Esses são os bairros para quem quer fugir do roteiro mais turístico e conhecer um pouco da história recente e da rotina da cidade.
Malasaña é o bairro moderninho de Madri. Ele foi o centro do movimento cultural La Movida Madrileña na década de 80. O cineasta Pedro Almodóvar é um dos mais conhecidos representantes dessa geração.
Nesse bairro estão as melhores livrarias, muitas lojas vintage e autorais, cafés e bares legais. As pessoas costumam usar os termos underground e hispster para descrever a região.
Já Chueca é o bairro da diversidade e das noitadas. Ele foi abandonado nas décadas de 1970 e 80 e virou um lugar de consumo de drogas.
Mas na década de 90 o bairro passou por um processo de gentrificação, liderado por gays, lésbicas, bissexuais e transsexuais (LGBT).
Hoje, recuperado, Chueca tornou-se o local onde acontecem as maiores festas de Orgulho Gay da Espanha. E toda hora tem um bar ou um restaurante novo abrindo por lá.
Pra se localizar: esses bairros ficam nessa área circulada, que fica a 5 minutos a pé da Puerta del Sol (centro da cidade).
Quem se hospeda nessa área tem uma vantagem: o acesso ao aeroporto, a partir da estação de metrô Tribunal, é super fácil, rápido e barato.
História de Malasaña: a Rebelião de 2 de Maio
O lado esquerdo da área circulada é Malasaña.
O nome da praça e do bairro estão diretamente ligados à ocupação da Espanha pela França, dois séculos atrás.
Madri estava ocupada pelas tropas de Napoleão desde o dia 23 de março de 1808.
No dia 2 de maio, quando os últimos herdeiros da família real espanhola seriam levados para o exílio, a população se revoltou.
Era o começo da guerra de independência.
Focos de luta surgiram por toda Madri. Um deles foi nesse bairro, que, na época, se chamava Bairro das Maravilhas.
Manuela Malasaña, uma jovem costureira, foi fuzilada pelos franceses.
Uma das versões da história diz que ela estaria defendendo o quartel de Monteleón, que ficava onde hoje é a praça.
Luis Daoíz e Pedro Velarde comandavam o quartel, um dos poucos centros militares que se juntou à população naquele dia.
O bairro se chama hoje Malasaña em homenagem à Manuela. A praça se chama Dois de Maio, e, no seu centro, está uma estátua dos dois militares.
Esse artigo da revista Muy Historia conta mais sobre esse episódio.
Os loucos anos 80: La Movida Madrileña
Passou-se o tempo, os franceses se foram, veio a república, seguida da ditadura de Franco (1939-1975).
Quando Franco morreu e a ditadura terminou, espalhou-se pela Espanha a busca desesperada por liberdade. Foi nesse cenário que surgiu, já em 1977, o movimento cultural La Movida. O lugar? Malasaña.
Um grande destaque foi a música e esse documentário de 15 minutos mostra um pouco de cada uma das várias bandas que explodiram na época. Bem divertido!
O maior símbolo da Movida foi o programa de TV “La Edad del Oro“, que foi ao ar de 1983 a 1985, apresentado pela jornalista Paloma Cachorro.
O cinema espanhol também foi altamente influenciado.
No tempo da ditadura, a Espanha era sempre apresentada no cinema como país rural e humilde.
Com a Movida, chegam ao cinema personagens fora do comum e temas tabu. O comportamento obsessivo, a liberdade sexual e os dramas familiares invadem as telas.
Um dos marcos da Movida é o filme “Labirinto de Paixões” (1982), de Pedro Almodóvar. Está tudo lá: os lugares, as roupas, a música, o espírito de Malasaña.
Esse artigo fala desse filme e de “Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón” (1980), o filme de estreia de Almodóvar. Fala também de outros cineastas que tiveram participação importante no movimento.
Já esse vídeo , que também tem como pano de fundo a Movida, fala mais sobre a obra de Almodóvar, usando 3 filmes, num espaço de 20 anos, para mostrar o que se mantém ao longo do tempo.
Os filmes são “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, “Tudo sobre minha Mãe” e “A Pele em que Habito”.
O que fazer em Malasaña
Hoje Malasaña não é mais símbolo de rebeldia, mas sim um lugar onde cada um pode ser o que é.
Esse vídeo mostra moradores contando sobre o que mais gostam no bairro.
Arte e cultura continuam na sua essência, incluindo música, teatro, dança, leituras, exposições.
O bairro tem um jornal on-line chamado Somos Malasaña, que divulga a programação cultural atualizada. Espia pra saber o que fazer por lá.
Para ir de tapas, o melhor lugar é a Plaza del Dos de Mayo e suas transversais.
Para visitar as lojas autorais e lugares mais descolados, o cantinho certo é chamado Triball.
Ele vai da Calle de Colón e da Plaza de San Ildefonso, ao norte, até a Calle Desengano ao sul.
Entre a Calle del Barco e as Calles de Molino de Viento e San Roque.
Ali pertinho fica o Mercado Gastronômico de San Ildefonso.
Fica num prédio antigo, que foi renovado. A especialidade é Street Food com ingredientes de alta qualidade.
Mas o espaço mais autêntico do bairro é a Calle del Pez, uma das ruas mais inquietas de Madri.
Esse post detalha cada um dos lugares da rua e inclui um trecho carinhoso sobre o bar El Palentino.
El Palentino, com seu cheiro de fritura e alguns clientes tão antigos quanto o próprio bar (que já tem mais de 60 anos), é o ícone underground dessa rua e desse bairro.
O bar virou até cenário de clip do Manu Chao: espia o vídeo de “Me llaman Calle“.
Chueca
Ele é conhecido como um dos bairros mais animados da Europa.
Antigos moradores convivem em harmonia com os que chegaram a partir da década de 90, em sua maioria lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais (LGBT).
Chueca está cheio de bares e restaurantes, frequentados por todos os tipos de público. Esse artigo da Time-Out mostra alguns desses lugares.
Além disso, em Chueca acontecem todos os anos as festividades do Orgulho Gay, um evento que se estende por uma semana e atrai gente de toda a Europa.
O que visitar
O coração do bairro é a Plaza del Chueca, onde fica a estação de metrô de mesmo nome.
O Mercado de San Anton, quase do lado da praça, é a minha dica para quem pretende visitar um mercado só na cidade.
Ele tem mais de 100 anos e, na reforma feita em 2011, a parte antiga, de venda de frutas, carnes e legumes, foi mantida.
Os espaços novos estão em dois outros andares. No segundo estão os bares e restaurantes. E, no terceiro, tem uma galeria de arte.
Pertinho também, na Calle Barquillo, tem uma Padaria Celicioso, o paraíso para quem tem intolerância a glúten.
Absolutamente tudo é Glúten-Free.
Além disso, caminhar pelo bairro é uma diversão. Cada lojinha é uma surpresa.
E eu, que adoro as janelas de Madri, não parei de olhar pra cima…
E tem ainda museus
Para quem gosta, tem dois interessantes entre Chueca e Malasaña.
O Museu do Romanticismo é uma casa-museu. Ele fica em um palacete do século XVII e tem mobília de época.
O site tem um passeio virtual que mostra bem do que se trata. Entre as obras de arte, há quadros de Goya e Velasquez.
Já o Museu da História de Madri, do lado da estação de metrô Tribunal, conta a história da cidade desde que ela virou capital da Espanha (1561) até o começo do século XX.
Para quem tem interesse em conhecer a história da cidade antes disso, da pré-história até a vinda da Corte, o museu certo é o de San Isidro, no bairro La Latina.
La Latina, assim como Chueca e Malasaña, é outra área gentrificada. Esse artigo conta como esse processo aconteceu – em Madri e em outras áreas da Espanha.
E pra completar: acesso privilegiado ao aeroporto
Quem fica perto da estação de metrô Tribunal, entre Chueca e Malasaña, está a 30 minutos de metrô do aeroporto Barajas. E precisar trocar de trem uma única vez. O ticket custa 6 euros.
Já quem fica na área mais turística, entre o Palácio Real e o Parque do Retiro, passa um pouco mais de trabalho. Ou troca duas vezes de trem ou paga um táxi, que vai custar 30 euros.
O metrô funciona assim: dentro do aeroporto Barajas, tem uma estação.
É só seguir as placas.
Essa é a linha 8. Com ela, a gente vai até a estação Nuevos Ministerios, que já é dentro da cidade.
Em Nuevos Ministérios, tem duas possibilidades de conexão.
A linha 6 é tipo um “anel rodoviário”: circula a cidade e tem conexões com várias outras linhas.
Já a linha 10 é a que te leva direto pra estação Tribunal, na fronteira entre Chueca e Malasaña.
Escolhendo essa facilidade, sugiro se hospedar ao redor da Plaza Dos de Mayo ou nas proximidades da Plaza de San Ildefonso.
Mas lembra que não é para quem procura tranquilidade, tem vários bares e fica cheio nas noites de final de semana.
Quem estiver disposto a pegar mais um metrô para ficar no centro histórico, vai ter que pegar alguma conexão da linha 10.
Nesse caso, minha sugestão é ficar hospedado perto da Plaza Santa Ana.
Para chegar lá é só trocar para a linha 1 na estação Tribunal e descer nas estações Sol, Tirso de Molina ou Antón Martin.
Pra entender melhor o funcionamento das linhas de metrô em Madri, aqui tem um mapa.
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