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Atenas. Ilhas Gregas. Num primeiro olhar, parecem mundos tão diferentes! De um lado, história e templos, o berço da civilização ocidental. De outro, ilhas paradisíacas (incluindo a ilha de Creta), mar em muitos tons de azul, casinhas brancas, cruzeiros. Mas, olhando mais de perto, dá para ver que está tudo conectado.
A história da Grécia Clássica, berço da civilização ocidental, aquela dos filósofos, dos 300 de Esparta, do surgimento das Olimpíadas, que a gente normalmente associa a Atenas, está diretamente ligada a das paradisíacas ilhas gregas.
Mais do que isso. Foi exatamente nelas, mais precisamente na ilha de Creta, que tudo começou.
Esse post é o primeiro de uma série, em que vou fazer um resumo de cinco mil anos de história desse pais fantástico, formado por mais de 2.000 ilhas e um território continental no sul do Balcãs (região sobre a qual já falei aqui).
A gente vai começar, nesse post, pela ilha de Creta, centro da mais antiga grande civilização da Europa.
Ela atingiu seu apogeu em torno de 1950 A.C.. E é cenário de um dos mais famosos mitos gregos: o Minotauro.
A Civilização Minóica
Creta é a maior das mais de 2.000 ilhas que compõem o atual território da Grécia e a quinta maior do Mediterrâneo. Ela é habitada desde o ano 6.000 A.C. e acredita-se que seus primeiros habitantes vieram da Turquia.
Foi em Creta que surgiu a primeira grande civilização europeia, a minóica, em torno de 2.000 A.C.. Foi nessa época que começaram a ser construídos palácios, como o de Cnossos.
FreeImages.com/Irina Jurinac
Eles eram o centro administrativo e religioso das cidades, que se desenvolviam ao seu redor.
As cidades de Creta não eram muradas, o que indica que os minóicos eram pacíficos e viviam em harmonia com os vizinhos.
Sua riqueza vinha do comércio marítimo com os povos do Mediterrâneo Oriental, também chamada de região do Levante. É onde ficam hoje Turquia, Síria, Líbano, Israel e Egito.
Eles também desenvolveram dois sistemas de escrita, nenhum deles decifrado até hoje. O primeiro ficou conhecido como “hieróglifos cretenses” e baseava-se em imagens.
O outro, que ficou conhecido como Linear A, era uma linguagem silábica, escrita da esquerda para a direita e que usava símbolos abstratos. Aparentemente, foi ele que deu origem, posteriormente, ao Linear B – que é considerado o mais antigo dialeto do idioma grego.
Mitologia
O nome dado a essa civilização vem do rei Minos – e aqui a história se mistura à mitologia. Ele seria filho do maior dos deuses gregos, Zeus, e da princesa fenícia Europa.
Mas Creta ficou mesmo conhecida pela lenda do Minotauro, um ser mitológico com corpo de homem e cabeça de touro.
Conta a lenda que o Minotauro seria filho de Pasiphae, mulher do rei Minos, com um touro branco. É que o deus Poseidon havia mandado o touro para um sacrifício, mas o rei preferiu manter o animal vivo. Como vingança, Poseidon fez com que Pasiphae se apaixonasse pelo touro.
O Minotauro é filho dessa traição. E, por isso, foi preso por Minos dentro de um labirinto gigante, construído embaixo da terra. A criatura era tão feroz, que, quando ele mugia, a terra tremia. E no labirinto o Minotauro ficou.
Enquanto isso, em uma guerra entre Creta e Atenas (que, nessa época, ainda não tinha importância nenhuma), os atenienses mataram um dos filhos do rei Minos.
Para vingar-se, o rei Minos determinou que, de tempos em tempos (a cada 1, 7 ou 9 anos, dependendo da versão da história), a cidade de Atenas deveria enviar 14 jovens, 7 homens e 7 mulheres, para serem devorados pelo Minotauro.
Na terceira vez em que isso aconteceria, Teseu, o príncipe de Atenas, ofereceu-se para ir entre os jovens e prometeu a seu pai, o rei Egeu, que derrotaria o Minotauro e voltaria para Atenas com todos os outros em breve.
Quando eles chegam em Creta, são recebidos pelo rei Minos e sua corte. Sua filha, Ariadne, apaixona-se por Teseu. E, por isso, na calada da noite, lhe entrega uma espada e um novelo de lã.
Ela ficaria na entrada do labirinto, segurando a ponta do novelo, para que ele fosse capaz de encontrar seu caminho de volta depois de matar o monstro.
Funcionou. Com um golpe da espada, o herói Teseu conseguiu matar o monstro. E, com a ajuda do fio de Ariadne, ele escapou do labirinto junto com os outros jovens que o acompanhavam.
O termo “fio de Ariadne” é até hoje usado como sinônimo para resolução de um problema complexo por meio da exploração de todas as possibilidades.
Acredita-se que a lenda do Minotauro tenha surgido para explicar os tremores de terra na ilha. Esse vídeo do TED-Ed (em inglês, 4 min) fala mais sobre isso e explica por que há tantos terremotos em Creta: só em 2014, foram 1.300 acima de 2.0 na Escala Richter.
Provavelmente foram os terremotos, junto com a chegada de um povo militarizado, os aqueus, que levou ao fim dessa civilização, em torno do ano 1.450 A.C..
Para quem gosta de literatura e de conhecer versões alternativas sobre os mitos, recomendo espiar esse post do blog Papeles del Club Pickwick. Ele fala sobre o livro “Os Reis”, do argentino Julio Cortázar, que, em 1949, recriou a história do Minotauro.
Por que incluir Creta no seu roteiro na Grécia?
Ainda há muitos vestígios da civilização minóica na ilha de Creta, sendo o mais importante o palácio de Cnossos.
Outros palácios também podem ser visitados. Saiba mais sobre eles no site da UNESCO (o conjunto de palácios minóicos espera avaliação para tornar-se Patrimônio Histórico-Cultural da Humanidade).
Visite também o Museu Arqueológico de Heraklion, que é um dos mais importantes da Europa. Ele tem a maior coleção de peças sobre a civilização minóica, incluindo afrescos (pinturas feitas na parede) e um dos mais misteriosos objetos do mundo: o Disco de Phaistos.
Ele é uma pedra de argila com inscrições feitas a cerca de 4.000 anos. São ao todo 242 sinais. Depois de muito mistério, um linguista e um professor de Oxford parecem ter resolvido o mistério. Esse artigo do Huffington Post conta como eles concluíram que o antigo disco pode conter uma oração.
Creta tem também praias paradisíacas. Esse post do blog A Grécia do seu jeito fala de algumas delas. E a comida também é maravilhosa.
Pra quem já está planejando visitar a região, aqui tem dois posts que podem ser úteis. Esse primeiro, do blog Pure Viagem, resume como chegar lá. Também fala dos principais pontos turísticos da ilha.
E esse outro, da National Geographic, tem dicas interessantes para quem pretende se aventurar pelo interior da ilha.
A seguir…
No próximo post da série a gente vai visitar o Peloponeso, na Grécia Continental. E conhecer os micênicos, o povo que superou a civilização minóica e, segundo a lenda, venceu a famosa Guerra de Troia. Até lá!
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