Essa parte da cidade inclui cinco pontos turísticos populares: a roda gigante London Eye, o museu Tate Modern, uma réplica do teatro onde Shakeaspeare trabalhava, o mercado-gourmet Borough Market e o arranha-céu Shard.

Você passa por todos eles em uma caminhada de menos de 3km pela margem sul do rio Tâmisa.

A maior parte do trajeto fica no bairro Southwark. E, entre as pontes London Bridge e Blackfriars, você estará em uma agradável rua de pedestres chamada de Bankside.

Os dois termos, Bankside e Southwark, são usados como referência a essa área da cidade.

Origens de Southwark, um dos bairros mais antigos de Londres

Quando a cidade foi fundada pelos romanos na margem norte do Tâmisa (na área chamada hoje de City), eles construíram também uma ponte, onde hoje fica a London Bridge.

Na margem sul da ponte, fora dos muros da cidade, mercadores vendiam seus produtos para a população. Com o tempo, foram surgindo hospedarias e pensões.

Apareceram também os primeiros bordéis, e, com o passar do tempo, lá surgiriam também teatros. Southwark, no tempo de Shakeaspeare (1564-1616), chegou a ser a principal área de entretenimento dos londrinos.

Com o passar do tempo e a chegada da Revolução Industrial, Southwark tornou-se uma região portuária, e várias indústrias desenvolveram-se na região.

Mas, na década de 1970, com a instalação de portos maiores mais adiante no rio, as docas nessa área central da cidade começaram a ser fechadas, levando também ao fechamento das fábricas.

Um grande processo de revitalização aconteceu na área nos últimos 20 anos do século XX, incluindo a inauguração do teatro Globe e do Museu Tate, dos quais vamos falar em seguida.

A gentrificação do bairro continuou com construções do outro lado da Borough High Street, a rua da Ponte de Londres: em 2012 ficou pronto o Shard, prédio mais alto do Reino Unido até hoje (2021).

William Shakeaspeare, o Bardo de Avon

O prédio redondo chamado de Shakeaspeare’s Globe é uma réplica do teatro em que Shakeaspeare trabalhava e onde a maioria de suas peças foi apresentadas pela primeira vez.

A réplica foi construída a poucos metros de onde ficava o prédio original.

Mas esse não foi o primeiro local de trabalho de Shakeaspeare. Quando ele chegou em Londres, trabalhou no Theatre, fundado em 1576, que ficava na margem norte do rio (Shoreditch).

O Theatre foi destruído por um incêndio em 1599. Quando isso aconteceu, o poeta e seus sócios usaram o material para construir um novo teatro, o Globe, em Southwark.

Lá já havia outros teatros, dos quais os mais populares eram o Rose, fundado em 1587, e o Swan, fundado em 1595.

A vida de Shakeaspeare

Ele nasceu em uma pequena e próspera cidade chamada Stratford-upon-Avon, em 1564.

Embora sua carreira tenha desenvolvido-se em Londres, seus laços afetivos parecem ter sido sempre com sua cidade natal.

Foi lá que ele casou, teve filhos e onde sua família ficou enquanto ele trabalhava em Londres. E foi também para lá que ele voltou em 1613, onde viveu até sua morte, em 1616.

A primeira menção à sua presença em Londres é de 1592, quando ele já trabalhava como escritor e ator no Theatre. Foi lá que a peça Romeu e Julieta foi apresentada pela primeira vez.

Uma curiosidade do teatro inglês nessa época é que só homens podiam atuar.

Os papeis femininos eram interpretados por meninos, provavelmente até a idade em que sua voz engrossa (o mais velho intérprete de papel feminino de que se tem conhecimento tinha 20 anos).

Até 1594, Shakeaspeare trabalhou como free lancer. A partir daí, passou a ser parte da companhia de teatro organizada por Henry Carey, que era Lord Chamberlain da corte da rainha Elizabeth.

Lord Chamberlain era o título do oficial responsável pelo entretenimento da rainha e sua corte. Com esse fim, ele possuia uma companhia de teatro, que era chamada de “Os Homens do Lord Chamberlain” (Lord Chamberlain’s Men).

Shakeaspeare escreveu, atuou e foi sócio dessa companhia desde sua fundação. E tornou-se um homem rico: sabe-se que, já em 1597, ele conseguiu comprar para sua família a segunda maior casa de Stratford-upon-Avon.

E, em 1599, Shakeaspeare teve condições financeiras de participar como sócio na construção do teatro Globe.

Em 1603, quando a rainha Elizabeth faleceu e foi substituída por James I, o rei passou a ser o patrono da companhia, que, por isso, passou a chamar-se “Os Homens do Rei” (The King’s Men).

Chegaram até nós 38 peças de Shakeaspeare. O que é pouco conhecido é que muitas das peças foram escritas por ele e mais alguém, já que, naquela época, era comum uma peça de teatro ter dois ou mais autores.

Quase metade das 38 peças de Shakeaspeare que chegaram até nós são comédias, mas hoje ele é mais conhecido por suas tragédias, como Romeu e Julieta, Hamlet, Rei Lear, Othelo e Macbeth.

Para entender o rápido sucesso de Shakeaspeare é importante saber que o período entre 1576, ano da fundação do Theatre, e 1642, ano em que o governo mandou fechar todas as casas de espetáculo, é considerado o a melhor fase do teatro britânico.

O Globe pegou fogo em 1613, no meio de uma apresentação. Logo após esse episódio, Shakeaspeare voltou para sua cidade natal, de onde nunca mais retornou. Ele morreria três anos depois.

O teatro, reconstruído, continuou funcionando até 1642. Esse foi o ano em que o governo inglês mandou fechar todos os teatros. Dois anos depois o prédio foi destruído.

O novo Globe

O novo Globe, uma réplica do original, ficou pronto em 1997.

Ele fica a apenas 183 metros do local onde estava o teatro original, onde hoje existem apenas placas comemorativas.

A reconstrução do teatro foi minuciosa e baseada em registros históricos. Inclusive, o telhado de sapê é único na cidade: esse tipo de telhado, que era popular na Idade Média, é proibida em função do risco de incêndio.

Mas uma exceção foi aberta para esse prédio, em função de seu caráter histórico.

Além de ser aberto para visitação, o prédio é também palco para apresentações de teatro.

O repertório é formado principalmente por obras de Shakeaspeare, mas, às vezes, também de outros autores. A temporada vai apenas de maio a outubro (verão), pois o teatro é aberto.

Eu não consegui assistir a uma peça lá, mas fiz uma visita guiada que, apesar de cara (17 libras), valeu a pena.

O prédio é lindo, e a gente aprende bastante sobre como era viver na cidade na época de Shakeaspeare.

Para assistir uma peça no Globe, confira aqui a programação.

Assim como acontecia quando Shakeaspeare estava à frente da companhia, os ingressos na beira do palco tem preços populares: custam apenas 5 libras (mas você vai ter que assistir a peça em pé, como acontecia na Idade Média).

Old Southwark (Borough)

Saindo do teatro e entrando na rua Clink, você vai ver esse graffiti homenageando Shakeaspeare, pintado pelo artista James Cochran (também conhecido como Jimmy C.).

Aqui você já está entrando na parte mais antiga do bairro, chamada de Old Southwark ou Borough.

Essa área, parte da Londres medieval, está intimamente ligada a história dos Bispos de Winchester.

Winchester é uma cidade que fica a 110 quilômetros de Londres. No século XII, os bispos de Winchester, que frequentemente iam a Londres, construíram esse palácio, que era o local onde eles se hospedavam quando estavam na cidade.

O prédio foi ocupado pelos bispos de Winchester até 1626. Depois disso, o prédio foi vendido e dividido em várias partes, algumas passando a ser usadas como moradia, outras como depósito.

Quando um incêndio destruiu vários prédios naquela área, em 1814, restos do prédio original foram descobertos, incluindo uma janela redonda, conhecida como Rose Window ou Winchester Rose.

O palácio medieval era enorme, incluindo dois pátios, muitos jardins e uma prisão, que funcionou entre os anos 1144 e 1780.

No século XIV ela passou a ser chamada de Clink, não se sabe exatamente por que. O prédio é hoje um museu interativo.

Os Winchesters também estão ligados à Southwark Cathedral, que é uma das igrejas mais antigas de Londres e a primeira construída em estilo gótico.

Acredita-se que havia um convento ali já no século VII. No século IX, ele teria sido substituído por um colégio de padres, possivelmente já por obra de um bispo de Winchester.

No século XII, um outro bispo de Winchester, William Gifford, ajudou a transformar o local em uma igreja.

Esse prédio pegou fogo em 1212 e foi substituído por um novo. Ele precisou ser reconstruído em 1390, após um novo incêndio, mas o estilo arquitetônico gótico do prédio original foi mantido.

Há várias opções de visita guiada na catedral, incluindo uma com foco nos vitrais, que são o destaque da igreja.

Estou incluindo aqui um post que conta mais sobre a história da igreja, mas por um motivo especial: ele tem uma foto linda, com a igreja antiquíssima em primeiro plano e o moderníssimo prédio Shark ao fundo.

Havia um barco no meio do caminho

Entre o palácio Winchester e a Southwark Cathedral, você, com certeza, vai ver o Golden Hinde, uma réplica em tamanho natural do navio com que o almirante Sir Francis Drake circunavegou o mundo entre 1557 e 1580.

Drake é o navegador mais importante da era Elizabetana (reinado da rainha Elizabeth I, de 1558 a 1603), período em que a Inglaterra começava a tornar-se uma potência naval.

O navio pode ser visitado e há várias opções de eventos educativos, incluindo alguns noturnos. O espaço também pode ser alugado para eventos. Mais detalhes aqui.

Borough Market

Para encerrar nosso passeio desse lado da ponte, vamos para o Borough Market, conhecido como um dos melhores de Londres para comida de boa qualidade.

Aqui você encontra a lista de estandes; e esse post do blog Secret London dá dicas sobre o que comer por lá.

Querendo ver mais um prédio medieval ou tomar uma cerveja, caminhe até a Borough High Street, a rua da London Bridge, e procure pelo George Inn, que existe desde 1543 e, dizem, era frequentado por Shakeaspeare.

O local é hoje um pub, listado entre os dez melhores da cidade.

Do outro lado da Borough High Street: London Bridge City e Bermondsey Street

Atravessando a Borough High Street, você logo chega em uma área renovada da cidade, a London Bridge City.

Nos arredores, três locais interessantes: o arranha-céu Shard, o mercado Vinegar Yard e a rua Bermondsey.

O Shard, que até hoje (2021) é o arranha-céu mais alto da cidade, pode ser visto na foto abaixo. Ele tem um terraço panorâmico com vista para toda Londres e, também, um champagne-bar. Aqui você pode programar uma visita.

O prédio fica em London Bridge City, um complexo imobiliário na margem do rio. De lá você tem uma vista excelente para a Tower Bridge.

Há poucos metros dali, fica o mercado Vinegar Yard. Ele é conhecido por suas formigas gigantes, obra do britânico Joe Rush.

Rush, que se auto-declara um artista punk, é um dos fundadores do coletivo Mutoid Waste Company, que existe desde 1984.

Saindo do Vinegar Yard você já está na rua Bermondsey, que no passado era uma área de curtumes e fábricas de alimentos.

Hoje a rua é cheia de bares e restaurantes, lojas alternativas, street art e alguns museus, como o Museu da Moda e Têxteis e a galeria de arte White Cube.

Museu Tate Modern

Uma última atração em Southwark é o Tate Modern, uma das 3 atrações turísticas mais visitadas do país. Ele fica em uma antiga estação de energia, na margem do Tâmisa.

Várias áreas do prédio original foram preservadas e, quem tem interesse por arquitetura, pode encontrar informações interessantes aqui.

Eu não entrei, mas esse post do blog Pra Ver no Mundo dá detalhes sobre a visita.

O Tate Modern é um dos 4 museus que formam o Museu Nacional de Arte Moderna do Reino Unido. Seu foco é arte moderna e contemporânea internacional.

O outro museu do grupo em Londres é o Tate Britain, que foca em artistas britânicos. Os outros prédios ficam em outras cidades do país: Liverpool e Sant Ives.

Vale a pena hospedar-se nessa área?

Eu já fiz isso, e gostei muito.

Fiquei na Southwark Street, pertinho do Tate Museum. Além de poder desfrutar dos fins de tarde na beira do Tâmisa, bastava atravessar uma das pontes para já estar na City ou em Westminster (Soho, Covent Garten, Theatherland).

Além disso, o acesso ao transporte público é excelente, não apenas a ônibus e metrô, como, também, ao River Bus. Eu estava pertinho da estação Bank, de onde peguei um barco para ir até Greenwich.

Achei o custo-benefício excelente!

Se você resolver se hospedar por lá, essas são algumas opções de hotéis bem localizados: Mercure London Bridge, Holiday Inn Southwark, CitizenM Bankside e Premier Inn Southwark (Tate Modern ou Borough Market).