Praga, a capital da República Tcheca, já foi uma das cidades mais importantes do mundo, quando o Imperador Charles IV, descendente de Carlos Magno, governou, de lá, todo o Sacro Império Romano (1355 – 1378). A cidade chegou a ser a terceira maior da Europa, ficando atrás apenas de Roma e Constantinopla.

Origens (5000 AC – séc IX)

A origem de Praga é bem mais antiga. Foram encontrados vestígios de povoações agrícolas que lá viveram entre 5000 e 2700 AC e de povoados celtas que ocuparam a região entre 400 e 200 AC.

Como cidade, Praga surge no século IX. Conta uma das lendas que Libuse, uma bela, rica e valente princesa eslava, um dia sonhou que naquele lugar se ergueria uma cidade “que tocaria as estrelas”.

E que essa cidade seria a porta do paraíso. Ela então cria a cidade e a chama de Praha, que em eslavo antigo significa porta.

Até ai, Libuse era solteira, mas seus conselheiros insistem para que ela case, porque a presença de um rei faria com que o povo se sentisse mais seguro.

Libuse decide então que seu consorte será escolhido não por eles, mas por seu cavalo de confiança: ela o solta e diz que casará com aquele que estiver onde o cavalo parar.

O cavalo para ao lado de um agricultor (belo, inteligente e solteiro – eita cavalo esperto!), com o qual Libuse se casa.

Libuse e Přemysl tiveram 3 filhos, e isso deu início à dinastia Přemyslid, que governou as terras tchecas até a morte de Wenceslau II, em 1305, e de seu filho Wenceslau III, em 1306.

O nome Reino da Boêmia é do século XII: as terras tchecas passam a ser assim chamadas após o reconhecimento do reino pelo papa Inocêncio III.

Nessa época, tendo conquistado boa parte do que hoje é a Alemanha, Áustria e Eslovênia, essa dinastia era uma das mais importantes da Europa Central.

Uma das figuras mais importantes período é Wenceslau I (907 – 935), duque da Boêmia, que virou santo e deu origem a uma das mais conhecidas músicas de Natal nos países de língua inglesa: Good King Wenceslas.

Mas a história verdadeira não é bem a da música… essa é uma versão bem mais próxima da realidade.

A cidade medieval ainda existe. Do lado esquerdo do rio, fica o Castelo de Praga, que começou a ser construído em 870. Seu prédio mais antigo é a Basílica de São George, cujas obras iniciaram em torno de 920.

Do lado direito do rio, onde hoje estão as ruas Revoluční, Na Příkopě e Národní (em azul no mapa abaixo), ficava o fosso do castelo.

Entre essas ruas e o rio fica a Cidade Antiga (Staré Město), onde podem ser vistos a Old Town Square (praça mais antiga da cidade) e a Antiga Nova Sinagoga (construída em 1270).

Ainda nessa época, a outra área ocupada era a região ao redor do castelo, hoje chamada de Malá Strana. Mas, por ter sido destruída muitas vezes, o que se vê nessa região hoje são construçõs mais novas, do século XVI em diante.

Apogeu (séc XIV – XVI)

Em 1306, a dinastia Přemysl havia acabado; mas a família retornaria ao poder quando o neto de Weceslau II, Charles IV, é coroado rei da Boêmia (1347). Charles IV era neto de Wenceslau II.

Charles IV é a segunda figura-chave para quem visita Praga. Durante seu reinado, a Boêmia se beneficiava não apenas da riqueza alheia (como todos os outros, o exército da Boêmia se apropriava da riqueza dos derrotados), como também da extração de prata das minas de Kutná Hora.

Graças a isso, Charles IV pôde investir na cidade: ele construiu a Cidade Nova (Nové Město); a ponte Charles IV (onde antes havia a ponte Judith, destruída por uma enchente), ligando a Cidade Antiga à Malá Strana; a Universidade Carolina de Praga, uma das mais antigas do mundo ainda em funcionamento; e a Catedral de Saint Vitus, igreja gótica dentro do Castelo de Praga.

Depois da morte de Charles IV, a cidade passou por períodos tumultuados: Jan Hus, reitor da universidade e teólogo, e hoje considerado predecessor de Calvino e Lutero nas reformas protestantes, começou a pregar contra a venda de indulgências pela Igreja.

Excomungado e morto, foi vingado por seus seguidores, que fizeram a Primeira Defenestração de Praga – sim, jogaram pela janela da prefeitura da Cidade Nova (Novoměstská radnice), em 1419, sete membros do Conselho da Cidade -, dando início às Guerras Hussitas, que duraram cerca de 15 anos.

Segundo a nossa guia na cidade, 3% dos tchecos, ainda hoje, se declara hussita quando perguntado sobre qual a religião que segue.

Dessa época, vale a pena ver o relógio astronômico de Praga. Construído em 1410, é o terceiro mais antigo desse tipo e o único ainda em funcionamento.

Queda (séc XVII – XIX)

Mas foi a segunda defenestração de Praga que teve maior impacto na história da Europa: ela é considerada o marco inicial da Guerra dos 30 Anos, entre católicos e protestantes, que só terminou em 1648, com a Paz de Westfália.

Esse acordo, além de dar fim à guerra, teve impacto no mundo todo. Para essa região, o conflito significou a morte de 2/3 da população de Praga, que caiu de 60 para 20 mil habitantes.

E, também, o enfraquecimento do Sacro Império Romano: os países que lhe ajudaram a derrotar os protestantes, também lhe tomaram parte do território.

E os tratados de paz autorizavam que cada reino seguisse a religião que quisesse, o que provocou a descentralização dos países de idioma germânico.

A dissolucão legal do Sacro Império Romano aconteceria menos de 2 séculos mais tarde, quando, em 1806, o Imperador Francisco II abdicou e liberou todos os reinos e oficiais de seus compromissos com o Império.

Mas, antes disso, Praga ainda viveu bons momentos: foi lá que Mozart escreveu Don Giovanni, que teve sua première no Teatro Nacional de Praga.

Na frente do prédio há uma interessantíssima escultura: a estátua de pedra do Commendatore (personagem dessa ópera).

Ao fim do Sacro Império Romano, o reino da Boêmia passa a fazer parte do Império Austríaco.

Entre 1806 e 1914, a cidade recebe austríacos e alemães importantes, como Albert Einstein, que lecionou na Universidade Carolina por alguns meses e que tinha entre seus amigos os escritores tchecos Franz Kafka e Max Brod.

O agitado século XX

Com a dissolução do Império Austro-Húngaro, em 1918, a Boêmia une-se à Eslováquia, que nesse mesma época separava-se da Hungria, formando a Tchecoslováquia. A curta história da Tchecoslováquia é cheia de emoção:

  • Hitler entrou em Praga em 15 de março de 1939 e, do Castelo de Praga, declarou a Boêmia e a Morávia como protetorado germânico.
  • Os judeus, que ao final da guerra dos Trinta Anos chegaram a representar 25% da população da cidade, foram enviados para campos de concentração e mortos.
  • Um dos homens fortes de Hitler, Reinhard Heydrich, foi morto lá, na Operação Anthropoid
  • E, já no final da guerra, Praga foi bombardeada pelos Estados Unidos, que alegou “erro de navegação” – registram-se 71 mortos, mais de 1.000 feridos e a destruição de muitos prédios históricos.
  • Finalmente, 4 dias antes do fim da II Guerra Mundial, Praga é libertada dos nazistas pelo Exército Soviético.
  • Sob ocupação soviética, a cidade passa pela Primavera de Praga (1968) e pela Revolução de Veludo (1989), que marca o fim do comunismo.
  • E, finalmente, ocorre a dissolução da Tchecoslováquia (1993), da qual resultam dois novos estados: República Tcheca (capital: Praga) e Eslováquia (capital: Bratislava).

A história do período comunista pode ser vista na praça Wenceslau (um longo boulevard, que foi o grande palco das manifestações populares do século XX) e na prisão de Pribram (utilizada pelo regime comunista).