Fui surpreendida pela capital do Marrocos, Rabat.

Não esperava encontrar no país africano uma capital moderna, com avenidas largas e prédios imponentes.

Passei apenas um dia na cidade e fiquei morrendo de vontade de voltar para conhecer melhor.

Patrimônio Cultural da Humanidade

A capital do Marrocos tem três áreas reconhecidas como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO: uma grande quadra onde ficam a mesquita e a torre Hassan (século XII) e o mausoléu do rei Hassan V (séc. XX); a cidade nova construida pelos franceses entre 1912 e 1930; e o bairro Diour Jamaâ, também construído pelos franceses, mas inspirado nas antigas cidades árabes.

Mas Rabat é bem mais antiga do que isso. Os romanos, há mais de dois mil anos atrás, fundaram lá uma cidade com porto, conhecida hoje com Chellah.

As ruínas de Chellah podem ser visitadas. Lá, uma vez por ano, acontece também um festival de jazz europeu.

Quase capital imperial

Mais tarde, provavelment no século VIII, um monastério (ribat) foi construído na costa, há cerca de 4 km de Chellah.

Isso provocou uma migração da população local, em especial para Salé, cidade do outro lado do rio Bou Regreg, fundada no ano 1050.

A região de Chellah – onde hoje fica Rabat – voltaria a crescer no ano de 1150, quando a dinastia Almohad construiu lá uma fortaleza (kasbah).

A construção dessa fortaleza, o Kasbah dos Oudaias, foi o início da construção de uma nova cidade imperial.

Com o passar do tempo, os muros do Kasbah foram ampliados. Hoje ainda pode ser vista lá a mais imponente de suas portas, a Porta de Er-Rouah (Bab er-Rouah).

Também é dessa época a construção de uma grande mesquita e de uma torre, inspirada nas torres de Marrakesh e Sevilha, a torre de Hassan.

A mesquita funcionou até 1755, quando foi destruída pelo terremoto que também destruiu Lisboa. Apenas alguns pilares ainda estão no local.

A torre resistiu e ainda está lá.

Mas o projeto da nova capital dos Almohads nunca ficou pronto: em 1199, após a morte do califa que havia idealizado a cidade, Rabat perdeu sua importância.

A chegada dos andaluzes

Ela era praticamente uma vila no século XVII, quando mouros andaluzes migraram da Espanha para o Marrocos.

Sem sentir-se comprometidos com o sultão, os andaluzes que se estabeleceram no local fundaram a República de Salé.

Sua atividade principal: a pirataria.

Eles eram tão bons nisso, que viraram personagem do romance Robinson Crusoé, publicado em 1719. O personagem-título, antes de encontrar o índio Sexta-Feira, é aprisionado pelos piratas de Salé.

A região de Rabat-Salé só foi reintegrada ao Marrocos no reinado de Moulay Ismail, o fundador da cidade de Meknes, sobre o qual já falei aqui.

Ainda assim, informalmente, os piratas continuaram exercendo suas atividades até 1829, quando os austríacos bombardearam a cidade.

O Palácio Real de Rabat

Nesse meio-tempo, a dinastia alaouite, que governa o Marrocos desde 1672, construiu seu primeiro palácio na cidade.

O palácio que existe hoje é uma reconstrução do ano 1864.

Mesmo abrigando um dos palácios da família real, Rabat foi uma cidade de segunda grandeza até que os franceses, em 1912, resolver fazer da cidade sua capital (após protestos na então capital, Fez).

Para manter o sultão sob seu controle, os franceses fizeram com que a família real também fosse viver lá – exatamente nesse palácio.

O palácio real (Dar al-Makhzen) fica dentro de uma ampla área murada (um bairro chamado Touarga) que inclui uma enorme praça para eventos oficiais (meshouar), uma mesquita, várias embaixadas, uma escola, uma biblioteca e alguns prédios residenciais.

Visitantes são bem-vindos no jardim.

Nós entramos pela Porta dos Embaixadores (Bab Soufara).

No caminho para o palácio, passamos pela mesquita Ahl Fas, também do século XVIII.

A Rabat moderna que vemos hoje é fruto dessa fase.

Quando os franceses chegaram, eles preservaram a Medina (cidade antiga, entre os muros construídos no século XII e no século XVII).

Para acomodar suas necessidades, construíram uma cidade moderna, a Ville Nouvelle, que é uma continuação da Medina em direção ao palácio.

Os franceses também construíram grandes avenidas, muitas áreas verdes e prédios amplos e modernos.

Capital do Marrocos independente

Quando o Marrocos tornou-se independente, em 1956, a família real decidiu manter a cidade como capital do país.

Hoje, Rabat e a vizinha Salé contam com mais de 1 milhão e meio de habitantes.

Menos turísticas do que Marrakesh e Fez, as duas são excelentes opções para quem quer conhecer a história e cultura do país com tranquilidade.

Um dos prédios recentes da cidade é o mausóleu do rei Mohamed V.

Este é aquele sultão que vinculou-se ao movimento de independência do país, sobre o qual já falei nesse post.

A Rabat do Futuro

Do Mausoléu, já no final de 2022, quando estive lá, era possível enxergar, quase pronto, o maior-arranha céu do continente africano (a torre iluminada que você enxerga no lado direito da foto abaixo).

Chamado de Torre de Mohamed VI (nome do atual rei do Marrocos), o prédio fica às margens do rio Bouregreg, exatamente entre Rabat e Salé.

Ele é parte do Projeto de Desenvolvimento do Vale do Bouregreg, que vai criar uma nova área residencial e comercial na capital.

O complexo também irá incluir uma nova marina, uma ponte e duas linhas de trem.

Dicas Práticas

Rabat é super bem conectada à Europa, com vôos regulares para um número imenso de cidades. Também há vôos diretos para os Estados Unidos e Canadá.

Três dias cheios são suficiente para conhecer Rabat e Salé.

A área central da cidade, de forma geral, é moderna, limpa e segura. As distâncias não são grandes. Por exemplo, entre o Kasbah dos Oudaias até o Mausoléu de Mohamed V, são apenas 30 minutos à pé.

E do Mausoléu até Chellah ou o Palácio Real, mais uns 30 e poucos.

Na internet você encontra várias sugestões de roteiro à pé pela cidade, e, também, opções de passeio com guias locais.

Para movimentar-se, também é possível usar o transporte público (metrô de superfície) ou táxi.

A oferta de hotéis na cidade é boa. Eu fiquei no Hotel Rihab Rabat, e foi bem ok.

Além disso, de Rabat é super fácil ir até Casablanca (1 hora de trem), onde fica a lindíssima Mesquita de Hassan II.

Se você está achando que, em Casablanca, também vai encontrar os cenários do filme de mesmo nome, esqueça: ele foi totalmente filmando em estúdio, nos Estados Unidos.

Nossa salvação é que uma norteamericana que foi morar em Casablanca resolveu construir na cidade o bar do filme (Rick’s Cafe). Vale a pena conferir!