A maior das nove ilhas é também a que concentra a maior parte da população. Dos 250 mil habitantes dos Açores, 140 mil vivem em São Miguel.
O contraste de azul com verde está por todo o lugar e é uma delícia simplesmente vagar de carro ao longo dos 64km de comprimento e 14km de largura da ilha.
É também o paraíso para quem gosta de trilhas. Só esse site mostra 25 opções, com diferentes graus de dificuldade.
Um roteiro por São Miguel sempre inclui banhos nas águas termais e visita a vulcões. Escrevi um post Sobre a Origem Vulcânica dos Açores e outros dois mais específicos sobre sua influência nessa ilha: Águas Termais nos Açores e Paisagens Vulcânicas em São Miguel.
Nesse post aqui eu conto outras coisas sobre a ilha de São Miguel: como ela está dividida, melhores lugares para ficar e o que visitar e fazer depois de já ter se divertido pelos famosos vulcões e banhos termais.
Como se localizar e onde ficar
A ilha está dividida em 6 Conselhos.
Fonte: Código Postal
Cada um deles está dividido em Freguesias.
A gente dividiu nossa estadia em dois lugares: nos primeiros 4 dias ficamos em Ponta Delgada, na freguesia de São Sebastião. É o centro histórico e principal área urbana da ilha.
Resolvemos ficar ali no começo em função da proximidade do aeroporto (são só 6 km, o táxi custou 7 euros) e do grande número de opções de hospedagem e restaurantes. Nós escolhemos esse apartamento, que recomendo muito.
Depois, já de carro, nos mudamos para o Concelho de Povoação, freguesia de Furnas. Fica do outro lado da ilha e é o melhor lugar para quem está em busca dos banhos termais.
São Sebastião (Ponta Delgada): o maior centro urbano
A imagem mais tradicional da ilha de São Miguel é essa, do monumento Portas da Cidade.
Hoje elas são um elemento decorativo, localizado na Praça Gonçalo Velho Cabral e próximo à Igreja Matriz. Mas, entre sua construção, em 1783, até o início das obras para construção de uma grande avenida, em 1948, elas foram, de fato, a entrada da cidade.
Essa foto, do final do século XIX, mostra como elas eram em sua posição original.
Fonte: Edição Postal, Papelaria Travassos
Em 1952, quando a Avenida Infante Dom Henrique ficou pronta, as portas foram colocadas no lugar onde estão hoje, a alguns metros de onde ficavam antes.
As obras daquela época resultaram em uma avenida larga, em uma orla moderna, com muito espaço para caminhar, correr e andar de bicicleta.
A cidade é muito simpática. Olha que coisa mais fofa essa micro-biblioteca, dentro de uma cabine telefônica.
Ela fica aberta de segunda à sexta, das 8h às 20h. Qualquer um pode pegar um livro emprestado, é só anotar seu nome e título do livro no caderno de registros que está ali dentro.
O acervo da biblioteca é formato por doações: quem quer contribuir deixa o(s) livro(s) dentro da cabine mesmo, numa caixa chamada “depósito de livros”.
Quem quer ler, escolhe o livro, anota seu nome naquele caderninho e, depois de terminar, entrega de volta na cabine. Tudo muito simples e organizado.
Restaurantes
O mais tradicional do centro é A Tasca, que serve vários pratos com produtos típicos dos Açores, como os queijo de São Jorge e do Pico e o ananás de São Miguel.
As entradas são uma delícia. Eu comi o “Queijinho com Mel e Amêndoas” e adorei. E o prato principal mais tentador é o “Bife de Atum”, coberto por sementes de gergelim.
Mas o nosso preferido foi um restaurante bem mais popular, chamado Cervejaria Portas da Cidade. Comida caseira e atendimento feito pelo dono, um senhorzinho que nos contou do tempo em que ele era criança e que o ancoradouro era ali, bem atrás do restaurante.
Foi lá que ficamos sabendo sobre a história da construção da avenida e da remoção das portas e que vimos pela primeira vez uma imagem da cidade antiga.
De entrada, comemos Ovos Mimosa, que são ovos cozidos e divididos ao meio. A gema é retirada, picada, misturada com maionese e salsa e, depois, recolocada. Simples e gostoso. Depois, o clássico bacalhau de natas.
Mas o nosso jantar mais especial foi em um lugarzinho chamado Casa do Bacalhau. Não tanto pelo jantar, mas porque assistimos pela primeira vez a um show de fado, em um ambiente bem intimista, em uma sala para pouco mais de 20 pessoas.
O fado, música popular portuguesa, é reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Na sua forma mais tradicional, o cantor ou a cantora, chamados de fadistas, são acompanhanhos por dois músicos. Um toca a guitarra portuguesa, que tem formato de pera. O outro, a viola de fado.
O show que assistimos foi ótimo. Foram três fadistas diferentes, que cantaram clássicos do gênero, como as alegres “Uma Casa Portuguesa” e “Lisboa Antiga” e a sofrida “Nem às Paredes Confesso”.
Essas e outras das minhas preferidas estão nessa playlist que criei para vocês.
Pra fechar a noite com chave de ouro comi uma sobremesa maravilhosa: um pudim de laranja delicioso, servido nesse pratinho decorado com uma guitarra portuguesa desenhada na canela.
Ananás de São Miguel
E já que o assunto é comida: um dos grandes orgulhos dos micaelenses é o ananás.
É que o cultivo da fruta é feito de maneira tão tradicional, que passou a ser considerada um dos Produtos de Denominação Protegida dos Açores.
Quem está na ilha pode visitar uma plantação. Nós fomos na Augusto Arruda.
Embora muita gente diga que ananás é uma coisa e abacaxi é outra, a fruta é a mesma. Ela é de origem sul-americana, e todas as variedades pertencem à espécie Ananas comosus (L.) Merrill.
Então, por que os dois nomes? Esse post do “Blog Joy” explica que ananás é palavra de origem guarani. E os espanhóis que levaram inicialmente a fruta para a Europa usaram esse termo.
Já abacaxi seria uma palavra de origem tupi, que acabou sendo a mais difundida no Brasil.
As caracteristicas peculiares do Ananás dos Açores / São Miguel, como a coroa pequena (entre 1/3 e 1/4 do comprimento do fruto) e o índice de acidez elevado, são resultado da sua técnica especial de produção, aplicada há quase 200 anos.
As plantações são dentro de estufas de vidro e seguem métodos tradicionais, como a aplicação de “fumos” para indução da floração.
Quem visita a plantação pode entrar nas estufas que mostram as diferentes etapas do processo.
No final do primeiro ano, as plantas estão assim.
No começo do segundo, começa a fase de floração.
E, na metada do segundo ano, começa a fase de corte:
Além da Augusto Arruda, há outras plantações que podem ser visitadas. Esse artigo tem sites e endereços.
Baleias e golfinhos
Os Açores são um dos maiores santuários de baleias do mundo. Mais de 20 das 60 espécies existentes podem ser vistas na região, inclusive a baleia azul.
Ela é o maior animal do mundo e chega a ter 30 metros de comprimento e pesar 150 toneladas. Outros cetáceos também são comuns na região e é bem fácil avistar golfinhos. E, até mesmo, nadar com eles.
Na ilha de São Miguel, a maioria dos passeios para ver baleias e golfinhos sai de Ponta Delgada. Aqui tem uma lista de empresas especializadas.
Motivos pra ficar em Furnas (Povoação)
Do outro lado da ilha está a região que concentra a maioria dos banhos termais. Em Furnas mesmo ficam o Parque Terra Nostra e a Poça da Dona Beija, a pouco mais de 500 metros um do outro.
A cerca de 15 km dali estão também a praia de Ribeira Quente e a Caldeira Velha. Ou seja, 4 das 5 opções de banho termal estão nos arredores.
Outra vantagem de ficar ali é poder experimentar o tradicional Cozido das Furnas. Ele é um prato típico, em que carnes e legumes são cozidos por 6 horas embaixo da terra, com o calor dos vulcões. Para saber mais sobre isso leia meu post Comida Típica dos Açores: Cozido das Furnas.
Nos hospedamos no resort Terra Nostra, que dá acesso direto ao Parque Terra Nostra e é uma ótima pedida para quem quer aproveitar ao máximo as águas termais.
Outros Concelhos
Como a ilha é relativamente pequena, é possível visitar também os outros 4 Concelhos. Para ir de Ponta Delgada até Povoação, a gente passa por Lagoa e Vila Franca do Campo.
Em Lagoa, fomos ao Observatorio Vulcanológico e Geotérmico, que eu super recomendo. A visita é guiada e foi uma aula sobre vulcões, em que entendemos mais sobre toda aquela paisagem ao nosso redor.
Vila Franca do Campo foi a capital da ilha até 1522, quando tinha 5.000 habitantes, 25% da população de São Miguel na época. Nesse ano, um grande terremoto atingiu a região, o que provocou a mudança da capital para Ponta Delgada.
Algumas centenas de metros mar adentro fica o Ilhéu de Vila Franca, também conhecido como Anel de Princesa. Ele é a cratera de um antigo vulcão, com apenas uma abertura para o mar. Dependendo da maré, uma pequena praia se forma dentro dele.
O lugar ficou famoso quando passou a fazer parte do Circuito RedBull de Salto de Penhascos.
Esse site explica como ir até o Ilhéu no barco de turismo, que funciona entre junho e outubro.
Os outros dois Concelhos são Nordeste e Ribeira Grande. No Nordeste, paramos no farol do Arnel.
Melhor dizendo, no estacionamento que fica no alto. Para descer até a ponta, lá onde estão os barquinhos, tem que ser à pé, numa caminhada de uns 30 minutos.
Para subir foi o dobro. 🙂
Na Ribeira Grande, fomos ao Museu da Emigração e visitamos a Rota dos Chás.
O museu teve um gostinho especial para mim, pois, além de brasileira, sou gaúcha. E os açorianos tiveram um papel bem importante na colonização do meu estado, o Rio Grande do Sul.
Em meados da década de 1740, a coroa portuguesa passou a promover a emigração de açorianos para povoar os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina no Brasil, que, naquela época, ainda era colônia.
Em 1752, sessenta casais açoarianos instalaram-se em um lugar chamado Porto de Viamão. A cidade cresceu, virou capital da capitania e passou a se chamar Porto Alegre. Essa cidade, onde vivi por quase 20 anos, é minha cidade do coração.
E confesso que me emocionei com essa visita aos antepassados no pequeno e encantador museu em Ribeira Grande, que, desde 1982, é cidade-irmã de Porto Alegre.
Para quem quiser saber mais sobre o assunto, sugiro dois artigos: um sobre o povoamento do Rio Grande do Sul e outro sobre a migração de açorianos para o Brasil entre 1748 e 1756.
A Rota do Chá fica perto dali. O produto começou a ser cultivado nos Açores em torno de 1750, como planta ornamental. Foi só mais de 100 anos depois que os açorianos passaram a produzir chá para fins comerciais, seguindo métodos de cultivo chineses.
No final do século XIX, a produção era um négocio lucrativo e, no auge, os Açores chegaram a ter 14 fábricas. A mais antiga delas, a Gorreana, mantém sua operação até hoje.
A outra fábrica que ainda existe é a Porto Formoso. Olha que rica plantação de chá com vista para o mar!
Quem estiver pelos Açores em maio pode assistir a “recriação da colheita tradicional“, evento produzido pela Porto Formoso para marcar a apanha das primeiras folhas da produção do ano.
Eu visitei as duas fábricas e gostei delas de maneiras diferentes. A Gorreana é mais simples, a gente chega e fica à vontade, circulando entre as máquinas e uma sala espaçosa, onde o chá está disponível para todos.
A Porto Formoso, depois de duas décadas fechadas, foi reaberta pelos novos donos em 2001. Ela é mais estruturada, moderna e, nitidamente, está investindo em marketing. A consequência é uma visita mais organizada, com vídeos bem produzidos e uma sala de degustação com ar de restaurante.
São diferentes, difícil comparar. Então sugiro uma paradinha rápida em cada uma. Elas ficam a menos de 3 km uma da outra.
Quando ir a São Miguel
Em termos de clima, qualquer época é mais ou menos igual. A temperatura média fica em torno de 15 graus no inverno e 22 graus no verão.
É comum ter chuva e sol no mesmo dias, os micaelenses brincam que lá tem quatro estações em um dia só.
Eu fui no inverno, e estava bem agradável. A única coisa que não pude fazer em função da época foi visitar o Ilhéu de Vila Franca. O barco só funciona no verão.
Para saber mais
O post que mais me ajudou a organizar os passeios quando eu estava lá foi esse (em inglês), do blog GeekExplorer, escrito por um açoriano.
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