o sol se pôr ao lado do rochedo.

Para chegar mais perto da ilhota, a única maneira é de barco. Mais informações sobre isso estão disponíveis aqui.

Finalizando nosso passeio por Sant Josep, aproveite para visitar outras das praias mais bonitas da ilha, com destaque para es Bou Noul, Cala Vedella, Cala Tarida e Platjes del Comte.

E, pra quem gosta de caminhadas, o destaque é o topo de Sa Talaia, que, com apenas 475 metros de altitude, é o lugar mais alto da ilha. A trilha é fácil e pode ser feita em pouco mais de uma hora.

A mudança para Dalt Vila (parte antiga da capital Eivissa)

Em torno do ano 590 A.C., os fenícios abandonaram sua primeira cidade e mudaram-se para uma colina um pouco mais ao norte. Era a fundação da atual capital da cidade, Eivissa.

A cidade cresceu – hoje Eivissa tem quase cinquenta mil habitantes. O núcleo urbano antigo é a parte da cidade conhecida como Dalt Vila (literalmente “a cidade velha”) e fica dentro de muros construídos bem mais tarde, no século XVI.

As ruas labirínticas de Dalt Vila são do tempo em que o Califado de Córdoba conquistou a ilha.

O período islâmico estendeu-se do século X ao século XIII, tempo durante o qual a capital foi chamada Madina Yabisâ.

Um lugar super interessante para conhecer a história de Ibiza nesse período é o Centro de Interpretação Madina Yabisa, número 4 no mapa abaixo.

Fonte: Turismo Eivissa

Os muçulmanos seriam expulsos de Ibiza no século XIII, quando uma expedição organizada pelo bispo de Tarragona e sancionada pelo rei de Aragão chegou a ilha, em 1235.

A antiga mesquita foi transformada em catedral (número 2 no mapa acima) e vários novos prédios foram construídos ao seu redor.

No século XVI foram construídos novos muros ao redor da cidade. Neles fica a Porta de Ses Taules (número 15 no mapa), hoje a entrada principal da cidade antiga.

Dalt Vila, a parte murada da cidade, é pequena e pode ser visitada em poucas horas. Mas também conta com muitas lojas e restaurantes e, quem não estiver com pressa, pode aproveitar um tempo mais longo por lá.

Fora dos muros da cidade antiga há também muitos bares e restaurantes, inclusive na região do porto.

Além disso, é fora dos muros que está o vestígio arqueológico mais importante dos fenícios em toda a ilha: uma necrópole, chamada Puig des Molin, que começou a ser utilizada no século VII A.C..

Uma de suas características mais peculiares são as hypogeas, câmaras funerárias fenícias que estavam escondidas no subsolo.

Estima-se que há cerca de 3000 câmaras como essa no total, das quais mais de 300 estão atualmente visíveis. Em algumas delas, é possível entrar. Espia o tour virtual aqui.

É esse conjunto, que inclui as florestas marinhas de posidônia, os sítios arqueológicos fenícios e as fortificações medievais, que fez com que Ibiza fosse declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1999.

Sant Antoni: o Pôr-do-Sol mais Famoso de Ibiza

O município de Sant Antoni fica na costa oeste da ilha.

Seu limite sul é a Baía de Sant Antoni, compartilhada com o município de Sant Josep. É nessa baía, na fronteira com o município vizinho, que fica o centrinho de Sant Antoni.

Foi nesse centrinho que, em 1933, foi aberto o primeiro hotel de Sant Antoni, o Portmany.

Como falamos antes, essa foi a região onde o turismo se recuperou mais rapidamente depois da Guerra Civil espanhola.

Por isso, há uma enorme concentração de hoteis, não só no centrinho como ao longo de toda a baía (já entrando no município de Sant Josep).

Assim, podemos falar, de forma genérica, na Baía de Sant Antoni, estendendo-se da praia Caló des Moro até a praia Cala Pinet, ou, ainda, mais adiante, até a praia Es Port d’Es Torrent.

No centrinho de Sant Antoni e no calçadão na beira da praia (Passeig del Ponente, de la Mar e de la Platja de l’Arenal) concentram-se os restaurantes, beach clubs e casas noturnas (os números 2 a 5 daquele mapa de clubes noturnos que vimos antes).

Mais para o sul, já no município de Sant Josep, a região é mais tranquila, basicamente ocupada por hotéis e outros tipos de alojamento para turistas.

Eu me hospedei no centrinho de Sant Antoni porque queríamos ficar no lado da ilha voltado para o pôr-do-sol. Também precisávamos de bom acesso ao transporte público, já que decidimos não alugar carro. Foi perfeito.

A prainha pra banho mais agradável daquela região é Caló des Moro e, ao longo do calçadão, há vários bares e restaurantes de onde ver o pôr-do-sol.

Os mais badalados – e caríssimos – são o Café del Mar e o Café Mambo. Mas, pra ver o pôr-do-sol, basta sentar-se nas pedras na beira do mar.

Outra vantagem de ficar em Sant Antoni é o fácil acesso de ônibus a qualquer parte da ilha. Ja falei do Disco Bus.

Além dele, há ônibus regulares saindo de Sant Antoni para outras praias dessa região (como Cala Salada, Platges de Comte e Cala Bassa) e, também, para a sede dos outros municípios da ilha.

Calas Salada e, ao fundo, Saladeta

Confira as linhas de ônibus aqui.

Santa Eulària: Tradição Hippie

Até agora, falamos da região onde ficam os clubes noturnos e o centro da ilha, ou seja, dos municípios de Eivissa, Sant Josep e Sant Antoni.

Mas quem quer praia tranquila, provavelmente vai se encantar com os 46 quilômetros de costa de Santa Eulària.

O centrinho fica a cerca de 16 quilômetros da capital Eivissa. Ele é um lugar agradável para hospedar-se, com boa infraestrutura de hotéis e restaurantes, também com o clássico calçadão na beira do mar.

Caminhando apenas dez minutos você chega a uma das igrejas fortificadas, conhecida como Puig de Missa de Sant Eulària. Ela fica no alto de uma colina, com vistas bonitas para a cidade e o mar.

Além do centrinho (paróquia Santa Eulária), o município tem outros 4 núcleos urbanos.

É por causa de um deles, Sant Carles (seis quilômetros mais para o norte), e de uma das praias próximas, Es Canar, que esse município é até hoje considerado o mais hippie da ilha.

É que, embora os hippies tenham se estabelecido por toda a ilha, foi em Sant Carles e Es Canar que eles estabeleceram comunidades mais sólidas, longe das áreas mais turísticas (Eivissa e Sant Antoni).

Essas comunidades resistiram melhor à massificação do turismo e, por isso, alguns dos ícones da década de 1970 ainda se preservam. Os destaques são as feiras hippies e o Bar Anita.

O mercado hippie Punta Arabi, na praia Es Canar, foi fundado em 1973 e foi o primeiro lugar de Ibiza em que os hippies se reuniram para vender suas peças de artesania para os turistas.

Já o mercado Las Dalias, em Sant Carles (mais para o interior), surgiu como um bar de estrada com pista de dança em 1954.

Na década de 1970 ele virou um ponto de encontro dos hippies, transformando-se em um mercado com cinco banquinhas em 1985. Hoje são 300.

O Las Dalias é hoje o principal centro de eventos culturais do norte da ilha.

As mulheres hippies da década de 1970 combinavam as roupas simples da população nativa da ilha com suas peças de artesania.

Inspirada pelo estilo, a sérvia Smilja Mihailovitch, parte da elite estrangeira que vivia na ilha, resolveu promover a moda local e, com a ajuda dos amigos, organizou um desfile em 1971, reunindo cerca de 20 artistas locais.

Ela batizou o estilo de Adlib, do latim ad libitum, que significa “à vontade”.

Na plateia estavam celebridades como o cantor Julio Iglesias e a atriz Ursula Andrews. Ela era nada menos que o ícone sexual da década de 1960, depois de interpretar uma Bond Girl, fazendo par romântico com Sean Connery (007 Contra o Satânico Dr. No).

O desfile foi um sucesso e se transformou em uma marca, que reúne vários estilistas locais e promove anualmente a Adib Fashion Week. Em sua 54ª edição, em 2025, participaram 12 estilistas.

Embora tenha pouco impacto econômico, a moda Adlib foi – e continua sendo – muito importante para promover Ibiza internacionalmente.

Outra marca de Ibiza que conquistou o mundo foi um estilo musical chamado Balearic Beats, sucesso nas décadas de 1980 e 1990.

O ritmo, também chamado de Ibiza House, surgiu no Amnesia (número 9 naquele mapa de clubs), quando o DJ Alfredo Florita trocou a dance music tradicional por uma batida nova, mais rítmica e relaxante, mais sintonizada com a vibe de Ibiza.

A eclética Balearic Beat incorporava gêneros que iam do soul ao reggae, passando por dance, disco e pop-rock.

A combinação foi super bem aceita e logo começou a ser tocada em outros clubes, em especial no Café del Mar, em Sant Antoni.

Logo DJs britânicos, que vinham passar o verão na ilha, levaram o Balearic Beats para Londres, de onde ele se esparramou para o mundo.

Exatamente por ser tão eclético, o Balearic desapareceu a partir do ano 2000, desdobrando-se em vários outros gêneros como trance, acid house e chill out.

Para conhecer ícones de Balearic Beats, experimente The Road to Hell (Chris Rea), City Lights (William Pitt), Keep on Moving (Soul II Soul) ou Penguim Cafe Orchestra.

Outro lugar frequentado pelos hippies e quem mantém a vibe de liberdade da ilha até hoje é o bar Anita (ou Ca n’Anneta), também em Sant Carles, que existe desde a década de 1960.

Se quiser conhecê-lo, vá cedo. Segundo seu próprio site, ele abre apenas durante a manhã.

Apesar de Santa Eulària ser a região da ilha mais identificada com o passado hippie, também há lugares em outras regiões que mantém essa tradição.

Um exemplo é a praia de Benirrás, em Sant Joan, famosa pela sua “roda hippie de tambores“.

Já no sul, um destaque é o bar de praia Sa Trinxa, que há mais de 20 anos tem um mesmo DJ que já virou até tema de filme. Ele fica na praia de Ses Salines.

Sant Joan: a Parte mais Desconhecida da Ilha

Ao oeste, chegamos a Sant Joan. Por estar longe do agito de Eivissa e Sant Antoni, esse município conservou sua tranquilidade ao longo do último século.

O centro do município é a vila de Sant Joan, um pequeno povoado há cerca de 5 quilômetros do mar, onde acontece uma feira ao ar-livre aos domingos.

O resto do município é ocupado por povoados ainda menores e pequenos sítios, onde você vai encontrar o metro quadrado mais caro da ilha. Espia algumas das “casinhas” à venda nessa região aqui.

Para quem não tem o privilégio de estar hospedado em uma casa dessas, o maior atrativo de Sant Joan são suas paisagens e praias, as mais bem preservadas de Ibiza.

Existem três praias urbanizadas, onde você vai encontrar boas opções de hotéis e pousadas. Elas são Port de Sant Miquel, Portinatx e Cala de Sant Vicent.

Estando por ali, aproveite para visitar a praia de Benirrás, onde às vezes acontecem as “rodas de tambores” de que falamos antes.

E para quem gosta de caminhadas em meio à natureza, essa região é um paraíso. Confira as várias opções aqui.

Em termos de história e cultura, o grande destaque é a caverna Es Culleram, descoberta por arqueológos em 1907.

No local foram encontradas mais de mil artefatos, incluindo peças de cerâmica e terracota, que indicam que a caverna era habitada há mais de três mil anos.

Os achados arqueológicos indicam que, em torno do século V A.C., o local foi transformado em um santuário pelos fenícios que habitavam a ilha.

A caverna manteve a função de santuário por, pelo menos, mil anos. O grande destaque arqueológico é uma plaqueta de bronze com a mensagem “Para nossa senhora Tinit, a poderosa“.

Placa de Es Culleram. Fonte: Govern de les Isles Balears

As menções a Tinit (ou Tanit) como uma deusa fenícia são, de fato, uma simplificação. Em sua região de origem, atual Líbano, ela era conhecida como Astarte, e era a deusa principal, casada com o deus Baal Hammon (ou Amon).

O nome Tanit surgiu em Cartago, cidade no norte da África fundada pelos fenícios. E o culto à deusa com esse novo nome se daria não apenas em Ibiza, mas também em outras ilhas do Mediterrâneo como Malta e Sardenha.

Mais tarde, essa deusa inspiraria o surgimento de outras deusas, como as gregas Artemis e Afrodite e a romana Vênus.

Para finalizar o passeio por Sant Joan, podemos entrar na igreja de Sant Miquel de Balansat, uma das quatro igrejas fortificadas da ilha, e visitar um curioso povoado chamado Baláfia.

A igreja de Sant Miquel é a mais antiga da ilha, e a mistura entre elementos de defesa com pinturas decorativas faz dela um local único.

Baláfia é um conjunto de sete casas com arquitetura tradicional e duas torres de defesa.

A melhor maneira de vivenciar esse pueblo criado entre os séculos IX e XIII é hospendando-se no hotel Can Quince, uma das casas do povoado, que foi transformada em pousada de luxo.

Formentera

Uma visita a Ibiza não está completa sem uma visita a Formentera, ilha com apenas 19 km de extensão de norte a sul e 6km de leste a oeste.

O único jeito de chegar lá é de barco.

Quem está hospedado em Ibiza pode usar a linha regular de ferry-boat, que tem saídas regulares de Eivissa com várias empresas diferentes. O trajeto dura entre 30 e 60 minutos. Também há barcos diretos a partir de Platja d’en Bossa.

Platja d’en Bossa

É possível ir de manhã e voltar no fim do dia. Mas também dá pra ir e ficar mais tempo, o que vai te permitir desfrutar de tudo que a ilha tem pra te oferecer.

Formentera tem seis povoados (os números 1 a 6 no mapa abaixo). O barco de Ibiza chega em La Savina, que está indicado pelo número 1.

Fonte: Formentera Natural

Quem vai apenas para passar o dia, normalmente sobe em direção a Espalmador, porque no caminho ficam duas das praias mais bonitas da ilha: Illetes e Llevant.

Quando pegamos a bicicleta, logo depois de descer do barco em La Savina, nos indicaram seguir nessa direção e, depois, voltar pelo outro lado, passando pelo povoado de Es Pujols (número 5).

Mas quem disse que a gente queria sair da praia depois de ver esse mar?

Acabamos ficando em Ses Illetes até a hora de pegar o barco de volta.

Fiquei com “gostinho de quero-mais”.

Na próxima vez, passo uma semana inteira em Formentera para conhecer a ilha toda, o que pode ser feito a pé, de bicicleta, carro elétrico (você pode alugar qualquer um deles por lá) ou de táxi.

Enquanto isso, fico olhando as fotos deslumbrantes do site Formentera Natural.

E se você está pensando se existe alguma maneira de chegar a Formentera sem passar por Ibiza, a resposta é sim. Durante o verão, você pode ir direto da Espanha continental para Formentera a partir de Denia (província de Alicante), com a empresa Balearia.

Mas, quando eu for de novo, vou fazer diferente: vou voar até Ibiza, me hospedar na Platja d’en Bossa (que é do lado do aeroporto), em um dos clubes que também é hotel (o mais famoso é o Ushuaïa, mas me disseram que o Hard Rock também é uma boa opção) e, no dia seguinte, embarcar para uma semana de paz e tranquilidade em Formentera.

Aguarde novo post 😉