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O meu objetivo na Holanda era ver tulipas e moinhos de vento e visitar Giethoorn, essa cidadezinha fofa aí de cima, que, vira e mexe, aparece numa dessas listas de “cidades que parecem cenário de contos de fada”.
A gente sabia que o lugar mais famoso pelas tulipas é o Parque Keukenhof; e os moinhos a gente queria ver em Kinderdijk, porque é lá que estão os remanescentes do século XVIII, considerados Patrimônio Histórico-Cultural da Humanidade pela UNESCO.
Com isso em mente montamos nosso roteiro, que ficou assim:
Como já falei sobre as tulipas e a região da Rota dos Bulbos nesse outro post, vou deixar o Parque Keukenhof e a cidade de Delft fora desse aqui. Para quem quiser saber mais sobre Amsterdam, tem um post inteirinho sobre a cidade aqui.
Nesse, vamos visitar moinhos em Kinderdijk, passear pelos canais de Utrecht, conhecer Giethoorn e recuperar as energias em Blokzijl. Pronto pra viajar pelo interior? Então vem comigo!
Moinhos de Vento em Kinderdijk
Pelo menos 25% do território da Holanda fica abaixo do nível do mar. E o país tem uma longa história de luta contra as águas.
Segundo informações do site oficial de turismo do país, já no ano 800 os holandeses construiam pequenas colinas, onde erguiam suas casas, para protegerem-se das enchentes. E, em torno do ano 1250, ficou pronta a primeira grande represa da Holanda, com 126 km de extensão, a Represa Circular de Frisia Ocidental.
Criando dunas e represas, os holandeses começaram a transformar pântanos e lagos em terras habitáveis. Mas continuavam a sofrer com as enchentes, em especial duas que aconteceram no século XII.
Mas, a partir do ano 1400, eles encontraram uma solução: passaram a construir moinhos de vento, e, assim, drenar a água da chuva dessas “terras baixas” (chamadas polders) em que viviam. Os moinhos de vento esparramaram-se pela Holanda nos séculos seguintes.
No século XIX, eles passaram a ser substituídos por tecnologias mais modernas. Mas alguns originais ainda podem ser vistos no país. E a maior concentração deles, 19 ao todo, encontra-se em Kinderdijk.
Os moinhos de Kinderdijk foram construídos entre 1730 e 1760. E é importante lembrar que eles eram casas – famílias viviam ali.
Um dos moinhos do parque é aberto para visitação e vale muito a pena entrar nele para entender o mecanismo de remoção da água e, também, como a vida familiar se organizava ali dentro.
Por representar a habilidade dos holandeses com o manejo das águas, a série de moinhos de Kinderdijk é considerada pela UNESCO como Patrimônio Histórico Cultural da Humanidade.
Pra quem está viajando de carro, é bem fácil chegar lá. E dá pra deixar o carro no centro da cidade (que é bem pequenininha) e caminhar até o parque. Bem na frente do parque também tem um estacionamento, mas esse é pago.
Para quem estiver planejando viajar de trem, esse post explica como chegar lá.
Outra maneira de conhecer moinhos de vento é visitando o parque Zaanse Schans. Ele mostra como era uma vila do século XIX na Holanda. Fica mais perto de Amsterdam e o site do parque mostra como chegar lá de ônibus ou de trem.
Caminhando pelos canais de Utrecht
Nossa parada seguinte foi em Utrecht, uma das cidades mais antigas da Holanda. Ela surgiu a partir de uma fortificação romana do século I. Nesse exato lugar, hoje fica a Catedral da cidade, a Domkerk.
A nave central da igreja foi destruída num temporal em em 1674, que também separou a torre do resto do prédio. A nave foi restaurada no século XIX, mas a torre ainda é a original, construída entre 1320 e 1382. Ela é chamada de Dom Tower (Domtoren) e dá pra fazer uma visita guiada. Os tickets podem ser comprados aqui.
Também dá pra ir no subterrâneo da igreja e ver vestígios da história ao longo dos últimos 2000 anos. Esse passeio é conhecido como Dom Under. Mas o mais legal da cidade mesmo é caminhar pelos canais.
Os canais de Utrecht, diferentemente do das outras cidades holandesas, possuem desembarcadouros e porões, o que possibilita a passagem de pedestres. Nos últimos anos, esses porões vem sendo transformados em restaurantes e, até mesmo, hotéis, como o Bed and Breakfast De Witte Leeu.
O canal mais antigo é o Oudegracht e, especialmente no verão, essas calçadas internas ficam cheias de bares e restaurantes.
Foto: FreeImages.com/MartinSimonis
Uma dica de quem morou lá é circular pela cidade no domingo, antes das 9h, que é quando a cidade está deserta e é mais bonito andar por lá.
Outra dica é ir no shopping Hoog Katharijne e procurar pela loja V&D Departament Store. No último andar da loja fica o La Place Cafe, de onde dizem que se tem a vista mais bonita da cidade. Esse post conta mais.
A cidade também tem muitos museus, como mostra esse site. Falando em arte, conhece a Miffy?
Ela é essa coelhinha, criada em 1955, pela artista holandesa Dick Bruna. Em Utrecht, a Miffy tem um museu. E também está nas sinaleiras da cidade.
Utrecht também é importante na história do Brasil: foi lá, em 1713, que foi assinado o Tratado de Utrecht, uma série de acordos, entre vários países, que deu fim à guerra de Sucessão Espanhola. Uma das consequências desse Tratado foi a negociação, entre Portugal e França, da fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa.
Eles acertaram que o limite entre os países seria o rio Oiapoque. E, por muitos anos, se acreditou que o Oiapoque era o ponto mais ao norte do Brasil. Daí surgiu a expressão “Do Oiapoque ao Chuí”. Na verdade, não era… Ficou curioso? Clica aqui.
De Utrecht, fomos em direção à Blokzijl, onde passaríamos à noite. Pelo caminho, conhecemos a Rota dos Bulbos, que, para mim, é o melhor jeito de ver tulipas na Holanda (todos os detalhes no outro post).
Recuperando as energias em Blokzijl
A melhor surpresa da viagem! E só conhecemos essa cidade porque não tinha mais lugar nos hotéis de Giethoorn.
Ela é diferente das outras porque não é nada turística. Ainda assim, tem bons hotéis e restaurantes – um deles, o Kaatje bij de Sluis, tem até uma estrela no Guia Michelin.
O nome do restaurante está associado à história da cidade. Conta a lenda que essa moça da foto abaixo, a Kaatje, era a dona de uma bem sucedida estalagem no século XVII – e cozinheira de mão cheia.
Não se sabe se foi por dinheiro e jóias ou por suas receitas, mas ela foi assaltada e morta. Seus assassinos nunca foram encontrados, mas suas receitas esperramaram-se por toda a região e são preparadas em muitos lugares desde então.
Hoje essa estátua da Kaatje proteje a cidade. Dizem que passar a mão esquerda em sua cabeça traz sorte, e que passar a direita traz riqueza. Mas não passe as duas: dizem que ela não gosta e pode te castigar. 😉
A cidade, hoje com 1.300 habitantes, surgiu no século XIV e ainda tem muitas construções do século XVII.
Recomendo muito o hotel em que ficamos, o Auberge aan het Hof. O café da manhã foi o melhor da viagem. E, também, o restaurante em que comemos, o Prins Mauritshuis, que, além de uma comida deliciosa, tem uma vista super agradável.
De lá para Giethoorn, é possível ir de barco. Mas é um passeio demorado e a gente não tinha muito tempo, então fomos de carro.
Se ainda não te convenci a dar uma passadinha em Blokzijl, espia as fotos no site da cidade. É uma graça e vale a pena. Mesmo!
A cidade em que se anda de barco pela ruas
Giethoorn ficou famosa entre os norteamericanos e europeus quando apareceu no jogo Monopólio (Monopoly Here & Now: World Edition).
A empresa que produz o jogo fez um concurso para que o público escolhesse duas das cidades que compõem o tabuleiro e Giethoorn, graças a uma bem-sucedida campanha, que consquitou votos dos muitos turistas chineses que visitam a cidade, foi uma das vencedoras.
A cidade parece um cenário montado agradar turistas – mas não é.
O nome Giethoorn vem de goat horn, que significa chifre de bode. É que os primeiros habitantes da cidade, que se estabeleceram por lá em torno de 1230, encontraram muitos deles quando chegaram. Só os chifres – aparentemente os bodes haviam morrido alguns séculos antes, em uma grande enchente no século X.
Enfim, esses primeiros habitantes logo encontraram turfa, um tipo de carvão, e, em função de seu valor comercial, o vilarejo cresceu. E, como consequência da exploração da turfa, formaram-se os canais e lagos ao redor da cidade.
Atualmente, com menos de 3 mil habitantes e mais de 180 pontes, Giethoorn é visitada todo ano por cerca de 200 mil turistas chineses – e muitos de todas as outras nacionalidades.
A principal diversão na cidade é alugar um barco, que a gente mesmo pode pilotar, e passear pelos canais.
Na cidade há menos de 10 hotéis. A gente queria dormir lá, pois é sempre legal dormir nessas cidades onde tem muitos turistas: no fim do dia eles vão embora e a gente fica com a cidade toda pra gente.
Mas deixamos pra reservar muito em cima e já não tinha mais vaga. Nesse caso, sugiro dormir em Blokzijl como a gente fez.
Pra quem está indo para Giethoorn usando transporte público, esse site dá todas as dicas. Dá um trabalhinho, mas vale a pena: segundo o site Buzzfeed, esta é uma das cidades pra se conhecer antes de morrer.
Saindo de Giethoorn em direção a Amsterdam, dá pra parar ainda em Naardem, que é uma das mais bem preservadas das cidades muradas da Europa e que, nos idos do século XII, foi a mais importante cidade da Holanda.
Como viajar pelo interior da Holanda?
Valeu muito a pena alugar um carro. As estradas são boas e tudo é perto. De Amsterdam a Haia, por exemplo, são apenas 70 km. E de Haia a Rotterdam, só 27 km. Mas também dá pra viajar pelo interior do país de trem, ônibus e bicicleta.
Estando de carro, minha sugestão é fazer esse roteiro em 6 dias. Dá tempo de fazer tudo o que a gente fez e ainda incluir ainda algumas outras cidades, como Marken, Volendam e Edam (uma pertinho da outra), Rotterdam, Haia ou Maastricht.
Marken, Volendam e Edam são super turísticas, por serem próximas a Amsterdam, mas valem uma rápida visita.
Marken era inundada regularmente, por isso seus habitantes construíram suas casas de madeira sobre colinas artificiais feitas de pedras.
Volendam é uma típica vila de pescadores.
E Edam, sim, é onde se produz o queijo com o mesmo nome.
Rotterdam, ao sul de Amsterdam, é onde está o maior porto da Europa. Além disso, a cidade é onde provavelmente nasceu Desiderius Erasmus de Rotterdam, filósofo holandês que ficou conhecido como o “Príncipe do Humanismo”.
Não só a universidade da cidade tem seu nome, como também o maior programa de intercâmbio universitário do mundo, o Programa Erasmus. Por meio dele, mais de 230.000 estudantes por ano tem experiências de estudo em outros países. Estudantes brasileiros também pode se beneficiar por meio do Erasmus Mundus.
Também dá pra conhecer Haia, uma cidade moderna, onde fica a Corte Internacional de Justiça. O governo holandês e a família real também ficam lá. Seu balneário, Scheveningen, é a praia mais popular do país.
Maastricht está na minha lista de próximas cidades a conhecer. Provavelmente a cidade mais antiga da Holanda, ela foi uma das primeiras a ser conquistadas pela Alemanha na II Guerra.
Mas manteve bastante da sua arquitetura original e, hoje, é visitada anualmente por cerca de 3 milhões de turistas. Só não fomos porque ficava longe pra nós: ela fica no extremo sul do país, entre a Bélgica e a Alemanha.
Pra terminar
A melhor época para ir a Holanda é no final de abril, porque assim dá pra ver as tulipas florescendo. Mas cuidado com o dia 27 de abril: é King’s Day, o feriado nacional mais importante do país e as ruas e hotéis de todas as cidades estarão lotados.
Sobre idiomas, falando ingles tá tudo bem: o idioma da Holanda é Dutch (lembra o alemão), mas praticamente todo mundo fala inglês.
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