A igreja Sagrada Família é provavelmente uma das imagens mais conhecidas do mundo.
Mas ela não é a única obra deslumbrante de Antoni Gaudí, o famoso arquiteto catalão.
O Park Güell, com seus mosaicos coloridos, também é cartão postal da cidade.
A casa que ele construiu para a família Batlló, que brinca com motivos marinhos, é fascinante.
E esses são apenas alguns exemplos de suas muitas obras por Barcelona e pela Catalunha.
Mas nem só de Gaudi é feita a arquitetura modernista de Barcelona.
O Palácio da Música Catalã (Palau de la Musica Catalana) e o Hospital de San Pau, ambos projetos do arquiteto Lluís Domènech i Montaner, também são espetaculares.
Esses dois prédios, assim como o conjunto da obra de Gaudí, são considerados Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO há décadas.
Mas o que propiciou esse momento mágico da arquitetura da cidade entre o final do século XIX e início do século XX?
É isso que eu vou te contar nesse post.

Além, claro, de contar mais detalhes sobre Gaudí, Domènech e outros artistas do modernismo catalão.
Contexto
Barcelona como cidade murada
Barcelona, como muitas outras cidades medievais, era cercada por muros.
Os primeiros muros da cidade foram erguidos no tempo do Império Romano, tinham 1,5 km de extensão e cercavam a área mais antiga da cidade, hoje conhecida como Bairro Gótico.
Eles foram ampliados entre os séculos XII e XVII, uma época em que a Catalunha ainda era independente do governo central da Espanha.
Ao redor dos muros, havia uma área completamente deserta, mantida daquela forma como parte da estratégia de defesa da cidade.
O governo central controlou Barcelona apenas ao final da Guerra de Sucessão Espanhola (1701-1714), em que Madri estava do lado vencedor (dinastia Bourbon), e Barcelona, do lado perdedor (dinastia Habsburgo).
Parte de sua estratégia para manter o controle sobre a região foi construir uma nova área militar, uma fortaleza chamada Cidadela.
Os muros já existentes e a área deserta ao seu redor foram mantidos.
Industrialização
A vitória do governo central teve um efeito positivo para Barcelona. A cidade passou por um movimento de industrialização tão forte que, logo, a Catalunha tornar-se-ia a região mais desenvolvida da Espanha.
Barcelona ficou conhecida como “a Manchester do Mediterrâneo”.
A industrialização transformou a cidade dentro dos muros. E, também, seus arredores.
Na medida em que a cidade ia ficando super populada, as fábricas passaram a instalar-se nos arredores, sempre respeitando aquele espaço de 1,2 km ao redor dos muros que era parte da estratégia de defesa da cidade.
Isso levou ao desenvolvimento de municípios que mais tarde passariam a ser parte de Barcelona, como Sant Andreu, Les Corts, Saints e Gracia.
A densidade populacional dentro dos muros de Barcelona nessa época, metade do século XIX, era duas vezes maior do que a de Paris.
A cidade era suja, doenças alastravam-se rapidamente, revoltas populares em função da baixa qualidade de vida tornavam-se mais e mais frequentes.
Isso levou à decisão de derrubar os muros, o que foi concluído em 1856.
Onde eles estavam foram construídas avenidas, que hoje são algumas das principais da cidade: Rondas de San Pablo, San Antoni, Universidad e San Pedro.
L’Eixample (a extensão da cidade)
Em 1859 foi aprovado o Plano Cerdá, um projeto de urbanização para a enorme faixa de terra deserta que havia ao redor dos muros.
A extensão (ensanche em espanhol, eixample em catalão) da cidade ocuparia uma área total dez vezes maior do que a antiga cidade e ligaria a antiga Barcelona às cidades ao seu redor.
Uma das características do plano que podem ser facilmente observadas quando a gente caminha pelo L’Eixample é que as esquinas não tem um ângulo de 90 graus como estamos acostumados.
Elas são “cortadas”, o que faz com que os blocos sejam octogonais.

Fonte: Blouste in Review. Reproduçao Neuman, “Ildefons Cerdà and the future of spatial planning: The network urbanism of a city planning pioneer”, 126.
Esse é apenas um detalhe de um projeto super complexo de planejamento urbano e, até hoje, considerado referência no assunto.
Para os interessado no tema, recomendo muito a leitura do artigo da revista Blouste in Review que mencionei acima
Finalmente, completando o processo de derrubada dos muros, a Citadela, aquela fortaleza construída no começo do século XVIII, foi finalmente derrubada em 1868.
Em seu lugar foi construído um parque (Parc de la Ciutadela).
Se você quiser visitá-lo, aproveite quando estiver circulando pela área antiga da cidade.
São dez minutos à pé da estação de metrô Sant Jaume (Bairro Gótico) e, pelo caminho, você vai passar pelo bairro El Born, onde fica a Basílica de Santa Maria do Mar (tema da série do Netflix A Catedral do Mar).
A Exposição Universal (World Fair)
A construção do L’Eixample foi o maior projeto urbanístico da Europa no século XIX. Para mostrar sua pujança para o mundo, Barcelona sediou a Exposição Universal de 1888.
A Exposição Universal, evento criado para promover a integração da indústria entre os diferentes países industrializados, havia acontecido pela primeira vez em 1851, em Londres.
Em 1878, na Exposição Universal de Paris, aconteceu um evento que mudaria a história da arquitetura. O jovem arquiteto Antoni Gaudí conheceu o empresário Eusebi Güell.
A futura parceria resultaria em muitos projetos, três dos quais são hoje considerados Patrimônio Histórico da Humanidade. A gente vai falar mais sobre isso em seguida.
Uma outra Exposição Universal importante para a cidade foi a primeira a acontecer em Barcelona, em 1888. Seu tema foi Belas Artes e Indústria.
Nessa época surgia o movimento artístico (ou período da história da arte) chamado Art Nouveau.
Embora tenha atingido várias formas de expressão artística, a arquitetura é o grande destaque.
Suas principais características são a inspiração na natureza e o uso de novos materiais, como ferro, aço, vidro e cerâmica.

A maior promoção da Art Noveau aconteceu na Exposição Universal de Paris de 1900, que deixou como legado para a cidade as belas entradas das estações de metrô.
O industrial e o arquiteto: Güell e Gaudí
Eusebi era filho de Joan Güell, um espanhol que havia feito fortuna em Cuba e tornado-se um industrial de sucesso em seu retorno à Barcelona.
Além de herdar a fortuna do seu pai e aumentá-la, Eusebi também participou dos negócios de seu sogro, o Marquês de Comilla, que, dizem, era a pessoa mais rica da Espanha.
Em 1908, Eusebi receberia um título de nobreza por sua contribuição para o crescimento econômico da Espanha, passando a ser chamado de I Conde Güell.
Antoni Gaudí nasceu no interior da Catalunha. De origem simples, mudou-se para Barcelona para estudar arquitetura (1870-1874).
Em 1878 ele participou da Exposição Universal de Paris sendo o responsável por uma peça que chamou a atenção de Güell.
O industrial logo recomendou Gaudí para seu sogro, que estava construindo um palácio na Cantábria.
Além de trabalhar no mobiliário da capela, Gaudí acabou sendo contratado para construir também um chalé.
Esse prédio é hoje chamado de El Capricho de Gaudí.
Alguns anos depois, Gaudí faria uma obra para o próprio Güell: a porteira e os estábulos da Finca Güell, propriedade do industrial em Les Corts (uma daquelas cidades nos arredores de Barcelona).
Em seguida Eusebi contrataria Gaudí para um projeto bem maior: a construção da nova casa da família no centro de Barcelona, o Palácio Güell.
Depois de duas outras menores (Vinícola Güell e a cripta da Colônia Güell), no ano 1900 Gaudí recebeu a maior encomenda do empresário: o Park Güell. Eu vou te contar dele em seguida, porque nesse eu fui 🙂
Apenas pra terminar a história dessa amizade antes: em 1906 Gaudí passou a morar em uma das casas do parque.
Eusebi Güell também se mudaria com a família para lá no ano seguinte – moraram no prédio ao lado, que é hoje uma escola.
Eles foram vizinhos até 1918, quando Güell faleceu.
Em 1925 Gaudí mudou-se e foi morar no escritório das obras da Sagrada Família.
A vida de Gaudí
Gaudí nunca casou. Sua sobrinha, que morou com ele por muitos anos, parece ter sido a única presença feminina importante na sua vida.
Desde o início de sua carreira, ele já demonstrava interesse nas formas e estruturas da natureza, como se vê em seu primeiro projeto significativo, o prédio de uma cooperativa, construído entre 1878 e 1883.
Em 1883 ele começaria três novos projetos: a Finca Güell, de que já falamos antes, a Casa Vicens e a Igreja Sagrada Família (da qual vou falar em seguida).
A Casa Vicens é uma das 7 obras de Gaudí considerada Patrimônio da Humanidade e a primeira grande obra de Gaudí.
Trata-se de uma casa de verão em Gracia (aquela cidade que, mais tarde seria incorporada à Barcelona). Ele construiria várias outras casas depois desta.
Gaudí foi um arquiteto bastante produtivo, não só na Catalunha. Entre 1883 e 1894, ele trabalhou em projetos em León e na Cantábria.
Ele também participaria mais tarde da restauração da Catedral de Mallorca. Aqui você pode ver a lista completa de seus projetos.
A partir de 1910 ele trabalharia exclusivamente na Sagrada Família, ao mesmo tempo em que se tornava mais e mais religioso.

Gaudí teve uma morte triste. Ele foi atropelado por um bonde em 1926, a caminho de um encontro com seu confessor.
O bonde estava a 10 km por hora, e o condutor não parou. Ninguém parou, achando que se tratava de um mendigo.
Ele não carregava documentos e, embora fosse famoso por suas obras, ele era avesso aos fotógrafos e pouca gente conhecia sua aparência.
Gaudí só foi levado para um hospital horas depois. Sua identidade e a gravidade de seus ferimentos só foram conhecidas no dia seguinte.
Ele morreria menos de três dias depois.
Hoje Gaudí está enterrado – e só ele – na cripta de sua obra-prima, a Sagrada Família.
Eu visitei!
Sagrada Família
Se você foi à Barcelona e não entrou na Sagrada Família, precisa voltar. Não, não é uma igreja igual às outras.

Só a Sagrada Família tem esculturas em formas de folhas e insetos na entrada principal.




E pilares com forma de árvore no interior.

Recomendo muito usar o áudio guia na visita, tem muitos detalhes que a gente perde sem a devida explicação.
Essa é a Fachada da Paixão, que tem uma simbologia super rica.

Fiquei na dúvida se valia a pena subir na torre ou não e acabei subindo (tem que pagar mais para isso).
A subida é de elevador e depois a gente caminha pelo telhado.
Dá pra ver mais de perto os detalhes do telhado, o que é interessante.
Mas a igreja ainda tem muita obra, muita coisa não dá para ver direito.

O plano é que a Sagrada Família fique pronta em 2026, ano do centenário da morte de Gaudí.
O que eu perdi sem querer foi a cripta. Só depois de sair, descobri depois que ela tem uma entrada separada, do lado de fora da igreja.
Para entender mais sobre a igreja, suas fachadas e torres, confira esse infográfico maravilhoso.
Aqui, abro um parênteses: me apaixonei tanto por esse infográfico que resolvi pesquisar sobre seu criador.
Descobri o artista espanhol Fernando Baptista, super premiado editor gráfico da National Geographic.
Olha aqui outros infográficos lindos dele.
E, aqui, você pode ver alguns exemplos de um outro tipo de trabalho em que ele também é especialista: infográficos animados.
Voltando para a Sagrada Família: para fazer uma visita virtual e/ou comprar ingressos, aqui está o site da igreja.
Park Güell
Essa salamandra de mosaicos te parece familiar?

Ou esse banco ondulado revestido com mosaicos?

Se a resposta é sim, é porque você já viu o Park Güell por aí.
Eusebi chamou Gaudí para construir um condomínio de luxo que seria dividido em 60 lotes.
O primeiro deles foi vendido em 1902. No mesmo ano foi construída uma casa show-room para promover as vendas.
Até 1914 foram construídos os portões de entrada, a escadaria principal, ruas e viadutos, uma área para espetáculos, uma praça central.
Mas, em função do fracasso nas vendas, a obra foi abandonada.
Por incrível que pareça, eu achei as ruas, estradas e pontes ainda mais fascinantes que a salamandra e o banco de mosaico.
A maneira com que o arquiteto integrou essas áreas à paisagem é surpreendente e mostra bem o talento que ele tinha para construir de acordo com estruturas e formas da natureza.
Que bom que Gaudí encontrou alguém como Güell para financiar obras como essa, tão diferentes de tudo que a gente vê por aí.
As duas casas aos pés da escadaria são La Casa del Guarda, que tem esse nome porque foi projetado por Gaudí para ser a residência do porteiro do condomínio/parque, e uma loja de souvenir especializada em Gaudí e Barcelona.


A Casa del Guarda é hoje parte do Museu de História de Barcelona e tem uma exposição permanente que mostra como era a cidade na época de Güell e Gaudí.
Aqui você pode fazer uma visita virtual.
A casa onde o arquiteto viveu, um pouco mais escondida, foi transformada no Museu Gaudí, aberto para visitas desde 1963.
Para visitar essa área toda, compre seu ingresso com antecedência (tudo isso de que falamos fica dentro da área paga) e prepare-se para as filas (inclusive de turistas querendo tirar foto na salamandra).
Além da área paga, existe uma parte pública enorme e super agradável, excelente para piqueniques e passeios ao ar livre.
Desde 1984 o parque está listado como Patrimônio Histórico da Humanidade, graças à sua originalidade e importância histórica, arquitetônica e artística.
As Casas de Gaudí
Bem, pra começar, elas não são exatamente o que a gente chama de casa.
As duas que visitei, Batlló e Milá, são mais prédios do que casas.
Tanto a Batlló quanto a Milá ficam no Passeio de Gracia (Passeig de Gracia), que era o caminho entre a Barcelona murada e a cidade de Gracia, de que falei antes.
Durante as obras de extensão da cidade, foi construída ali uma avenida larga, com canteiro no meio, que logo se tornou o local preferido da burguesia para construir suas mansões.

Já em 1877, um professor de Gaudí, Emilio Sala Cortes, construiu um dos primeiros prédios importantes da avenida: justamente aquele que, mais tarde, seria reformado por seu aluno e passaria a ser chamado de Casa Batlló.
O boom da construção de prédios modernistas no Passeio de Gracia foi entre 1900 e 1914, época em que vários concursos de arquitetura foram promovidos na cidade e os ricos de Barcelona disputavam para ver quem tinha o prédio mais espetacular.
Bom para os arquitetos da cidade, que puderam explorar sua criatividade, resultando na criação de um estilo único, o Modernismo Catalão, usando o avant-garde, tão em moda naquele momento, para reapresentar as tradições regionais.


Casa Batlló
A primeira casa de Gaudí nessa rua foi uma encomenda de Josep Batlló.
Ele era um empresário da indústria têxtil e, quando comprou a casa que havia sido construída pelo professor de Gaudí, planejava derrubá-la e construir uma nova.
Mas Gaudí convenceu Batlló a manter a estrutura original.
Nem parece. A transformação que ele fez no prédio foi radical.
A fachada é curva, criando a ilusão de um mar sereno.

Cada detalhe foi profundamente pensado, das portas e janelas ao teto e corrimãos.

O maior problema do prédio era a iluminação, mas Gaudí usou algumas artimanhas no poço de luz para resolver o problema.
Ele instalou clarabóias no teto para permitir a entrada de luz.
Também usou muita transparência nas janelas e corredores, que contavam também com umas janelinhas que possibilitavam passagem de luz e ar.
Para completar, ele revestiu o poço de luz com cerâmica em degradê de azul e branco, criando um efeito que amplia a luminosidade.



E essa lareira-sala-cogumelo com sofá dentro, que tal? Eu amei!


Quando estiver visitando a casa (não perca!!), use o smart-guide, um aparelhinho que a gente recebe na entrada.
Quando a gente aponta o smart-guide para certas áreas da obra, parede, janela, etc, ele mostra movimento, nos ajudando a entender o que passava pela cabeça super criativa de Gaudí.
É genial. Pra ter uma ideia do que ele faz, assista esse vídeo maravilhoso.
Até 2004, o prédio teve uso privado, comercial e residencial. A partir desse ano ele passou a receber turistas apenas.
Infelizmente, enquanto escrevo esse post, a Casa Batlló está fechada. Para saber se já reabriu, clique aqui.
La Pedrera (a Casa Milà)
A história da construção dessa casa é uma novela!
Os Milás contrataram Gaudí por recomendação de Batlló e esperando obter algo parecido com a casa deles.
Coitados, tiveram uma experiência completamente diferente.

Gaudí era, antes de tudo, um artista. E foi mudando o projeto durante a execução, sem prestar a mínima atenção às regras de urbanização da cidade.
O volume da construção era ilegal, o sótão e o terraço excediam os limites estabelecidos e uma das colunas foi construída na calçada da avenida.
No fim, a prefeitura entendeu que o edifício era uma obra de arte e podia ser mantida como estava.
Mas os proprietários tiveram que pagar uma multa gigante e resolveram processar o arquiteto.
Mas Gaudí venceu o processo e os Milás tiveram que hipotecar a casa para poder pagá-lo.
Dizem que Gaudí doou o dinheiro que recebeu para um convento.
É difícil te explicar com palavras o que é essa obra. Pelo seu apelido, La Pedrera, já dá para imaginar que ela é inspirada na natureza.
Agora imagina uma fachada curva, que parece uma onda… feita de pedra!

Ou, melhor ainda, assista a esse vídeo curtinho (2:45), só imagem e música.
Você vai entender a força da natureza que é essa casa e que eu não vou conseguir te explicar com palavras.
Se é bonita? A controvérsia sobre isso é interminável. Mas sua originalidade e engenhosidade é incontestável.
Com certeza você precisa visitar essa casa se sua paixão é arquitetura.
La Pedrera também está sempre na lista de que gosta de vistas aéreas: o terraço, que aparece no filme Vicky Cristina Barcelona, é completamente diferente de tudo o que você já viu.
E a vista de lá é conhecida como uma das melhores de Barcelona.

Outro atrativo são os apartamentos decorados, com distribuição das peças nada convencional e mobília original.
Pra gente entender como era a vida dos ricos na Barcelona de 1900 e pouco.

No sótão da Casa Milá está o melhor museu de Barcelona sobre a vida e obra de Gaudi.
Lá a gente encontra vários modelos, como esse da Casa Batlló, que nos ajudam a entender seus projetos.

Para saber mais sobre tudo isso, veja aqui o site oficial da Casa Milá.
Pra encerrar esse assunto, uma curiosidade: diferentemente da casa Batlló, que hoje funciona apenas para turismo, a Casa Milá continua tendo uso comercial e residencial.
Roteiro obras de Gaudí
Conhecer essas quatro obras de Gaudí com tranquilidade era prioridade na minha viagem à Barcelona.
Pude me dar ao luxo de ir em cada uma em um dia diferente e recomendo isso para quem puder fazer o mesmo.
Mas se você tem pouco tempo, dá para conhecer a Sagrada Família e as duas casas no mesmo dia.
As casas Batlló e Milá ficam a 500 metros uma da outra, e a Sagrada Família fica a 1,5 km da Casa Milá.
O Park Güell não é muito longe, fica a cerca de 2,5 km dali. Mas não recomendo ir a pé, o caminho é uma longa subida.
Se você está planejando visitar ainda mais obras de Gaudí enquanto estiver em Barcelona, leia esse artigo da National Geographic, que fala de outras 6 obras importantes do arquiteto, incluindo a Casa Calvet.
Quer mais Gaudí? Barcelona tem também algumas outras obras menos conhecidas, que você pode descobrir lendo o post El Gaudí más Secreto.
Os postes de luz da Praça Real também são dele.

E, pra quem está de carro, é fácil fazer um bate-e-volta para conhecer também as outras obras de Gaudí na Catalunha.
Em poucas horas é possível conhecer a cripta da Colônia Guell e a Vinícola Güell.
Outros nomes do Modernismo Catalão
Outro arquiteto fundamental para quem está em Barcelona é Lluís Domènech, o responsável pelo Palácio da Música Catalã (Palau de la Musica Catalana) e pela renovação do Hospital Sant Creu i Pau, ambos também listados como Patrimônio Histórico da Humanidade.
Gaudí e Domènech brilharam tanto que acabaram ofuscando alguns de seus contemporâneos que também foram arquitetos geniais.
A gente vai falar um pouco deles também.
Lluís Domènech i Montaner
O Palácio da Música Catalã (Palau de la Musica Catalana) é simplesmente imperdível.
Conhecer sua fachada é fácil, já que ele fica no Centro Histórico, pertinho do Bairro Gótico.

Eu tive a oportunidade de assistir um espetáculo de flamenco lá. Recomendo muito.
A sala de espetáculos é tão linda que a gente fica em dúvida se olha para o palco ou para o teto.

Se você quiser tentar assistir a um espetáculo lá, a programação está aqui.
Domènech foi uma pessoa interessante, que, além de arquiteto, foi professor, diretor da Escola de Arquitetura e político (chegou a morar uns anos em Madri, como membro do parlamento espanhol).
Já o Hospital de la Santa Creu i Sant Pau fica um pouco mais afastado, e eu acabei perdendo.
Mas ainda volto à Barcelona para conhecê-lo, olha que lindo ele é:
O hospital, que foi fundado em 1401 com o nome Hospital Sant Creu, é parte da história de Barcelona.
Ele já ocupou diversos prédios, até chegar ao atual, financiado pelo legado do banqueiro Pau Gil.
Sant Pau foi adicionado ao nome do hospital em homenagem ao generoso benfeitor.
Domènech foi o responsável pela reforma, que contou com a participação de vários outros arquitetos modernistas.
Também é de Domènech a Casa Lléo-Morera, que fica no Passeio de Gracia, pertinho da Casa Batlló.
Esse vídeo mostra os detalhes dessa casa.
Adorei as quatro estátuas na sacada representando as inovações da época: a eletricidade, o telefone, o gramofone e a fotografia.
Sem falar nos trabalhos em cerâmica, vidro e madeira, tão típicos do Modernismo Catalão.
Já pensou morar lá? Como você se sentiria vivendo dentro de uma obra de arte?
Outros destaques do Modernismo Catalão
Além das casas Batlló e Lléo-Morera, fica nessa mesma quadra do Passeio de Gracia a Casa Amatller, construída por Josep Puig i Cadafalch, outro grande arquiteto modernista de Barcelona.

Por esse motivo, a quadra ficou conhecida como “Quadra da Discórdia”.
Você pode ver nessa foto, da esquerda para a direita: na esquina, Casa Lléo-Morera.
Terceira, com telhado em forma de degraus, é a Amatller. À sua direita, Casa Batlló.

Fonte: ChristianSchd, Xavier Badia Castellà, Amadalvarez, Balou46, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons.
Além de vários projetos residenciais, Puig foi também responsável por grandes obras públicas, como a construção da Via Laietana, uma das principais da cidade.
O desafio nesse caso era preservar ao máximo os prédios históricos, já que a avenida corta a área histórica da cidade, aquela parte que ficava dentro dos muros.

Há muitos outros prédios modernistas no Passeio de Gracia.
Para não perder nenhum, confira essa lista de prédios e endereços publicada no site ArtNoveauWorld.
Para conhecer ainda outros nessa área, você pode seguir essa rota do post La Barcelona Modernista, que inclui a belíssima Casa Comalat.
Ela é uma obra de Salvador Valeri i Pupurull, um dos discípulos de Gaudi. Confira algumas fotos dela aqui.
Infelizmente o modernismo catalão não durou muito.
Primeiro porque a burguesia logo passou a valorizar outras formas arquitetônicas mais clássicas.
Depois, porque a questão política da Espanha cerceou o movimento nacionalista catalão, que tinha sido uma das forças propulsoras daquele estilo tão próprio de Art Noveau.
Esses prédios foram praticamente ignorados até 1979, quando foi criado o Catálogo de Patrimônio Histórico-Artístico da cidade de Barcelona.
Entre os edifícios catalogados estavam vários prédios modernistas, que passaram a ser restaurados e abertos ao público a partir dessa data. Esse post fala um pouco sobre isso.
A cidade de Barcelona continua revisitando a lei original para aumentar a proteção a seu patrimônio histórico, como você pode ver nesse artigo do jornal El País.
Bom para nós, que agora temos a chance de apreciar o modernismo catalão, essa forma de arte tão primitiva e delicada ao mesmo tempo.
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