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O norte da Itália tem vários lagos cercados por cidades charmosíssimas.

O maior deles é o Lago di Garda, com 51 km de extensão e 16 km de largura.

Ele e as mais de 20 cidades ao seu redor estão entre os destinos de férias favoritos de italianos, alemães, suiços e austríacos.

As paisagens são lindas e há cidades para todos os gostos: algumas que parecem ter parado no tempo, outras com estrutura turística bastante desenvolvida, oferecendo muitas opções para quem gosta de esportes náuticos ou viaja com crianças.

Eu queria conhecer o lago e estava procurando por uma cidade que pudesse ser facilmente acessada a partir de Milão.

Escolhi Sirmione porque é uma das mais fáceis para quem pretende ir de trem.

O trem que vai de Milão para Veneza para em duas cidades às margens do lago, Desenzano e Peschiera.

De qualquer uma delas eu poderia pegar um ônibus ou um barco para Sirmione, uma cidade que tem um castelo medieval e que fica na ponta de um península, onde só se chega passando por uma ponte levadiça. Interessante, né?

No fim o acesso não foi tão fácil, mas a cidade me ofereceu muito mais do que eu esperava durante os dois dias em que fiquei lá.

O castelo medieval

O castelo Rocca Scaligera é a principal atração turística de Sirmione e foi textos sobre ele que encontrei quando comecei a pesquisar sobre a cidade. Por que ele é tão popular? Porque parece ter sido construído dentro do lago.

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sdrEle começou a ser construído no século XIII. Foi uma encomenda da  família della Scala (também chamada delli Scaligeri), que governava Verona.

O objetivo principal era proteger Sirmione, que, na época, pertencia à cidade de Verona. Localizada na ponta da península, a vila estava muito exposta aos inimigos.

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A construção começou com a parte onde ficam as torres, que garantem boa visibilidade do que acontece em todo o lago.

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Ao longo do tempo, o castelo foi sendo ampliado.

Foi considerado pronto com a construção do porto, um pouco mais de 100 anos depois.

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Por terra, a única maneira de acessar a cidade medieval era, e ainda é,  através de uma ponte levadiça.

mdeHoje o castelo pode ser visitado e a gente pode caminhar pelos muros e pelo porto. Vale muito o passeio!

Mas tem mais: um lugar super agradável com vistas deslumbrantes

Os turistas que dão uma passadinha rápida na cidade apenas para conhecer o castelo estão perdendo o melhor de Sirmione: andar pelas colinas que existem atrás da cidade medieval, visitar a encantadora Igreja de San Pietro in Mavino e conhecer as praias do lago.

A Lido delle Bionde (Praia das Loiras) é a mais acessível. Se chega nela por um caminho bem sinalizado no Parque Público Tomelleri.

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Mais escondidinha fica a praia Jamaica, que pode ser acessada apenas por uma trilha que começa na entrada das Grutas de Catullo.

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O lugar é lindo, os tons de azul e verde do lago, deslumbrantes.

Não foi à toa que a cantora de ópera Maria Callas, casada com o milionário grego Onassis, decidiu ter uma casa de férias lá.

sdrPara completar o espírito relax da área: em Sirmione fica um dos principais centros de águas termais da Itália.

Para aproveitar as águas, é possível passar o dia no SPA Termal Acquaria, visitar um dos dois centros termais (Termas Catullo e Termas Virgilio) ou ficar em um dos hotéis que oferecem banhos termais. Esse post (em inglês) conta tudo sobre isso.

Ruínas romanas: as “Grutas” de Catullo

A região de Sirmione é habitada há mais de três mil anos. Mas a cidade passou a ter importância durante o Império Romano, quando era um balneário das famílias ricas de Verona.

As ruínas de uma das mansões ainda existem – de fato, apenas a estrutura que sustentava o gigante prédio. Acredita-se que a propriedade pertencia à família do poeta Catullo.

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O nome “grutas” vêm da Renascença. Nessa época o termo era utilizado para indicar  antigas estruturas em ruínas cobertas por vegetação que havia crescido ao seu redor.

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Quem visita o sítio arqueológico, além de ter vistas espetaculares e muitos lugares para fazer piquenique, pode também visitar um pequeno museu que conta a história da ocupação da área.

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Igreja San Pietro in Mavino

Ela fica no alto de uma colina de mesmo nome. Acredita-se que a pequena igreja tenha sido construída no século VIII.

davEu tive uma experiência pessoal interessante com essa igreja, por isso ela adquiriu um significado especial para mim.

Eu não sou religiosa, mas respeito muito “o sagrado” e a maneira que as pessoas encontram para expressar sua fé, seja ela qual seja.

Cheguei nessa igrejinha modesta, com antigos afrescos, num final de tarde .

Naquela mesma manhã eu tinha visitado o Duomo de Milão, uma das maiores catedrais do mundo.

Linda, impressionante, mas com tanta riqueza e ostentação que me lembrava mais um museu ou uma galeria de luxo do que um lugar onde as pessoas buscam e encontram paz.

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Entrar na pequena San Pietro in Mavino, no alto de uma colina, na beira daquele lago tão lindo, num lugar de tanta paz e simplicidade, reestabeleceu a minha conexão com o sagrado.

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A história da igreja não é muito precisa. Documentos antigos indicam que essa era uma das três igrejas existentes em Sirmione na época da ocupação lombarda (séculos VI a VIII).

Uma parede de tijolos perto da entrada mostra o ano 1320. Os afrescos de dentro da igreja parece ser de quatro diferentes fases, entre esse mesmo ano e 1525.

Essa imagem é do afresco mais antigo, “Santo con devotti“, pintado em 1321.

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A segunda igreja do período lombardo era a de San Martino, que ficava onde está a hoje a igreja Santa Maria Maggiore, construída no século XV.

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A terceira é a igreja dos santos Vito e Modesto, que ainda existe hoje (no mesmo lugar, mas em um prédio novo, construído no século XVIII).

O outro prédio religioso dessa época é o Monastero di San Salvatore, do qual se vê hoje apenas uma parede.

O mais interessante de dar uma passadinha pelo local é ver um mapa que mostra como Sirmione seria em torno do século XV.

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A moderna Sirmione

Tirando essas três fases movimentadas (Império Romano, período lombardo e controle da família Scaligeri), Sirmione teve uma existência pacata e de pouca importância.

Até o final do século XIX, quando uma fonte de água termal sulfurosa, que já era conhecida desde a Renascença, foi finalmente canalizada, possibilitando o surgimento dos primeiros SPAs na área.

O turismo explodiu na região ao longo dos últimos 70 anos. Não apenas no centro histórico (a área triangular que ocupa a maior parte da foto abaixo), mas também em toda a extensão estreita da península e na região adjacente, lá no fundo, chamada de Colombare e Lugana.

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Colombare e Lugana

Essas áreas que são extensões de uma cidade principal são chamadas, em italiano, de frazziones.

É possível hospedar-se em Colombare e Lugana e acho que pode ser interessante para quem está viajando de carro e quer ter apenas uma base em Sirmione para explorar as outras cidades.

Ou para quem está simplesmente descansando por uns dias ou viajando com crianças e quer desfrutar das praias do lago.

Tanto Colombare quanto Lugana têm muitos condomínios, parques e praças, bons locais para caminhar e andar de bicicleta e vários restaurantes.

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Mas para quem está fazendo turismo e quer ficar perto dos pontos mais interessantes é mais negócio hospedar-se entre a Rocca Scaligeri e as Grutas de Catullo.

Toda a área é cheia de hotéis e de um extremo a outro a distância é de apenas 1 km. Quem fica entre a Rocca Scaligera e o Hotel Broglia fica no centro do agito. Quem se hospeda entre esse hotel e as Grutas de Catullo, fica na área mais verde e mais tranquila.

Ficar nessa região também é o melhor para quem quer explorar as cidades do lago de barco, já que o porto de Sirmione fica dentro da cidade medieval.

Duas linhas públicas de navegação conectam as cidades por meio de 29 paradas.

Para ter uma ideia sobre o que fazer e quanto tempo ficar nas outras cidades, sugiro uma espiada no site Lago di Garda.

Dicas práticas

Muitos turistas vão passar o dia no centro histórico de Sirmione, por isso é bem ruim caminhar por lá ou andar de carro durante o dia – tudo bastante lotado.

Uma das vantagens de hospedar-se na cidade medieval é poder desfrutar dela com tranquilidade de manhã cedinho e após o anoitecer.

Sobre o trajeto: lembra que eu falei que escolhi Sirmione em função da facilidade de acesso a partir de Milão? Pois é, não foi tão fácil quanto eu pensava.

Eu achei que era só pegar o trem em Milão, descer em Desenzano ou Peschiera e pegar o ônibus para Sirmione.

Mas quando cheguei em Sirmione estava, na verdade, no centrinho de Colombare. E precisei pegar ainda o ônibus urbano, chamado Bus Navetta, até Rocca Scaligeri.

Sirmione NavettaJá cansada, ainda tive que carregar a mala até o hotel pelas ruas de pedras irregulares e lotadas de turistas.

Teria sido bem mais fácil ter pego o barco do que o ônibus, mas eu não sabia e não tinha planejado os horários de maneira adequada.

Quer se organizar pra isso? O site Navigazione Laghi tem todos os horários de barco entre Peschiera, Desenzano e Sirmione. Basta clicar em “Timetables and Lines” e escolher a rota “Desenzano-Peschiera-Riva”.

Na volta, foi isso que fiz. Peguei o barco bem pertinho do hotel e desci em Desenzano. Muito mais fácil do que fazer o trajeto por terra.

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De lá, foi só pegar o trem de volta para Milão.

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Só um cuidado: o caminho entre o porto e a estação, tanto em Desenzano quanto em Peschiera, é um pouquinho longo (mais de 1km), e, em Desenzano, a estação de trem é no alto de um morro.

Então é bom calcular uma folguinha entre os horários de trem e barco. E, pra quem estiver com mala, sugiro um táxi.

Peschiera del Garda

Para terminar, vou te contar um pouquinho dessas duas cidades que visitei no caminho.

Peschiera fica na província de Verona e está a apenas 25 km da cidade de Romeu e Julieta.

Sua fortaleza e fortificações foram fundamentais para o controle da Lombardia. Durante o tempo em que Veneza controlou a região, elas foram parte do Sistema de Defesa Veneziano, que é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Já durante o período em que a Áustria controlou o norte italiano, a mesma estrutura foi parte do “Quadrilateral“, uma combinação de quatro cidades fortificadas que apoiavam umas às outras (as outras eram Verona, Mantua e Legnago).

Hoje a cidade é super turística. Tirando um trechinho antigo da cidade, com ruas estreitas e prédios antigos, o resto é um grande resort, com prédios novos e muitos hotéis e restaurantes.

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A parte boa disso é a estrutura: uma orla super agradável e muitas opções para esportes náuticos. É fácil alugar uma lancha ou um jet ski e ir dar uma volta pelo lago.

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Desenzano

Com uma população permanente de quase 30 mil habitantes, a cidade é um dos maiores centros urbanos do Lago di Garda.

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No primeiro domingo de cada mês acontece lá uma feira de antiguidades.

A cidade lembra um pouco Sirmione: foi importante no período do Império Romano, do qual ainda preserva algumas ruínas, e tem um castelo medieval no centro da cidade.

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As vistas para o lago também são lindas. Para saber mais sobre o que conhecer nessa cidade, visite o site da prefeitura.