Mallorca tem praias lindas, e Capdepera é um grande exemplo disso: lá ficam Cala Agulla, Cala Mezquida e Cala Gat, três das minhas favoritas.

Mas Mallorca tem bem mais do que isso. Tem uma história rica e cidades interioranas charmosas, que valem um passeio entre um mergulho e outro.

Hospedar-se nessa região, especialmente se você estiver de carro, é garantia de ter um pouco de tudo.

Combinando Capdepera com Pollença, Alcúdia e Artá, você vai ter acesso a praia, cultura, ruínas romanas, cidades medievais muradas, feiras tradicionais e lindas paisagens.

É disso tudo que vamos falar nesse post.

Se você prefere estar em uma praia mais ampla e com boa estrutura para caminhadas, corridas e passeios de bicicleta, talvez prefira hospedar-se em Cala Millor, como eu. Você pode saber mais sobre essa área lendo meu post Onde Ficar em Mallorca.

E se você está na dúvida entre qual das quatro Ilhas Baleares visitar (Ibiza, Formentera, Menorca e Mallorca), aqui você pode ler meu post que fala das diferenças e similaridades entre as quatro ilhas.

Pollença: uma boa base para quem gosta de atividades culturais

Essa cidade de 16 mil habitantes tem três centros urbanos: o principal, chamado de Pollença (do qual vamos falar daqui pra frente) e duas praias: Porto de Pollença e Cala Sant Vicenç.

Pollença é uma das cidades mais visitadas do interior de Mallorca. A cidade é super charmosa, cheia de prédios medievais e barrocos.

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Seu ponto turístico principal é a escadaria que leva até a Igreja do Calvário, um dos principais prédios barrocos da cidade, que fica no alto de uma colina.

São 365 degraus ladeados por ciprestes.

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De lá se tem uma vista panorâmica da cidade, incluindo o campanário da Igreja Maria dos Anjos e o Santuário Puig de Maria, no alto de uma colina de 355 metros de altura.

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Santuário Puig de Maria

O Santuário Puig de Maria (Santuari de la Mare de Déu des Puig), um dos principais prédios medievais da cidade, vale uma visita.

Dizem que, de lá, se tem as vistas mais deslumbrantes da ilha. De um lado, os picos da serra Tramuntana; de outro, as baías de Pollença e Alcúdia e a península de Formentor.

Eu não tive tempo. Não é muito fácil chegar lá.

As duas opções são uma caminhada morro acima de cerca de uma hora (leve água e fuja dos horários de pico do sol) ou ir de carro numa estrada à pique que leva até o estacionamento, de onde ainda é necessário fazer uma caminhada de 20 minutos em direção ao cume.

Se você for, pode aproveitar para provar comida maiorquina no único restaurante do local ou, ainda, passar a noite lá para ver o sol nascer no mar.

As acomodações são bastante simples e os horários do restaurante bastante limitados. Esse post do See Mallorca dá mais detalhes.

O outro prédio medieval importante da cidade é o Oratório de San Jordi, construído no século XVI. Inicialmente construído nos arredores de Pollença, hoje ele fica praticamente no centro da cidade.

Pollença também tem uma rica vida cultural: a principal igreja da cidade foi transformada em centro de eventos, onde acontecem exposições e concertos; e, nos domingos, as ruas da cidade são tomadas por uma das feiras mais tradicionais da ilha.

A feira de domingo

Eu fui a Pollença no domingo, dia de feira, e o centro da cidade estava lotado. Tive que deixar o carro num estacionamento a 1km de distância.

A feira acontece na praça principal, na frente da Igreja Maria dos Anjos (Església de la Mare de Déu dels Àngels).

O prédio atual tem estilo barroco (construído entre 1714 e 1790), mas, em seu lugar, já havia uma igreja desde o ano 1236.

Ela foi o centro a partir do qual Pollença cresceria, tornando-se uma das principais cidades da ilha no século XIII.

O único traço do prédio original é a base da torre da igreja, do ano 1470. A torre só atingiria sua altura atual bem mais tarde, em 1921.

Voltemos à feira de domingo, que atrai gente de todas as regiões da ilha.

O grande atrativo é comida, com destaque para produtos artesanais como mel, queijo, salames e pães, e frutas, em especial azeitonas.

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Mas, aproveitando o turismo, a feira estende-se por ruas e ruas. Vende-se de tudo, de roupas a artigos de decoração. E parece que brotam restaurantes de cada casa da cidade.

Um pouco afastado do centro histórico, no caminho entre ele e os estacionamentos, fica a parte mais nova da cidade. E o mais interessante para quem quer conhecer o lado cultural do local.

Arte no Claustro de São Domingo e na Igreja Maria do Rosário

O Festival de Pollença, que acontece desde 1962, é um evento de música que leva artistas de classe mundial para performances no Claustro de São Domingo.

Em 2018, apresentaram-se lá a Orquestra Barroca de Sevilha e a Orquestra e Coral Barroco de Amsterdam.

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No site do festival, onde eles listam os famosos que já se apresentaram, eles citam o pianista brasileiro Nelson Freire, reconhecido mundialmente como um dos pianistas mais famosos de sua geração. Fui conhecê-lo melhor, se você quiser fazer o mesmo acesse esse link para o Spotify.

O claustro fica ao lado da Igreja Maria do Rosário (Església de la Mare de Déu del Roser), que foi transformada em um local para exposições e instalações de arte contemporânea.

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Eu adorei o que encontrei lá. Estava em exibição a mostra “It’s time to open the black boxes“, um projeto da artista Danae Stratou, que iniciou em Atenas, na Grécia, em 2012.

É um projeto interativo, que depois de Atenas passou por Krems, na Áustria (2016), Paris, na França (2017) e, naquela momento, estava em Pollença, na Espanha (2018).

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Funciona em duas fases: primeiro a população da cidade ou país é convidade para contribuir para o projeto, submetendo uma palavra que se encaixe numa dessas duas categorias: palavra que melhor expresse seus medos ou o que lhe ameaça; palavra que representa o que precisa ser protegido.

A artista então seleciona as 91 mais representativas, que serão apresentadas na instalação e aparecerão nas 91 caixas pretas.

Assim, quando as caixas são abertas em cada cidade, elas revelam as preocupações, os medos e a esperança da população daquele local, ao mesmo tempo em que possibilitam a identificação com os temores e esperanças de outras localidades.

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A parte visual é acompanhada pela parte sonora: aparece uma palavra na caixa, mas ela desaparece alguns segundos depois, sendo substituída por um contador.

Os números aumentam ou diminuem, dependendo se a palavra é um medo ou algo a ser protegido.

A contagem em cada caixa é acompanhada de um som similar ao de uma bomba-relógio e ao final da contagem, a caixa emite um som, que será uma explosão ou uma linha contínua, dependendo do tipo de palavra.

A ideia da artista é conectar a arte à vida cotidiana das pessoas, mostrando como elas percebem as ameaças à sua volta e como reagem a elas.

Além de eu ter achado a ideia super interessante, o fato da instalação estar montada numa igreja em um lugar tão religioso como a Espanha me faz ver ainda mais claramente a conexão da arte com a vida cotidiana da população.

Achei lindo!

Gostei muito de Pollença. É uma cidade a qual eu voltaria, com certeza.

sdrPara saber mais sobre ela, incluindo informações sobre as praias, recomendo a leitura desse site (em vários idiomas, incluindo espanhol e inglês).

Alcúdia: resorts a preços acessíveis ao lado da cidade romana mais antiga da ilha

A menos de 15 km de Pollença fica a cidade mais antiga da ilha, Alcúdia.

Ruínas Romanas

É que foi naquela região que os romanos fundaram sua primeira e mais importante cidade em Mallorca, chamada Pollèntia (o nome é parecido com o da cidade anterior, mas são duas coisas bem diferentes).

Os romanos ocuparam a região no século II A.C. para acabar com a pirataria, que estava atrapalhando o comércio marítimo entre suas províncias na Itália, Espanha e continente africano (acredita-se que a população nativa ajudava os piratas).

Foi assim que Mallorca e Menorca passaram a fazer parte do Império Romano.

As ruínas de Pollèntia são um conjunto arquitetônico bem preservado que inclui uma área residencial, uma área comercial, o fóro (centro da vida pública), um teatro e uma necrópole.

A área residencial é bem interessante, pois é possível ver com clareza as ruas e algumas casas estão bem preservadas.

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O teatro, ainda mais bem preservado, tinha capacidade para 1000 espectatores.

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As ruínas romanas ficam do lado do centro histórico de Alcúdia.

A cidade medieval

O centro histórico de Alcúdia é cercado por muros que começaram a ser construídos no século XIII.

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Os muros da parte norte ainda são os originais da época medieval, mas a maior parte dele é uma reconstrução feita no século XVIII.

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No interior dos muros, uma cidade simpática, com muitas mansões centenárias.

As mais famosas são Ca’n Canta, Ca’n Fondo, Ca’n Domènech e Ca’n Torró.

É fácil e agradável perder-se pelas ruazinhas tortas e estreitas (embora a maioria delas estivesse super lotada quando cheguei lá, em uma tarde de domingo).

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Praias de Alcúdia: resorts a preços acessíveis

Assim como Pollença, Alcúdia também tem praias.

Algumas ficam voltadas para a Baía de Alcúdia, outras para a Baía de Pollença.

Fica mais fácil entender olhando o mapa abaixo, que mostra, em cinza, o município de Alcúdia.

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                       Fonte: Guia de hospedagem da prefeitura de Alcúdia

Essa região foi altamente exploradas a partir da década de 1960. Alcúdia é o segundo destino mais popular de Mallorca, logo atrás de Palma.

Alcúdia é sinônimo de turismo para famílias, tendo muitos resorts a preços razoáveis, como o BelleVue Club. A principal diferença entre essa região e a de Palma é que esta última oferece mais opções para quem gosta de festa e vida noturna.

Uma última informação: quem se hospeda nessa região tem acesso facilitado à ilha de Menorca, já que há barcos entre uma ilha e outra saindo do Porto de Alcúdia.

O trajeto de Porto d’Alcudia até Ciutadela (oeste de Menorca) é mais rápido (1h15) e mais caro (cerca de 130 euros para ida e volta), com a empresa Balearia.

Já o trajeto de Porto d’Alcudia até Mahon (leste de Menorca) é mais longo (3h) mas bem mais barato (ida e volta por cerca de 60 euros), feito pela empresa Transmediterránea.

Artá: vestígios pré-históricos

Eu fui até lá para conhecer o passado remoto da ilha, no sítio arqueológico de Ses Païsses.

Ses Païsses

Trata-se de um povoado construído no primeiro milênio A.C. ao redor de um talayot, que é uma construção em forma de torre que pode atingir até 9 metros de altura.

Esse tipo de construção foi tão comum nas ilhas de Mallorca e Menorca nessa época que os historiadores chamam esse período da história de período talayótico.

Acredita-se que os talayots fossem torres de observação e/ou monumentos funerários, ou, ainda, símbolos ligados a rituais comunitários.

Infelizmente, quando cheguei no povoado, o horário de visitas já tinha encerrado. No inverno, só abre de segunda a sábado, das 10h às 14h. E, no verão, estende-se até às 17h (segunda a sexta).

O centro de Artá está há apenas 1km dali.

O centro histórico

A cidade não tem muitos atrativos e, por isso, investe na hospitalidade.

Há muitas opções de restaurantes e hotéis interessante.

O principal ponto turístico são as muralhas muçulmanas, construídas entre os séculos X e XIII.

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Dentro da muralha havia uma mesquita, que foi substituída por uma igreja logo depois da reconquista da ilha pelos cristãos. Era o Santuario de San Salvador.

O prédio original foi queimado no século XIX, pois o local havia sido utilizado como hospital para tratar as vítimas da peste bubônica no surto de 1820.

A igreja que vemos hoje foi construída alguns ano depois.

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O caminho para chegar lá é uma escadaria cercada por ciprestes, que começa na igreja paroquial da cidade (Transfiguració del Senyor, século XVI).

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Mas o que mais me chamou atenção em Artá foi a quantidade de restaurantes nas ruas do centro histórico.

Foi a maneira que a cidade encontrou para aproveitar o crescimento do turismo na ilha. São opções para todos os gostos, de comida mallorquina a restaurante francês, passando por culinária sueca e, até, comida chinesa.

sdrTambém há muitas opções de hospedagem, o que faz de Artá um lugar interessante para quem não faz questão de acordar pertinho do mar.

Arta tem muitas praias, mas elas são pouco visitadas porque, na maioria delas, só se chega a pé.

A mais conhecida é Cala Matzoc, a 11 km do centro.

Capdepera: praias, cavernas, castelo e história

Capdepera tem cinco núcleos urbanos, um no interior (a cidade histórica) e quatro no litoral, que se estende por 30 quilômetros.

Vamos começar nosso passeio pela cidade histórica, onde fica o Castelo de Capdepera e de onde se tem uma vista linda para o mar.

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A parte mais antiga do castelo, a torre de Miquel Nunes, foi construída pelos muçulmanos.

Os cristão ocuparam Mallorca no século XIII. E, quando resolveram ocupar Menorca, em 1231, seu plano foi partir dessa região.

Por vários dias, eles dispararam fogos em direção à ilha menor. Assim foi até que os muçulmanos se rendessem e assinassem um tratado de paz, aceitando o governo cristão.

O tratado foi assinado na torre Miquel Nunes, em 1231, e encontra-se hoje na Biblioteca Nacional da França.

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Detalhes dessa história estão disponíveis no site do castelo Capdepera.

Algumas décadas depois, já com as 4 ilhas Baleares controladas, o rei James II decidiu construir, ao redor da torre, uma fortaleza.

Seu desejo é que a população se mudasse para dentro das muralhas e ajudasse a proteger o castelo.

Para atraí-los, o rei mandou construir uma cisterna e uma igreja (ao lado da torre muçulmana).

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A população não gostou muito da ideia de abandonar suas terras para viver dentro das muralhas, e apenas 50 casas foram construídas.

Mais tarde, quando a ilha passou a ser atacada por piratas, o vilarejo aumentou, chegando a 150 casas.

A população só deixaria de viver dentro das muralhas partir do século XVII. 

Tempos mais pacíficos permitiam viver fora dos muros, onde havia espaço para a construção de casas maiores e mais confortáveis.

Assim desenvolveu-se a atual Capdepera.

Uma cidadezinha simpática e despretensiosa, ainda não invadida pelos turistas.

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O castelo foi transformado em quartel no século XVIII e abandonado em 1854. Tornou-se propriedade privada até 1983, quando foi doado para prefeitura.

Adorei visitar o castelo!

A Torre de Miquel Nunis, a muralha (finalizada em 1386), uma cisterna e a Igreja Nostra Senyora de l’Esperança (também do século XIV) são as 4 construções mais antigas do conjunto.

Também há várias outras construções, como torres de vigilância e prédios do tempo em que o castelo foi quartel. Um deles foi transformado em museu.

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O pôr-do-sol lá de cima é deslumbrante.

davDos muros do castelo, a gente avista as praias, que se estendem de Cala Mesquida até Cala Rotja.

As praias de Capdepera

Os quatro núcleos urbanos no litoral são Cala Rajada, Cala Mesquida, Font de Sa Cala e Canyamel.

Mapa Praias Mallorca Capdepera

Se você gosta de fazer trilha, dá para fazer o trajeto entre todas elas a pé.

Cala Mesquida, mais ao norte, é deslumbrante.

Cala Mesquida - Capdepera - Mallorca

A praia tem boa estrutura, com um bar relativamente grande. Também é fácil chegar à cidadezinha, subindo por uma escadaria.

Na praia mesmo começa uma trilha de 4 quilômetros até Cala Agulla.

Essa praia é mais ampla e também é cercada por natureza.

Em Cala Agulla começa uma trilha em direção a Son Moll, que passa pelo farol de Capdepera, pela Cala Gat e pela Cala Rajada.

Essa é mais longa, são 6 km com muitos altos e baixos. Eu não fiz. Fomos de carro direto a duas paradas: farol e Cala Gat.

O farol marca o ponto mais estreito entre Mallorca e Menorca (outro farol, o de Artrutx, marca o outro lado do estreito, em Menorca).

Cala Gat é uma praia escondidinha no meio de uma área residencial.

Foi minha favorita. Apesar de bem pequenininha, tem um bar.

E mergulhar nela é uma delícia. Um simples snorkel é suficiente para nadar entre peixes e plantas marinhas.

Além disso, dá pra ir facilmente caminhando até Cala Rajada, por uma trilha calçada que costeia o mar.

Passando o centrinho, você chega em San Moll.

De lá, pode ir adiante pela trilha que vai de Son Moll a Sa Font de Sa Cala.

É a mais difícil das três, pois, apesar de ter apenas 4,5 quilômetros, ela tem um trecho que costeia o mar por entre pedras (é possível desviar esse trecho caminhando pela estrada).

Para conhecer o visual de todos esses lugares, assista esse vídeo de 5 min.

Para conhecer os detalhes das trilhas que mencionei – e várias outras nessa região – confira o site First Sun Mallorca.

Capdepera tem ainda outra atração para quem gosta de natureza: as cavernas de Arta. As visitas são feitas com guia e duram cerca de 40 minutos.