Com apenas 180 mil habitantes, Split só perde em população para a capital Zagreb, com 800 mil habitantes.
Muita gente passa por Split, pois o aeroporto da cidade recebe vôos da EasyJet e a cidade é um dos principais portos para acesso às ilhas croatas.
Mas vale a pena fazer uma pausa na cidade e ficar uns dois dias por lá. Ela não tem apenas uma natureza deslumbrante, como também é pura história.
A cidade surgiu dentro de um palácio gigante, construído há 1.600 anos, hoje considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO.

A cidade fica aos pés do Monte Marjan, essa área verde à esquerda do mapa.

Marjan é uma área fantástica para quem gosta de caminhar e andar de bicicleta.
E, claro, Split oferece tudo o que a Croácia tem de melhor: mar transparente, comida boa e gente simpática.
É disso tudo que eu vou te contar nesse post. Se você quiser saber mais sobre o país, leia os dois que escrevi antes: Croácia, o país das mil ilhas e Pequena História de Dubrovnik
Viver e trabalhar dentro do palácio de um imperador
Antes de Split existir, havia no local um palácio. Ele foi construído no final do século III, por Diocleciano, um imperador romano que decidiu construir um palácio onde pudesse se aposentar.
Ele escolheu aquela região, próxima ao Monte Marjan, porque era a apenas 7 quilômetros de Salona, na época, uma das capitais do Império Romano.
Eu visitei as ruínas de Salona. Fui de ônibus de linha e foi beeeem indiada. Bem mais fácil para quem está passeando de carro. Uber também é uma opção.
As ruínas de Salona são legais e ocupam uma área bem extensa.

A cidade de Salona foi atacada por povos Ávaros e Eslavos no século VII. A população, fugindo, escondeu-se no palácio de Diocleciano, que era pertinho dali.
E foi assim que a cidade de Split desenvolveu-se dentro dos muros do antigo palácio.

Recomendo muito um tour guiado na cidade. Os guias mostram pra gente detalhes que seriam difíceis de encontrar.
Por exemplo, essa coluna romana de quase 2000 anos, dentro de um banco.
Até a cidade virar Patrimônio da Humanidade, as pessoas construiam assim, livremente dentro do palácio.
Até de pedestal para mesa as colunas romanas de quase dois mil anos servem!!

Nas ruas, é fácil distinguir o calçamento original do novo e encontrar os antigos mosaicos no chão.

Andando pela cidade com um guia, eles mostram pra gente a diferença entre o calçamento original e o novo nos lugares mais inusitados, como dentro de lojas e supermercados. Muito louco!
Essa é a praça central, a parte mais importante do castelo, e, também, da cidade.
Dessa parte mais alta o Imperador fazia seus discursos.

Para baixo a gente enxerga uma galeria. Ela liga a praça central à orla.
Dentro dessa galeria fica a entrada para os porões, que são a parte mais antiga do palácio.

Pra cima, logo atrás daquela área em que o imperador discursava, ficava a entrada principal da ala imperial.
O hall tem uma forma arredondada, que dá uma excelente qualidade acústica para o local.
Por isso é ali que músicos locais, que cantam músicas tradicionais à capela, costumam se apresentar.

Da praça também se vê o mausoléu de Diocleciano (prédio à esquerda), que foi aumentado e transformado em uma catedral.
Ao longo dos séculos, prédios de diferentes épocas foram surgindo dentro dos muros do palácio. Bem na frente da catedral, por exemplo, estão alguns palácios medievais, hoje transformados em restaurantes.
Antes desses palácios medievais, a mesma área era ocupada por três templos. Apenas o de Júpiter sobreviveu.
Na frente do pequeno prédio fica uma das três esfinges egípcias de 3.500 anos que podem ser vistas pela cidade assim, expostas na calçada.

Mas, pra mim, o mais legal mesmo foi sentar de tardezinha nos degraus da praça onde Diocleciano fazia seus discursos.
Não que ele fosse uma pessoa muito inspiradora: contam que ele declarou-se filho do deus Júpiter e exigia que todos os súditos ficasses deitados, com os braços estendidos no chão, cada vez que ele resolvia fazer um discurso.
Mas a ideia de estar “vivendo dentro da história” tem um apelo gigante pra mim. E em nenhum lugar que eu tenha estado antes me senti estar ao mesmo tempo em momentos tão diferentes da história como me senti nessa praça.

Achei Split uma experiência única, que recomendo muito para todo mundo que gosta de história.
Além do palácio do imperador: mar e montanha
Saindo do centro antigo em direção à orla, Split me lembrou muito o Rio de Janeiro: uma cidade ensolarada, com gente bem-humorada, uma combinação equilibrada entre turistas e habitantes circulando pelas ruas (ao contrário do centro antigo de Dubrovnik, por exemplo, onde a gente só vê turista).
A orla é perfeita para caminhadas e passeios de bicicleta. E é cheia de bancos, deixando a gente super a vontade pra sentar e perder a noção das horas olhando o mar transparente.

Split oferece várias opções de praia, além das ilhas, que estão a um pulinho dali.
E o Monte Marjan, com um bosque de pinheiros, está logo ali, esperando para ser explorado a pé ou de bike.
Passear no Monte Marjan
É de lá que se tem as melhores vistas para a cidade.
Para chegar na entrada do parque, o acesso mais fácil é subindo a Escadaria Marjan.
Os pontos altos do passeio são as várias trilhas, a igrejinha de São Nicolau, uma plataforma de onde se tem uma vista de 360 graus, as casas nas cavernas (construídas no século XVI) e as praias.
Esse post do blog Jet Setting Fools é o melhor que li sobre o assunto, e recomendo muito a leitura para quem está interessado em passear pelo parque.
Andar de bicicleta
A parte da orla entre a Riva (na frente do palácio) e o fim do calçadão (para a direita de quem está olhando pro mar) é um trecho de pouco mais de 1 quilômetro, super agradável para pedaladas.
Alugar uma bicicleta foi fácil, consegui em uma loja na orla mesmo. A bicicleta era excelente e paguei 80 kunas por 4 horas.
Várias agências de turismo oferecem passeios guiados mais longos. Eu tentei fazer o passeio em Marjan indo pela Rota Sul sem guia, mas não funcionou.
A ciclovia termina antes da Galeria Meštrović (uma dos principais pontos culturais da cidade) e, a partir daí, a gente tem que pedalar pela estrada mesmo.
Achei que ia ser muito perigoso e comecei a espiar as prainhas que se escondem na encosta do morro para parar por ali mesmo. Desci rumo à praia Kastelet, que é uma gracinha.
Fiz uma outra tentativa de passeio longo, mas também não fui muito bem sucedida. Meu objetivo era ir até a Praia Firule, mas, depois de passar pelas praias Bačvice e Ovčice, achei que não valia a pena ir adiante.
Não tem ciclovia pra esse lado, a maior parte do trajeto era entre carros, então foi meio estressante.
Além disso, achei as praias desse lado urbanas e lotadas demais pro meu gosto.
Passear pelos arredores
Um dos passeios mais populares a partir de Split é ir de barco até a Lagoa Azul. Uns amigos meus fizeram num dia nublado e não viram o tal do azul. Então, a dica é: só faça esse passeio se for num dia de sol!
Para visitar as ilhas: o acesso mais fácil é às ilhas de Solta, Brac e Hvar. O ferry direto de Split a qualquer uma delas leva pouco mais de uma hora.
Outra opção de ilha nas redondezas é Vis. Foi nela que se estabeleceu a primeira colônia grega da região, há 2400 anos. É um pouco mais longe do que as outras: fica a cerca de 2h30 de Split.
De Vis, você está a um pulinho de Bisevo, um pequena ilha que fica cheia de turistas no verão. É que lá fica a Caverna Azul, famosa em todo o país.
Para quem prefere manter os pés na terra, algumas praias onde você pode chegar de carro a partir de Split são Brela e Baska.
Se você tem interesse em cidades medievais, a melhor opção nas proximidades é a cidade de Trogir, também Patrimônio Histórico da Humanidade.
E, para os fãs de Games of Thrones, Klis é imperdível. Na quarta temporada da série, em 2014, ela apareceu como Meereen, a maior das três Grandes Cidades Eslavas.
A partir daí, começaram a aparecer investimentos para reconstrução da fortaleza, que rapidamente transformou-se em um ponto turístico significativo. Ela foi visitada por 70 mil turistas em 2018.
Se você ficou interessado nesses passeios, espie esse post do blog TourOpia, com boas dicas sobre como chegar em alguns desses lugares.
Dicas práticas
Aluguei um apartamento na orla, na frente do porto Matejuska.

Achei a localização perfeita: cinco minutos a pé de qualquer lugar. Tanto do palácio, quanto da escadaria que leva até o Parque Marjan e do centro “novo” (fora dos muros do palácio).


O porto de onde saem os barcos para as ilhas e a rodoviária são praticamente um na frente do outro.
Para quem chega ou sai da cidade de avião, o caminho pode ser feito em ônibus direto quem vai da rodoviária ao aeroporto em cerca de 40 minutos (mas vai depender do trânsito).

Eu cheguei em Split de barco, vindo de Dubrovnik. Em um próximo post vou escrever sobre minhas duas paradas no caminho, nas ilhas Hvar e Korcula.
Os comentários estão encerrados.