Ela tem apenas 20 mil habitantes, mas recebe cerca de 9 milhões de turistas por ano. É que ela é uma das cidades medievais mais bem preservadas da Europa, por ter ficado esquecida entre os séculos XV e XIX. Essa cidade cheia de canais tem alguns prédios de quase mil anos.
Não faça como a maioria dos turistas, que vai lá apenas para passar algumas horas. Aproveite a cidade, passeie de barco, faça um walking tour, caminhe pela beira dos canais à noite e descubra mais sobre as ruas e a história de quem viveu por lá no tempo em que Bruges foi uma das cidades mais importantes da Europa.
E aproveite para comer muito chocolate e waffle (que, no estilo belga, é chamado de gaufre, com pronúncia ‘gofre‘) e conhecer um cervejoduto, que, desde 2016, liga a produção da cervejaria De Halve Mann, no centro histórico da cidade, até a planta de engarrafamento, a 3.2 km de distância.
Como aproveitar o melhor de Bruges
A maioria dos turistas vai estar concentrados na área medieval da cidade, que vai da Cervejaria De Halve Maan até a Praça Jan Van Eyck (roteiro do passeio de barco pelos canais).
Por isso, sugiro que você se organize para passear por essa área de manhã cedo ou bem no final da tarde, quando o centro histórico fica mais tranquilo.
Caminhar por Bruges é uma delícia e eu vou te contar sobre as principais praças, prédios e lojas de chocolate em seguida.
Enquanto o centro medieval estiver lotado, tem várias outras coisas pra você fazer.
Uma delas é caminhar pela rua Laangestraat, que é uma das áreas de comércio de quem mora na cidade, visitar moinhos de vento e caminhar ou andar de bicicleta pelas partes menos turísticas da cidade.
Abril é uma excelente época para ir a Bruges. Os dias já estão mais longos, a cidade ainda não está cheia demais e, com sorte, você vai pegar sol e temperaturas agradáveis.
Centro Histórico
Carlos e Maria de Borgonha
Na Idade Média, Bruges era uma das mais importantes do Condado de Flandres. Que era tão poderoso que conseguiu ter sua independência reconhecida pela França em 1305.
O auge do poder de Flandres foi sob governo da dinastia Valois-Burgundy (1363-1477), que controlou, a partir de Bruges, territórios que hoje pertencem a Holanda, Luxemburgo e nordeste da França.
Eu conto tudo dessa história no post sobre a história da Bélgica.
Os últimos governantes independentes foram Carlos (Charles, the Bold) e sua filha Maria de Borgonha (Mary of Burgundy).
Seus túmulos ainda em Bruges, na Igreja de Nossa Senhora (The Church of our Lady).
No lado da igreja, à direita da foto, aparece a Gruuthuse, uma mansão que tem uma capela que a liga à igreja.
A mansão pertencia a uma família tão rica e poderosa que pode construir sua capela grudada à igreja. Asssim, acredite se quiser, a família assistia a missa sem ter que sair de casa.
Dá para visitar a igreja e a mansão, que hoje é um museu, comprando um só ticket (na recepção do Gruuthuse Museum).
Praça do Mercado (Grote Markt)
Na Praça do Mercado fica o campanário da cidade, construído entre os séculos XIII e XV. Esse tipo de torre, conhecido como belfort ou belfry, era um símbolo de prosperidade das cidades e, por isso, permite identificar as cidades medievais mais ricas e importantes.
O destaque do campanário de Bruges é um carrilhão formado por 47 sinos. Dá pra subir no campanário, mas custa 8 euros (preço de fevereiro de 2019) e não achei a vista de lá tão bonita.
Um dos personagens mais típicos de Bruges é o “tocador de sinos”. Os concertos regulares, que podem ser ouvidos do pátio interno do campanário, são uma tradição da cidade.
Esse site lista os horários, mas mais interessante do que isso: o nome de todos os tocadores de sino desde 1532.
Outro destaque da praça é o conjunto de casinhas coloridas.
Muitas são realmente antigas, mas algumas são mais novas e fizeram parte da renovação da cidade nos últimos anos (que fez com que alguns prédios mais novos se parecessem com os prédios medievais).
No embalo da tradição, dá também para passear de charrete pela cidade.
Praça De Burg
Praticamente ao lado da praça do mercado ficar a praça De Burg, que concentra vários prédios medievais.
O mais imponente é a prefeitura de Bruges, uma das mais antigas dos Países Baixos. Sua construção começou a quase 700 anos e, desde então, a cidade é governada de lá.
Nessa praça, praticamente escondida, fica a Basílica do Sangue Sagrado (Basilica of the Holy Blood).
Para quem acredita em relíquias religiosas, uma parada nela é obrigatória – lá está um pedaço de tecido que teria sangue de Jesus.
Para quem não acredita, também vale a pena, pois a Basílica é toda colorida e tem um painel bem bonito que explica como o sangue de Cristo teria chegado lá. Esse post do The Culture Trip tem algumas fotos.
Resumindo a história: contam que, quando Jesus morreu, um de seus apóstolos usou um pedaço de tecido para limpar o sangue.
Esse pano teria ficado em Jerusalém. Na segunda Cruzada, em 1150, o Conde de Flandres teria recebido esse pano como um presente do Rei de Jerusalém. O conde trouxe o pano para Bruges, onde ele está ainda hoje.
Eu entrei na fila de turistas para ver o paninho. Ele está dentro de um vidrinho bizantino.
Uma vez por ano a relíquia sai da Igreja, durante uma procissão na época da Páscoa. A Procissão do Sangue Sagrado é considerada pela UNESCO Patrimônio Intangível da Humanidade.
Antigo Mercado de Peixes (Huidenvettersplein)
Saindo pela rua estreita ao lado da prefeitura e olhando para a direita depois da ponte, você vai ver uma casa com um brasão com um peixe.
Ali era o antigo mercado de peixes. E as casas da praça ao lado preservam os brasões que identificavam o tipo de loja ou profissional que vivia ali.
Hoje a maioria dos prédios virou restaurante, e um deles, o ‘t Huidevettershuis, tem umas mesinhas na rua, de onde a gente pode ficar apreciando o movimento de barcos no canal.
Super recomendo. Nos disseram que essa é a esquina mais fotografada de Bruges e, garanto, olhá-la de uma outra perspectiva é bem interessante.
Beguinato de Bruges
Eu não sabia o que era um beguinato até chegar em Bruges. Depois descobri que eles eram comuns na Idade Média.
Os beguinatos eram um tipo de convento, mas não de freiras. As beguinas eram mulheres solteiras ou viúvas que escolhiam viver numa micro cidade murada, com várias casas habitadas por outras mulheres na mesma situação.
Embora elas fossem dedicadas a Deus e a serviços à comunidade, não existia nenhum tipo de voto de castidade e elas podiam entrar e sair, ou resolver casar, quando quisessem.
Os portões dos beguinatos, porém, fechavam (e ainda fecham) às 18h30, só reabrindo na manhã seguinte. O turista que se distrai e não sai a tempo é obrigado a passar a noite lá.
Para quem tiver interesse em saber mais sobre como viviam essas mulheres, sugiro esse artigo do New York Times.
O beguinato de Bruges, criado em 1245, é um dos 13 considerados Patrimônio Historico da Humanidade pela UNESCO.
Lendas de Bruges
O beguinato fica ao lado do Minnewaterpark. Conta a lenda que uma moça chamada Minna apaixonou-se por um guerreiro de uma tribo vizinha chamado Stromberg.
O pai de Minna era contra o romance e decidiu que ela iria casar-se com outra pessoa. Desesperada, ela fugiu para esse parque. Mas lá havia um pântano, onde ela ficou presa e começou a afogar-se.
Stromberg andava desesperado atrás de Minna e, quando a encontrou, era tarde demais. Ela morreu de exaustão em seus braços.
As lágrimas dele foram tantas que formaram um lago, que hoje é chamado de Lago do Amor (Minne, em holandês, significa amor).
Outra lenda da cidade tem a ver com os cisnes brancos que passeiam pelos canais (e que estavam perto do beguinato quando eu estive lá).
Contam que, quando Maria de Borgonha morreu num acidente em Bruges, seu marido Maximiliano, imperador do Sacro Império Romano Germânico, passou a odiar a cidade.
E aumentou radicalmente os impostos, além de proibir a realização de festivais.
Furiosa, a população prendeu Maximiliano e matou seu melhor amigo, Lanckhals, que era conhecido como “Pescoço Longo” e tinha um cisne branco em seu brasão.
Maximiliano conseguiu fugir e, como castigo, declarou que a cidade deveria manter para sempre um mínimo de 101 cisnes brancos – e apenas brancos – por toda a eternidade.
Dizem que, até hoje, a prefeitura conta o número de cisnes brancos todos os anos. E, em 2014, a cidade entrou em polvorosa quando apareceu um cisne preto na cidade. Que desapareceu, misteriosamente, um mês depois.
A lenda é tão tradicional que, em 2006, a prefeitura lançou o chocolate oficial da cidade, que tem uma receita secreta e formato de cisne. E pode ser encontrados nas versões chocolate branco ou preto.
E falando em chocolate…
Ainda no centro histórico (mas também fora dele) você vai encontrar muitas chocolaterias.
Eu fiz as minhas compras na Pur Chocolat, na Dumon e na The Chocolate Line. Foram as chocolaterias que me indicaram como sendo algumas das mais artesanais.
Também comprei na Home Sweet Home, que tinha essas bolinhas de chocolate com bebidas alcoólicas diferentes.
Acho que o chocolate de que mais gostei foi o da Pur Chocolat, mas é difícil decidir com tanta variedade em cada loja!
Cerveja, batata frita e waffles
Com esse trio, você vai completar o pacote básico de “o que comer em Bruges”.
A cervejaria mais tradicional da cidade é a Henri Maes de Halve Maan, que produz a Straffe Hendrik. É lá que fica o tal cervejoduto de que falei antes.
Os pubs mais visitados no centro histórico da cidade são, provavelmente, o ‘t Poatersgat e o 2Be.
Outra opção é caminhar um pouquinho até o Café Vlissinghe, o mais antigo de Bruges, que comemorou 500 anos de existência em 2015.
Para comer waffle, a dica é escolher um lugar onde ele esteja sendo feito na hora. Nós comemos num trailer super tradicional na praça De Burg.
E sobre a batata frita: aceite a maionese! Embora a gente não tenha hábito de comer batata frita com maionese, a da Bélgica é especial e cai perfeitamente bem com a batata. É uma tradição local e vale a pena experimentar.
Para terminar
Para quem for explorar outras áreas da cidade: um bom roteiro é ir para a rua Langestraat.
É uma área mais residencial, com lojas normais, menos souvenirs e mais artigos para o dia a dia. A Langestraat termina em uma das portas do antigo muro da cidade.
Olhando para a esquerda você já vê o primeiro dos moinhos. A cidade tem 4, todos eles entre essa porta, que é a Kruispoort, e a Dampoort. Três deles existem desde o século XVIII.
Se você quiser explorar os restaurantes frequentados pelos moradores da cidade, esse post do blog Chef Maison dá uma ajuda.
E, por último, uma dica de hotel: quando fui me hospedei no Hotel Academie. O preço, considerando localização e fotos, estava tão bom que eu desconfiei que fosse uma pegadinha. Não era. Recomendo muito.
Pensando em conhecer outras cidades da Bélgica? Leia o meu post sobre a história do país, ele vai te ajudar a escolher entre Gante e Bruxelas.
E se você vai visitar a Bélgica como uma parada entre a França e a Holanda, aproveite para ler meus posts sobre a Holanda e sobre a França.
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