A Turquia fica no caminho entre a Europa e a Ásia.

Como você pode imaginar, esse ponto de passagem, parte da famosa Rota da Seda, foi morada de muitos povos diferentes ao longo de muitos milênios.

Isso garante muita diversão para quem gosta de história.

Quem gosta de natureza, também se deslumbra. Um passeio de balão na Capadócia revela paisagens lindas.

Na Turquia também fica o “castelo de algodão” (Pamukkale), um conjunto de cascatas que formam lagos em um montanha de calcário.

Isso sem falar de Istambul, uma cidade de quase dois mil anos que foi capital de dois impérios e que, atualmente, é um dos destinos mais cool da Europa.

Vem comigo! Nossa história começa há doze mil anos atrás…

Templo Neolítico Göbekli Tepe

Aquele era o tempo em que o ser humano estava migrando de um estilo de vida caçador-coletor para um estilo de vida em que a agricultura e o pastoreio estavam possibilitando a formação de assentamentos mais permanentes.

E são desse tempo as construções encontradas no sudeste da Turquia conhecidos como Göbekli Tepe.

As escavações começaram na década de 1990 e continuam até hoje. Já foram encontrados mais de 20 círculos de pedra, similares ao de Stonehenge (Inglaterra), mas muito mais antigos.

Os círculos são formados por pilares em forma de T, que chegam a ter mais de 5 metros de altura.

Eles são decorados com relevos em forma de animais selvagens, insetos e formas abstratas.

Göbekli Tepe é reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Histórico da Humanidade. É possível visitar o sítio arqueológico, que fica a cinco horas de carro a partir de Istambul.

Pra conhecer Göbekli Tepe sem sair de casa, no Google Arts & Culture tem um resumo da história das escavações com muitas fotos.

Primeiras Cidades

A região onde fica a Turquia, conhecida como Anatólia ou Ásia Menor, é próxima à Mesopotâmia (atual Iraque), região conhecida como “o berço da civilização”.

Na Mesopotâmia, região fértil entre os rios Tigre e Eufrates, já existiam civilizações complexas, como a Assíria no ano 3.000 A.C..

Enquanto isso, na Anatólia, onde o terreno e o clima eram mais inóspitos, desenvolveram-se apenas pequenas comunidades, que plantavam e criavam animais para subsistência.

À medida que a civilização grega ia surgindo na ilha de Creta (eu falei sobre isso aqui), surgiam também na Anatólia as primeiras cidades.

Vamos falar de três delas aqui: Troia (no litoral), Kültepe (também chamada de Kanesh ou Nesha) e Hatthusa (essa duas últimas, no interior).

Troia

Sim, estamos falando dela mesma. Aquela dos gregos e do filme do Brad Pitt. Não, ela não ficava na Grécia. Ficava do outro lado do mar Egeu, onde hoje é a Turquia.

A cidade de Troia foi encontrada por arqueólogos no século XIX. As escavações da cidade, considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, começaram em 1870 e continuam até hoje.

O curioso é que a cidade destruída pelos gregos em torno do ano 1200 não foi a primeira Troia. Nem a última.

No local onde a cidade está, os arqueológos encontraram 10 cidades, uma construída por cima da outra. A mais antiga é do ano 3200 A.C..

Acredita-se que a cidade destruída pelos gregos tenha sido a sétima Troia, pois a maneira em que essa cidade está organizada indica que ela preparou-se para um longo cerco. 

Além disso, os pesquisadores sabem que “Troia VII.a” foi destruída por um grande incêndio – o que está de acordo com as histórias da guerra narradas pelos gregos.

Se você ficou curioso para entender como funcionam essas camadas com múltiplas cidades, espia essa ilustração ou esse vídeo (2:44).

Troia é importante para a arqueologia porque, seja a história da guerra verdadeira ou não, a cidade é o primeiro ponto em que sabemos que as civilizações do Oriente (como a dos hititas, de que falaremos em seguida) encontraram-se com as culturas do Mediterâneo (como a dos gregos).

Se você gosta de mitologia e quer entender qual foi a intriga entre as deusas gregas que levou ao sequestro de Helena, ao cerco de Troia, à morte de Aquiles, à construção do famoso cavalo de madeira e ao retorno de Helena para a Grécia, confira meu resumo da história contada por Homero aqui

E, caso você queira aprofundar-se na exploração arqueológica de Troia, recomendo esse (longo) artigo da Revista Smithsonian.

Mais de 700 mil turistas visitam as excavações a cada ano.

Hattusha e Kanesh (ou Nesha)

Escolhi falar dessas duas cidades do interior porque elas são importantes para entender a fase seguinte dessa região, a do império hitita.

As duas cidades surgiram há cerca de cinco mil anos e estão perto da atual capital da Turquia, Ankara.

Naquele tempo, as cidades do interior da Anatólia eram pequenas, com um máximo de mil habitantes. E não havia muita interação entre elas.

Até que, em torno do ano 2500 A.C., os assírios, aquela civilização da Mesopotâmia, começaram a desenvolver rotas comerciais através da Anatólia.

Eles estabeleceram bases comerciais em algumas cidades, incluindo Kanesh e Hatthusa.

Aos poucos, elas foram tornando-se mais ricas e estruturadas, transformando-se em pequenos reinos.

Os habitantes da Anatólia aprenderam com os assírios a documentar suas transações comerciais: os primeiros manuscritos da Anatólia são desse tempo.

Eles estão um idioma conhecido com assírio antigo e ficaram conhecidos como “Tábuas da Capádócia“.

A expansão das cidades começou a provocar conflitos entre os diversos povos da Anatólia a partir de 1800 A.C.. Os vencedores foram os hititas.

O Império Hitita (séc XVII – XII A.C.)

Os hititas, ao contrário da maioria dos povos da Anatólia, falavam um idioma indo-europeu.

Acredita-se que eles tenham chegado na península em torno do ano 2200 A.C., possivelmente vindos do norte da atual Síria.

Alguns manuscritos da época fazem referência ao reino de Kussara, governado pelo rei Phitana. Esse foi provavelmente o primeiro reino hitita da Anatólia.

Phitana conquistou a cidade de Kanesh em torno de 1780 A.C..

A partir daí, os hititas passaram a referir-se a eles mesmos como “povo de Kanesh” (Neshians).

Em torno de 1650 A.C. eles conquistaram a cidade de Hatthusa, que passaria a ser sua capital.

O auge do poder do império hitita foi em torno do ano 1350 A.C.. Eles controlaram a maior parte da Anatólia e, também, o norte da Siria.

O império hitita desapareceu repentinamente, em torno de 1200 A.C..

Acredita-se que seu desaparecimento esteja associado ao surgimento dos “povos do mar” (Sea People), sobre os quais eu já falei aqui.

Os principais achados arqueológicos relacionados aos hititas podem ser vistos em Hattusha, que era sua capital e foi declarada Patrimônio da Humanidade em 1986.

Lá podem ser vistos o muro de cerca de 8 quilômetros que cercava a cidade, as ruínas de um templo do século XIII A.C. e uma complexa área residencial.

Além disso, acredita-se que o começo da construção das cidades subterrâneas da Capadócia (sobre a qual falaremos em seguida) seja dessa mesma época.

As duas maiores cidades subterrâneas – e que podem ser visitadas – são Derinkuyu e Kaymakly. Aqui tem um post ótimo sobre as principais diferenças entre as duas.

A Anatólia sob Influência Grega (séc XII – II A.C.)

Pelo milênio seguinte, conhecemos a história da Anatólia como nos foi contada pelos gregos.

Eu gosto de pensar nessa parte da história em três fases.

Na primeira, os gregos fundaram muitas colônias na costa e estabeleceram relações comerciais com os diferentes reinos que surgiam e desapareciam no interior (1200 A.C. – 600 A.C).

Na segunda, os persas ocuparam a Anatólia. Nesse tempo, as cidades gregas da costa aliavam-se a quem fosse mais conveniente no momeno momento: Pérsia, Atenas ou Esparta (600 A.C. – 320 A.C).

A fase final começa com a chegada de Alexandre, o Grande, que conquistou toda a Anatólia e provocou sua helenização (difusão do idioma grego).

Após sua morte, o reino selêucida (também grego) ocupou boa parte da Anatólia, até ela ser conquistada pelos romanos (320 – 100 A.C.)

Fase 1 – a chegada dos gregos: Frígia, Lídia, Éfeso e Mileto

Quando os gregros chegaram na Anatólia, encontraram o Reino da Frígia, um dos sucessores do império hitita.

Os gregos contam que os frígios vieram do oeste, provavelmente dos Balcãs, no século XII A.C..

Sua história chegou até nós por meio da mitologia grega: o último governante dos frígios foi o rei Midas.

Conta a lenda que ele era muito ambicioso. E, quando teve a chance de fazer um pedido aos deuses, desejou o poder de transformar tudo o que tocasse em ouro.

Até descobrir que a comida que ele tocava virava ouro também. E que, ao abraçar sua filha, ela também virava ouro.

Arrependido, ele pediu ao deus Dionísio que lhe retirasse esse poder.

Dionísio banhou-o nas águas do rio Pactolous. Segundo os gregos, é por esse motivo que esse rio passou a ser uma fonte abundante desse mineral.

Também após o desaparecimento dos hititas, em torno do ano 1200 A.C., outro reino surgiu no interior da Anatólia, o da Lídia.

Ele era pouco importante até o século VII A.C.. Mas, depois que o rei Midas foi mergulhado no rio Pactolous, a Lídia, que recebia as águas desse rio, enriqueceu com seu ouro.

Pelo menos é isso que nos conta a lenda que explica como a Lídia cresceu repentinamente e chegou a ocupar praticamente toda a Anatólia (em torno do ano 620 A.C.).

Acredita-se que foram os lídios que cunharam as primeiras moedas de ouro e prata, modelo que seria copiado pelos gregos nos séculos seguintes.

Enquanto a Frígia e a Lídia controlavam o interior, os gregos estabeleceram colônias na costa oeste da Anatólia. As mais conhecidas entre nós são Éfeso e Mileto.

Éfeso é impressionante. Essa cidade grega, que mais tarde seria ocupada pelos romanos, é um sítio arqueológico onde caminhamos em ruas de mais de três mil anos.

O meu guia lá disse que as pedras riscadas do piso, como essas da foto, são as originais (foram riscadas para tornarem-se menos escorregadias).

O prédio mais impressionante é a Biblioteca de Celso, que ficou pronta no ano 117. Acredita-se que ela abrigava doze mil pergaminhos.

A biblioteca foi construída em homenagem ao antigo governador da província e tornou-se também seu mausoléu.

Além da biblioteca, há ruínas de vários outros prédios em Éfeso, de anfiteatros, zonas residenciais e comerciais e até de um banho romano onde ainda é possível ver as privadas onde o destino da província era discutido por seus governantes.

Também há vários mosaicos, em excelente estado de conservação.

Infelizmente, do templo de Ártemis, considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, restou apenas uma coluna.

Quem vai a Éfeso pode fazer alguns outros passeios ao redor do sítio arqueológico que também valem a pena.

No Museu de Éfeso você pode ver muitas peças encontradas nas escavações.

E, a alguns quilômetros dali, fica uma casa que, acredita-se, teria sido a última morada de Maria, a mãe de Jesus.

Tenha Maria morado ali ou não, o valor simbólico do lugar é imenso: ele recebe peregrinos cristãos e muçulmanos.

Estes últimos, embora não vejam Jesus como filho de Deus, reconhecem-no como um profeta e também prestam homenagem à sua mãe.

A outra grande cidade grega da costa da Anatólia nessa época era Mileto, cerca de 70 quilômetros ao sul de Éfeso.

Mileto fundou várias outras colônias na região e, mais tarde, teria participação importante nos conflitos entre gregos e persas, como líder das Cidades Jônicas (Jônia é uma faixa do litoral oeste da Anatólia com cerca de 40 km de extensão).

Mileto, além de importante ponto comercial entre a Grécia e o interior da Anatólia, era um importante centro científico e filosófico. Provavelmente você já ouviu falar em “Tales de Mileto”.

Ele é considerado o primeiro filósofo da humanidade: ele desacreditava a mitologia e buscava encontrar uma explicação racional para os fenômenos da natureza.

Tales era também matemático, e foi dito que ele foi a primeira pessoa capaz de prever um eclipse.

Mileto, embora menos impressionante do que Éfeso, também pode ser visitada. Mas a maneira mais interessante de ter uma noção de como Mileto era é visitando um museu em Berlim.

É que arqueólogos alemães, no começo do século XX, levaram para cidade 750 toneladas de fragmentos da fachada do mercado de Mileto (construído no século II e destruído por um terremoto nos séculos X ou XI).

Na década de 1920, o governo alemão reconstituiu a fachada, complementado os pedaços faltantes com tijolo e cimento e usando aço e argamassa para reconstituição das colunas.

Embora criticada pela quantidade de material não original usado, a reconstrução é linda e faz com que a gente sinta-se em uma cidade do império romano.

Fase 2 – a conquista pelos persas

O reino da Lídia foi conquistado pelos persas no ano 546 A.C..

Os persas eram um povo nômade que chegou na região que hoje é o sul do Irã em torno do ano 1000 A.C.. Sua expansão em direção à Anatólia começou no reinado de Ciro II (550 – 530 A.C.).

Depois de conquistar o interior da Anatólia e a Babilônia, Ciro ocupou as cidades gregas da costa.

Seus sucessores continuaram avançando pela Europa: em 492 A.C., os persas tinham conquistado parte do Balcãs, no norte da atual Grécia.

Atenas e Esparta, as duas grandes cidades gregas da época, pausaram as disputas entre elas para vencerem o inimigo comum: Darius, o novo rei da Pérsia.

Darius desembarcou com seus exércitos na planície de Maratona, a cerca de 40 quilômetros de Atenas.

Os atenienses venceram a primeira guerra greco-persa, perdendo apenas 192 soldados, segundo historiadores da época. Já os persas teriam perdido 6.400 homens.

Conta a lenda, que um mensageiro ateniense foi correndo de Maratona à Atenas, para contar na cidade que os persas haviam sido derrotados (essa é a inspiração para a atual maratona, corrida de 42 quilômetros).

A segunda guerra greco-persa foi iniciada pelo sucessor de Darius, Xerxes, no ano 480 A.C..

A Grécia, na época, não era exatamente um país: era um grupo de cidades-Estado, que tinham idioma e cultura comum, mas que viviam em constante conflito entre si.

Enquanto Xerxes, o rei da Pérsia, dirigia-se para a região, 30 dessas cidades-Estado concordaram em parar suas disputas internas e aceitar a liderança de uma delas, Esparta, para conter, mais uma vez, o inimigo externo comum.

O primeiro grande evento dessa guerra foi a Batalha de Termópilas, em que Leônidas e 300 espartanos contiveram os gregos em um estreito, lutando até a morte.

Essa história é contada no filme 300, em que Xerxes foi interpretado por Rodrigo Santoro.

O segundo fato marcante da guerra foi a destruição de Atenas, que foi queimada pelos persas.

Mas, em seguida, o ato final seria a favor dos gregos: eles venceram os persas em uma batalha naval e outra terrestre, dando fim à segunda guerra greco-persa.

Após expulsar os persas da Europa, Atenas queria mais: queria libertar as cidades Jônicas, aquelas gregas da costa da Anatólia, do império persa. E, claro, ocupar o quanto fosse possível das terras persas no continente asiático.

Esparta não tinha o mesmo interesse, então os atenienses formaram um novo grupo de cidades, chamado Liga de Delos (Delian League).

A ofensiva da Liga de Delos em território persa estendeu-se por 30 anos (de 478 a 449 A.C.).

No acordo de paz, o rei da Pérsia, Artaxerxes I, reconheceu a liberdade das cidades-Estado gregas, estivesem elas situadas na Ásia ou na Europa.

Mas a Pérsia voltou a controlar as cidades gregas da costa da Anatólia ao longo do século IV A.C.. Até a chegada de um grego especial, chamado Alexandre. Ele entrou na história como Alexandre, o Grande.

Fase 3 – o retorno dos gregos: Alexandre, Reino Selêucida e Pérgamo

Alexandre era o herdeiro do reino da Macedônia, uma das regiões em que, pelo menos desde o século V A.C., o grego era o idioma dos governantes e da elite.

Grécia e Império Persa antes de Alexandre, o Grande. Fonte: Time Maps

Alexandre tornou-se rei em 336 A.C..

Seu pai, um ano antes, havia formado uma coalisão de cidades gregas com o objetivo de ocupar o território persa. Após a morte de seu pai, Alexandre foi escolhido para liderar a expedição militar.

Durante os 13 anos seguintes, os exércitos liderados por ele conquistaram o Egito, o poderoso império persa e, depois, seguiram pela Ásia até o norte da Índia.

Império de Alexandre em seu período de maior expansão. Fonte: Encyclopædia Britannica

Alexandre queria continuar a expedição, mas seus generais estavam cansados e queriam voltar para casa.

No caminho de volta, Alexandre morreu na Babilônia, em circunstâncias nunca bem explicadas (possivelmente envenenado).

Durante o período das conquistas de Alexandre, o idioma e a cultura grega disseminaram-se pela Ásia. E perdurariam por séculos, até a chegada dos romanos.

Essa fase em que a cultura grega predominou no Egito e no sudoeste asiático ficou conhecido como período helenístico.

Logo após a morte de Alexandre, seu território foi dividido entre 5 de seus generais. Mais de um século depois, o mundo helenístico encontrava-se assim:

Mundo helenístico após a morte de Alexandre e antes dos romanos. Fonte: Encyclopædia Britannica

Para a história da Turquia, o mais importante é entender que, durante o período helenístico, a Anatólia voltou a ter cidades gregas na costa e territórios independentes no interior, só que, agora, esses reinos tinham traços significativos da cultura grega.

Pérgamo era um dos mais importantes desses reinos. Sua capital, no alto de uma montanha, continuou sendo uma cidade importante por mais de mil anos.

A palavra pergaminho (tipo de folha feita de pele de ovelhas e cabras) vem de lá, pois a cidade era um grande produtor desse material. Mas não acredite se alguém disser que o pergaminho foi inventado lá. Esse material já era usando na Anatólia antes da criação da cidade, no séc VII A.C..

Pérgamo foi parte do império persa até a chegada de Alexandre, o Grande. Quando ele morreu, a cidade passou a ser governada por seus generais.

Até que um deles conseguiu estabelecer uma dinastia que transformaria Pérgamo em uma das cidades mais poderosas do Mediterrâneo, tanto em termos econômicos quanto culturais.

Dizem que a Biblioteca de Pérgamo competia em grandiosidade com a mais famoso biblioteca desse tempo, a de Alexandria (Egito).

De seu anfiteatro, na encosta da montanha, a gente tem essa vista espetacular.

Já o altar de Zeus, mais conhecido como altar de Pérgamo, não está mais lá. Assim como o mercado de Mileto, seus fragmentos foram levados para Berlim, onde ele foi reconstruído.

Ele é gigantesco. Aqui você pode ler um artigo com muitas fotos e aqui você pode ver um vídeo com detalhes das esculturas que fazem parte da composição.

Pertinho de Pérgamo fica o Santuário de Esculápio. Esculápio, que foi mencionado por Homero na Ilíada como o pai de dois médicos de Troia, teria sido o primeiro médico do mundo ocidental.

Ele passou a ser considerado um herói e, mais tarde, um semi-deus. Por todo o mundo helenístico começaram a ser construídos templos em sua homenagem.

Esses centros religiosos também recebiam doentes para tratamento, o que fez deles os primeiros hospitais do mundo ocidental.

Esculápio é normalmente representando segurando um cajado onde há uma serpente enrolada. O cajado de Esculápio é hoje o símbolo da medicina e também pode ser visto no emblema da Organização Mundial de Saúde.

O santuário de Esculápio em Pérgamo, construído no século II, também pode ser visitado.

Seu médico mais famoso foi Galen, que nasceu na cidade mas estudou também em Alexandria, na época um dos principais centros médicos do mundo.

Seus escritos do século II foram a principal referência na medicina ocidental até o século XVI.

Apenas então, quando analisados no contexto da revolução científica, falhas foram identificadas. Seu valor, entretanto, é inegável: a existência desse conhecimento foi o que possibilitou os avanços da medicina ocidental nos séculos seguintes.

Outro centro de saúde criado pelos reis de Pérgamo foi a cidade-spa Hierápolis, um dos pontos turísticos mais visitados da Turquia. Ela é hoje mais conhecida como “termas de Cleópatra”.

As águas termais da região eram – e ainda são – consideradas terapêuticas.

Os reis de Pérgamo frequentavam a cidade-spa, que se desenvolveu e desabrochou durante o período romano (alguns séculos mais tarde).

Se você está se perguntando se a rainha egípica de fato banhou-se por lá, a resposta é não.

A única visita documentada da rainha do Egito à atual Turquia foi no ano 41 A.C., quando ela foi até a atual cidade de Tarsus, a pedido de Marco Antônio (que, a partir daí tornar-seia seu amante e pai de seus três filhos).

As ruínas de Hierápolis são amplas. Seu anfiteatro foi o mais bonito e bem preservado que vi nessa viagem à Turquia (em que também vi os anfiteatros de Éfeso e Pérgamo).

Quem visitava Hierápolis, também aproveitava para passear nos arredores, onde as águas escorrem por uma montanha de calcário formando piscinas naturais.

A montanha é chamada de Pamukkale, que significa castelo de algodão.

Fácil entender o motivo:

Quando estive lá, era uma época de seca. Para ver de perto os lagos, era preciso aventurar-se montanha abaixo.

Muitas das pessoas que estavam comigo não foram, porque o trecho inicial é bem escorregadio.

Eu fui adiante e valeu muito a pena. Depois dos primeiros metros escorregadios, o piso fica bastante estável. E a caminhada, embora puxada, parece segura.

E o que a gente vê é tão bonito!!!

O complexo de Hierápolis, que inclui a piscina de Cleópatra, a cidade antiga e o castelo de algodão (Pamukkale) também é considerado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade.

Vale a pena dormir duas noites nessa região para aproveitar um dia cheio.

Além do tour por Hierápolis-Pamukkale (que pode levar muitas horas caso você decida entrar na piscina de Cleópatra e nos lagos do castelo de algodão), nas redondezas há muitos hotel-spa.

Foi no hotel que aconteceu um dos pontos-altos da minha viagem: fiz um banho-turco (também conhecido como hammam) e amei!!!

Pra você ter uma ideia de o que é, espie esse vídeo (menos de 2 minutos).

O meu foi um pouquinho diferente desse do vídeo: começou com 5 minutos de sauna seca, depois já fomos direto para a cama de pedra, e foram as atendentes que derramaram água morna na gente.

A parte da espuma foi como a do vídeo. É uma delícia! Depois, muita água morna de novo, para enxaguar. Saí da função completamente renovada.

Gostei tanto que faria de novo, exatamente no mesmo hotel, o Doga Thermal Health & SPA.

Lá também tem uma piscina de água termal com as águas de outra fonte, Karahayıt, que é rica em ferro e cálcio (o que dá essa cor para a água).

Também super relaxante.

A Chegada dos Romanos e o Império Bizantino (séc II A.C. – 1453)

No ano 133 A.C., um rei de Pérgamo morreu sem herdeiros e deixou seu território para um reino em expansão: Roma.

Isso possibilitou que Roma criasse sua primeira província na Anatólia, que foi chamada de “Ásia”. Ela incluía as cidades da costa e o reino de Pérgamo.

Sob domínio romano, as antigas cidades gregas como Éfeso, Mileto e Pérgamo floresceram.

Nos séculos seguintes, com a transformação de Roma de uma república em um império (31 A.C.), toda a Anatólia foi conquistada.

Mas, quanto mais crescia, mais o império romano se fragilizava. O século III foi um período de guerras internas.

Elas apenas pararam quando um homem nascido na Dalmácia (na atual Croácia), chamado Diocleciano, tornou-se imperador (284 – 305).

Ele sabia que o império estava grande demais para ser governado de um lugar só e, por isso, dividiu o Império em dois: Império Romano do Ocidente (capital Roma) e Império Romano do Oriente.

Ele não gostava de Roma, então deixou seu co-imperador ir para lá.

Diocleciano, que seguia sendo o imperador principal, tinha poder de veto sobre as decisões do colega sediado em Roma.

A capital do Império Romano do Oriente? Diocleciano dizia que capital era onde ele estava. Mas, finalmente, estabeleceu Nicomedia (hoje Izmit, na Turquia) como sua capital.

Um fato importante dessa época é que o cristianismo estava crescendo muito no império romano, e isso vinha dificultando a vida dos imperadores.

Diocleciano tinha mais um agravante: a partir do meio de seu reinado ele começou a ver a si mesmo como um deus.

E, o fato de que judeus e cristãos negavam-se a reverenciar um imperador como Deus, fez com que Diocleciano desse início a um ciclo intenso de perseguição aos cristãos.

Doente, Diocleciano abdicou no ano 305 e aposentou-se em Split (atual Croácia), uma cidade fantástica, sobre a qual já falei aqui.

Seus sucessores não conseguiram encontrar uma solução amigável e lutaram entre si até que um apenas, Constantino, passasse a governar um império novamente unificado.

Ele também decidiu mudar a capital do império definitivamente para o leste, já que aquela era a região mais importante do mundo naquele tempo.

Roma foi abandonada. Bizâncio, uma cidade grega na margem do mar de Marmara, virou a Nova Roma.

Um dos motivos para a escolha de Bizâncio foi sua posição geográfica estratégica: ela ficava exatamente no começo do Estreito de Bósforo, que liga o mar de Marmara ao Mar Negro.

E o mar de Marmara é a ligação entre o mar Negro e o mar Mediterrâneo.

De um lado do estreito esta a Ásia; do outro, a Europa. Quem controlava essa área, controlava o comércio marítimo entre os dois continentes.

Também havia um terceiro leito d’água, com forma de chifre e conectado tanto ao mar quanto ao estreito.

Um perfeito porto natural, cujas águas ficam douradas ao por do sol. Por isso ele é conhecido como Golden Horn (chifre dourado).

Ele divide a parte europeia em duas.

Hoje tudo isso que você vê na foto é uma cidade só. Mas, naquele tempo Bizâncio ficava apenas em uma das margens do Golden Horn, a que fica de frente para o mar de Marmara.

Constantino e seus sucessores transformaram. Bizâncio em uma capital imperial, rebatizada como Constatinopla. Hoje nós chamamos essa cidade de Istambul.

A atual praça Sultanahmet era o hipódramo. Obeliscos instalados naquela época ainda estão lá.

A cisterna romana da cidade é um espetáculo.

Constantino era cristão e fez do cristianismo a religião oficial do império romano.

Foi ele quem construiu uma igreja no ano 326 que, duzentos anos mais tarde, seria substituída pela atual Santa Sofia, primeira catedral cristã do mundo.

O que mais me chamou a atenção quando entrei nela foi que, embora transformada em mesquita durante um tempo, ela ainda tem a estrutura de igreja cristã (muito diferente das outras mesquitas que visitei).

E o que eu queria ver mesmo – e valeu a pena – foram os mosaicos bizantinos do século X, que foram preservados pelos turcos ao longo de todos esses séculos.

Santa Sofia, embora ainda seja um local de oração, é hoje um museu.

Na outra margem do Golden Horn havia uma vila protegida por muralhas, chamada de peran en Sykais – ou simplesmente Sykais – que significa “outra margem”.

Mais tarde, conhecida como Gálata ou Pera, ela seria uma colônia de Gênova e importante centro de comércio entre Europa e Ásia.

Hoje, a região é um bairro bem central de Istambul. A antiga Torre de Gálata é um dos principais pontos turísticos da cidade.

Recomendo subir nela, pois a vista é espetacular.

Dali você pode ir a pé até a praça Taksim, centro da cidade moderna, passando pela avenida Istiklal, uma rua de pedestres onde corre um trem de superfície vintage.

Ou caminhar até o Porto de Galata, na margem europeia do estreito de Bósforo, que foi transformado em shopping center e está cheio de cafés e restaurantes.

Cruzar de volta para o centro antigo é super fácil, por essa ponte cheia de restaurantes.

Mas vamos voltar ao império romano, que, a partir da mudança de capital, passou a ser governado de Bizâncio (rebatizada como Constantinopla).

Ele sobreviveu até 1453. Mas os historiadores precisaram rebatizá-lo e, por isso, a partir do momento em que o império perdeu Roma (ano 476), falamos em império bizantino (para saber mais, leia meu post Império Bizantino: a continuação do Império Romano).

Durante esses mil anos, os romanos mantiveram a Anatólia (ou parte dela) sob seu controle pela maior parte do tempo.

A situação começou a mudar no ano 1070, com a chegada de um povo que iria ocupar o lugar dos bizantinos na Ásia Menor: os turcos.

A Anatólia e os Turcos (1070 – atual)

Os turcos eram nômades das estepes, uma planície que se estende por 8 mil quilômetros ao longo da Ásia (da Hungria até a China).

Estepes da Eurásia. Fonte: Encyclopædia Britannica

Acredita-se que eles são originários das montanhas Altai, na fronteira entre Rússia, Mongólia, China e Cazaquistão.

No século VI, o estabelecimento de uma confederação (grupo de tribos) possibilitou que os turcos se expandissem pelas estepes.

Mas essa confederação era instável e provocou a migração de algumas das tribos para fora das estepes.

Os turcos que migraram para o ocidente logo estavam convivendo com as civilizações árabes lá estabelecidas.

No século X, esses grupos turcos estavam rapidamente se convertendo para o islamismo e incorporando-se ao modelo de vida das populações sedentárias.

A primeira dinastia turca a obter controle de uma região no Oriente Médio foi a Gaznavida (977 – 1186).

Ela foi fundada por um ex-escravo turco, que foi apontado como governador de uma região chamada Gazna (no atual Afeganistão).

No auge de seu poder, os Gaznavidas controlaram o nordeste do Irã, o Afeganistão e o norte da Índia.

Em 1040, porém, eles perderam seus territórios no Irã e na Ásia Central para um outro grupo de turcos, que teriam papel importante na Anatólia: os seljúcidas.

Migrações Turcas do Século XI e o Sultanato Seljúcida (Saljūqiyān-i Rūm)

Uma nova confederação de tribos turcas, conhecida como Oğuz, moveu-se das estepes em direção ao oeste no século XI.

Entre essas tribos, uma era liderada por um guerreiro chamado Seljuk (em português, Seljúcida). Seus dois netos, Chagri e Tugril, formariam um império (sultanato).

Na época de sua morte, respectivamente em 1061 e 1063, o sultanato ocupava boa parte do atual Irã e a Mesopotâmia (antes controlados pelos Gaznavidas).

Alparslan, herdeiro dos territórios de seu pai e seu tio, continuaria a expansão do sultanato seljúcida. Depois de conquistar o resto do Irã e ocupar a Geórgia e a Armênia, ele entrou na Anatólia.

Ao derrotar os bizantinos na Batalha de Manzikert (1071), os seljúcidas encontraram o caminho livre para ocupar o leste e o centro da Ásia Menor.

Em 1077, os seljúcidas da Anatólia estabelecem seu próprio reino, que chamaram de Sultanato de Roma (Saljūqiyān-i Rūm). Em 1097, eles fizeram da cidade de Konya a sua capital.

O Sultanato de Roma (ou Sultanato Seljúcida), que atingiu seu auge entre os anos de 1205 e 1237, chegou a ocupar praticamente toda a Anatólia.

Isso foi possível porque o império bizantino estava enfraquecido: Constantinopla havia sido ocupada pelos Cruzados em 1204, e o império havia desintegrado-se.

Nesse vácuo, o Sultanato de Roma desabrochou.

O comércio ao longo da Anatólia foi amplamente estimulado, incluindo a construção de cerca de 30 caravanserais, que eram alojamentos para mercadores, seus animais e mercadorias, ao longo de rotas comerciais.

Sabe-se da existência de 250 desses prédios na Anatólia.

A rota principal dos seljúcidas ia de Denizli (localidade próxima ao mar Mediterrâneo) até Doğubayazıt (atual fronteira com o Irã) e contava com cerca de 40 caravanserais ao longo dela.

A distância entre eles era apropriada a um dia de viagem (cerca de 30 quilômetros) e cada caravanserai contava com estábulos, dormitórios, refeitórios, mesquita, enfermaria, etc.

Desses 40 prédios, dez estão em bom estado ainda hoje. Vários deles são chamados Sultan Han, que significa que eles haviam sido construídos por ordem do sultão.

Eu visitei um, o Sultan Han de Konya-Aksaray, construído entre 1226-29 e considerado o maior e mais bonito deles.

Também é do período seljúcida a expansão da religião muçulmana na Anatólia, principalmente com o surgimento do islamismo místico, conhecido como sufismo.

Em Konya desenvolveu-se um desses grupos religiosos, a ordem de Mevlevi (palavra que significa “mestre”). O termo era usado como uma referência à Rumi, membro respeitado da sociedade, que se tornou poeta como resultado de suas experiências amorosas.

Ele é considerado o principal poeta místico do idioma persa. Por muitos anos ele compôs sua obra principal, chamada Mas̄navī. São milhares de versos, em que ele descreve seus pensamentos religiosos e suas experiências místicas.

Depois de sua morte, seu mausoléu tornou-se local de peregrinação. Hoje ele é um museu.

Muitas vezes, enquanto recitava seus versos, Rumi dançava, rodopiando.

Seus seguidores transformaram a dança rodopiante em seu principal ritual e, por isso, ficaram conhecidos como “dervishes dançantes” (dervish é o termo em inglês para darvish, que, em persa, significa “pobres”).

As irmandandes sufistas foram banidas da Turquia em 1925, mas o culto continuou mesmo assim. Em 1954, o governo permitiu que os dervishes dançantes de Konya realizassem apresentações para turistas.

Vale a pena assistir uma (mas eu recomendo a de 15 minutos, porque achei a de uma hora muito longa).

O sultanato seljúcida desapareceria, lentamente, ao longo do século XIII. Isso foi provocado pelas invasões dos mongóis e das guerras entre estes e os mamelucos, que invadiram a Anatólia em 1277.

O resultado é que, no século XIV, a Anatólia estava dividida entre vários pequenos principados.

Um deles era liderado por Osman (em árabe: Uthmān), descendente de uma daquelas tribos turcas que chegaram à Anatólia no século XI.

Ele ficaria conhecido na história como o fundador do império otomano.

Império Otomano

A sede do principado de Osman ficava em Sögüt, cerca de 200 quilômetros ao sul de Istambul.

Em 1326, seu filho Orhan ocupou a cidade de Bursa, que seria capital dos otomanos pelas décadas seguintes.

Eu adorei Bursa e gostaria de ter ficado mais tempo lá. Um ao lado do outro estão a mesquita e o Grande Bazar que mais gostei na Turquia.

Ulu Camii, a principal mesquita da cidade ficou pronta em 1399. Ela destaca-se pela caligrafia árabe na decoração das paredes.

E, também, pela existência de uma fonte no seu interior.

Diz a lenda que, quando as terras para construção da mesquita estavam sendo desapropriadas, uma senhora não quis vender sua terra porque ela era cristã e não queria que muçulmanos rezassem onde antes era sua casa.

O sultão teria desapropriado o terreno mesmo assim. Mas, em sinal de respeito, construiu uma fonte no local, para que ninguém rezasse ali.

Se é verdade, não sei, mas é uma história bonita. A fonte no meio da mesquita, também.

Ao lado da mesquita há muitos hans. Tratam-se de estruturas semelhantes aos caravanserais, mas que ficavam nas cidades.

Por isso, além de alojamento, eles serviam com mercado, onde os comerciantes também vendiam seus produtos.

Grupos de hans, um ao lado do outro, deram origem ao que conhecemos hoje como Grande Bazar (isso vale para o de Bursa e, também, para o de Istambul). Arrisco dizer que esses agrupamentos de hans foram os primeiros shopping centers do mundo.

O Grande Bazar de Bursa fica ao lado da mesquita. Seu han mais famoso é o Kozahan, também chamado de mercado da seda (koza significa casulo).

A seda já era produzida em Bursa desde o século VI, quando a cidade era parte do imperio bizantino.

Porém, o auge da produção de seda na cidade foi sob domínio otomano, a partir do final do século XVI e atingindo seu pico no século XIX.

Aqui você encontra um mapa em que é possível entender a organização dos hans do centro histórico de Bursa (o Kozahan é o número 12).

Ajuda bastante. Eu entrei no Grande Bazar sem mapa e me perdi no labirinto de lojas, que vendem de joias a roupa de cama.

Além dessa área central, onde visitei a mesquita e o centro comercial medieval, eu fui também ao mausoléu do sultão Mehmed I (1403 – 1421).

O prédio é conhecido como Tumba Verde (Yeşil Türbe).

Esse sultão é importante pois foi quem reorganizou o nascente império otomano, sendo considerado seu segundo fundador.

O fato de seu mausoléu ser em Bursa apesar de ele ter morrido quando a cidade não era mais a capital é um dos sinais de que ela permaneceu sendo importante para os líderes otomanos.

O mausoléu do fundador da dinastia, Osman, também foi mantido em Bursa. Na cidade também estão os todos os monumentos funerários de todos os sultões otomanos do sec XIV.

Em 1338, uma outra conquista importante para os otomanos aconteceu: eles ocuparam Usküdar. Hoje um bairro de Constantinopla, a antiga cidade de Usküdar tornou-se uma base para os otomanos em suas tentativas de conquista da então capital bizantina.

Sem conseguir ocupar Constantinopla, protegida pelo mar e por uma imponente muralha, os otomanos passaram a ocupar regiões na Europa.

Em 1361 conquistaram a Trácia (parte europeia da atual Turquia e cerca de metade da atual Bulgária) e grande parte do que hoje é a Grécia.

Constantinopla foi finalmente ocupada em 1453, marcando o final do Império Bizantino e começo do Império Otomano.

Embora fossem muçulmanos, os turcos respeitaram as outras religiões praticadas na cidade. E, ao invés de destruir a Santa Sofia, eles construíram outro prédio para ser sua mesquita.

Trata-se da mesquita Sultan Ahmet, mais popularmente conhecida como Mesquita Azul.

Nesse ano começou também a construção do palácio Topkapi, um complexo de vários prédios.

Ainda nesse ano foi fundada a Universidade de Istambul, atualmente entre as 500 melhores do mundo.

Seu campus principal fica na área histórica da cidade (Tarihi Beyazıt).

O século seguinte foi de enorme expansão. Após ocupar o resto dos Balcãs e da Anatólia, os otomanos começaram a conquista do Oriente Médio: Síria, Arábia e Egito.

Com isso, todas as regiões sagradas do islamismo passaram a ser parte do império otomano.

E, à exceção da Pérsia e da Mesopotâmia (hoje respectivamente Irã e Iraque), os otomanos eram agora senhores de todas as terras que formavam o antigo califado árabe.

Por isso, nos séculos seguintes, alguns dos sultões otomanos adotariam também o título de califa.

O resultado dessa conquista do mundo árabe foi uma grande mudança em Constantinopla, que passou a atrair a elite burocrática e intelectual de toda a região.

O auge do império otomano aconteceu durante o sultanato de Suleyman, o Magnífico (1520 – 1564).

Além do desenvolvimento comercial e cultural, ele ocupa a Hungria e promove o primeiro cerco otomano à Viena (1529).

No norte da África ele completa a ocupação da costa com a conquista da Líbia.

E, tornando o império otomano em uma potência naval do Mar Mediterrâneo, ele conquista também algumas das ilhas que hoje pertencem à Grécia.

Em Istambul, o principal prédio dessa fase é a Mesquita de Suleyman, que fica no alto de uma colina e de onde se tem uma vista bonita pra cidade.

Além disso, ela é bem mais tranquila que as agitadas Santa Sofia e Mesquita Azul.

No final do reinado de Suleyman, surgem os primeiros sinais de enfraquecimento do império.

Um século depois ocorreria a última tentativa frustrada de ocupar Viena (1683). A Hungria seria perdida para o Império Austríaco em seguida (1699).

O século XIX foi de importantes perdas territoriais.

Na Europa, a Grécia tornou-se independente na década de 1820.

Enquanto isso, os territórios no Oriente Médio estavam ameaçados pela presença britânica ao sul (na Índia) e russa ao norte (expansão em direção ao mar Negro).

As tentativas de reforma política fracassaram e, em 1878, o império otomano perdeu para russos e britânicos a maioria de seus territórios nos Balcãs, o Chipre e territórios próximos ao mar Negro.

No norte da África, a Tunísia foi ocupada pela França (1881) e o Egito pela Grã-Bretanha (1882).

Foi isso que aproximou o sultanato da Alemanha, que mais tarde financiaria a construção de uma estrada de ferro ligando Ankara (atual capital da Turquia) a Bagdá (capital do Iraque).

Foi por essa época que o império foi apelidado de “o homem doente da Europa”.

A última grande obra do sultanato foi, provavelmente, o palácio Dolmabahçe, na margem europeia do estreito do Bósforo.

Em 1909, o sultão Abdülhamid foi deposto por um grupo de militares conhecido como Jovens Turcos, que já conspirava para isso há duas décadas.

Embora o império ainda tivesse um sultão (Mehmed V, irmão do sultão deposto), eram os Jovens Turcos quem exerciam o poder.

O movimento promoveu nacionalismo, industrialização e investimentos na educação básica.

Foi a política externa que levou ao fim do governo dos Jovens Turcos. Duas guerras balcânicas (1912-1913) levaram à perda de praticamente todos os territórios que os otomanos ainda tinham na Europa.

A isso soma-se a decisão de entrar na I Guerra Mundial ao lado da Alemanha.

Em setembro de 1918 os Jovens Turcos saíram do governo, deixando para o gabinete seguinte a dura missão de assinar o tratado de armistício.

Passaram-se dois anos até o sultão receber o texto do tratado do pós-guerra.

Entre 1918 e 1920, entretanto, os Aliados – especialmente Grã-Bretanha e França – já dividiam o império otomano entre eles.

Quanto à Istambul, ainda durante a guerra, os Aliados haviam combinado que ela ficaria com a Rússia.

⁹Porém, como o império russo deixou de existir em 1917, os Aliados não hesitaram: ocuparam a cidade, mal a guerra havia acabado.

O sultão podia achar que tudo estava perdido, mas nem todos os turcos concordavam com ele.

Um de seus mais brilhantes generais, Mustafa Kemal, era um desses. Ele começou a conversar com amigos como Orbay, o herói da marinha turca, sobre um plano de resistência que seria sediado em Ankara, no centro da Anatólia.

Enquanto isso surgiam vários focos de resistência e luta armada por toda a Turquia.

Para controlar o caos, os Aliados pedem que o sultão faça alguma coisa.

Seu grã-vizir indica ninguém menos que Mustafa Kemal, um militar de confiança, para ir ao interior da Anatólia fazer um diagnóstico da situação.

Kemal sai de Istambul com um plano e amplos poderes.

O dia em que ele desembarca em Samsun, no norte do mar Negro, e diz à população que o sultão está prisioneiro dos Aliados ficou conhecido como o começo da guerra de independência turca (1919 – 1923).

O sultão, pressionado pelos Aliados, tentou fazer com que ele voltasse. Era tarde demais. Kemal já tinha conquistado o apoio necessário para levar o movimento à frente.

Ainda assim, o sultão assinou em agosto de 1920 o tratado do pós-guerra finalmente apresentado pelos aliados, o Tratado de Sèvres.

Ele abolia o império otomano – quem aparece no tratado já é uma entidade chamada Turquia – e formalizava a distribuição do território.

Enquanto isso, o movimento de independência continua.

Em janeiro de 1921, os revolucionários, reunidos em Ankara, declaram que a soberania pertence à nação e que a assembleia formada por eles representa a nação.

Esse novo governo, estabelecido pela assembleia, é reconhecido pela Rússia, que assina um tratado devolvendo à Turquia alguns dos territórios no leste da Anatólia.

Logo a França também assina um tratado com o governo de Ankara, pelo qual devolve à Turquia um território no sul da Anatólia, na fronteira com a Síria.

E, por meio de um novo armistício, os Aliados concordam com a devolução para a Turquia de Istambul e seus arredores na Europa.

Em novembro de 1922, tendo recuperado a maior parte da Anatólia, o novo governo decide em assembleia pela abolição do sultanato. Mehmed VI viveria no exílio até sua morte, em 1926.

É de dois anos depois a instalação de um monumento à república no centro da parte moderna de Istambul (praça Taksim).

Para reorganizar as fronteiras, os Aliados convidam o novo governo para discutir um novo tratado. O resultado é o Tratado de Lausanne (1923), que formalizou as fronteiras da atual Turquia.

República da Turquia

Mustafa Kemal foi o primeiro presidente do país, governando de 1923 a 1938. Ele ficou conhecido como Atatürk, que significa “o pai dos turcos”.

Segundo a constitução da Turquia, o termo político “turco” representa qualquer habitante da República da Turquia, independentemente de religião ou raça.

O idioma mais falado no país é o turco, e, embora o estado seja laico desde 1928, o islamismo continua sendo a principal religião do país (mais de 95% da população).

O território da Turquia tem 783 mil quilômetros quadrados. Isso corresponde a mais do que duas Alemanhas, ou três vezes o estado brasileiro de São Paulo.

Apenas 3% desse território fica na Europa (fronteira com Grécia e Bulgária). Todo o resto fica na Ásia, onde seus vizinhos são a Geórgia, a Armênia, o Azerbajão, o Irã, o Iraque e a Síria.

Istambul, ao redor do estreito de Bósforo, tem um lado europeu e um lado asiático.

A antiga capital dos romanos/bizantinos e dos otomomanos, embora não seja mais capital, continua sendo a cidade mais populosa da Turquia, com quase 16 milhões de habitantes.

Ankara, cidade asiática que foi sede do movimento revolucionário, é a capital do país. Ela tem atualmente quase 6 milhões de habitantes.

Ao contrário de seus vizinhos árabes, a Turquia tem pouco petróleo e depende de importações do produto. Em contra-partida, o país é o maior produtor de aço do Oriente Médio.

Desde 1952, a Turquia é membro do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), tendo seu segundo maior contingente militar (atrás apenas dos Estados Unidos).

Embora seja membro do Conselho da Europa, organização fundada em 1949, a Turquia não é membro da União Europeia. Negociações para isso iniciaram em 2005, mas não foram adiante.

A Turquia, no caminho entre Ásia e Europa, tem um valor histórico e cultural impressionante, reconhecido pela UNESCO, que classificou dezenas de locais do país com Patrimônio da Humanidade.

Também aparecem na lista dois locais que, além de importância cultural, tem também importâncianatural.

O primeiro é a região da Capadócia onde acontecem os paseios de balão e onde você pode visitar as cidades subterrâneas e as casas e igrejas construídas dentro das rochas.

O segundo é a área entre a Capadócia e o mar Egeu onde ficam as termas de Hierápolis e o castelo de algodão.

Como visitar a Turquia

Eu fui em uma excursão de 12 dias, com saída a partir de Lisboa. Esse foi meu roteiro:

Fui com a agência Pinto Lopes (com quem já tinha ido ao Marrocos) e recomendo.

Escolhi excursão porque queria conhecer vários lugares e era mais conveniente contar com a estrutura de transporte que eles oferecem (vôo de Istambul para a Capadócia e trajeto de ônibus de lá até chegar de volta à Istambul, parando em todos esses lugares).

Se você pensa em fazer um roteiro parecido, acho que excursão é a opção mais conveniente. Se você está pensando em ir por conta própia, pode alugar um carro. Sem carro, minha sugestão é focar em uma dessas regiões:

  • Istambul: me pareceu uma cidade segura e onde é fácil movimentar-se a pé e de transporte público. A cidade é interessantíssima e fácil de encaixar em um roteiro pela Europa.

Eu só tive tempo de conhecer a parte europeia. Nela, se você estiver perto da parada da linha T1 do trem de superfície, terá acesso fácil a maioria dos pontos de interesse turístico.

Inclusive ao famoso Grande Bazar de Istambul. Mas, antes de ir até lá, sugiro dar uma espiada nesse post pra entender o que te espera e organizar o roteiro.

Um mercado menorzinho – e, por isso, bem mais charmoso na minha opinião – é o Mercado de Especiarias (pertinho da ponte de Gálata).

Uma última dica sobre Istambul: estando por lá, não deixe de achar um terraço para ver o entardecer sobre o Bósforo. É espetacular.

  • A Capadócia! A principal cidade turística da região é Göreme. Ficando nela, você pode hospedar-se numa caverna, tipo essa:

E ver os balões sobrevoando a cidade ao amanhecer.

Você também vai ver muitas rochas nesse formato esquisito. Elas são conhecidas como “chaminé de fada” (pra mim, parecem mais cogumelos 🙂 ).

Embora elas estejam por toda a parte na Capadócia, em alguns locais elas estão mais concentradas, como nesse da foto, chamado Vale de Pasabag.

No vale do Göreme também está a maior concentração de igrejas cristãs da Capadócia.

É que, a partir do século VIII, monges começaram a ir para a região, que eles consideravam sagrada por ser o local onde vários santos estavam enterrados.

Era fácil “construir” igrejas lá: bastava escavar as rochas vulânicas. É por isso que, apenas no vale do Göreme, há mais de 60 igrejas desse tipo, a maioria delas com pinturas bizantinas.

A região superior do vale foi transformada em um museu aberto (Göreme Open Air Museum), em que há 15 igrejas e 11 refeitórios. A gente pode entrar em vários deles.

As pinturas das igrejas são do século X, e você pode ver algumas delas aqui.

Para visitar as lindezas da Capadócia, o mais fácil é voar para um dos dois aeroportos nas proximidades, Kayseri (ASR, o maior da região; 1 hora de carro de Göreme) ou Nevsehir (NEV, o mais próximo de Göreme: 40 minutos de carro).

Para planejar uma viagem por conta própria na Turquia, sugiro a leitura desse post (em português).

Para ter uma noção geral de o que ver na Turquia, espia esse aqui. E, finalmente, para encontrar algo mais focado na Capadócia, recomendo esse aqui.