Lisboa e o Algarve são tão famosos, que acabam nos distraindo do que existe no caminho: as belíssimas Serra da Arrábida e Costa Vicentina.

Nós resolvemos dedicar dois dias para conhecer a região.

No primeiro fizemos o trecho Lisboa – Setúbal (conhecendo a Arrábida) e, no segundo, o trecho Setúbal – Sagres (conhecendo a Costa Vicentina).

Farol de São Vicente, a 7 km de Sagres

Esse é um roteiro que precisa ser feito de carro, pois o transporte público é bastante limitado e não chega a muitos dos lugares de que vamos falar aqui.

A gente fez em dois dias, mas, com certeza, esse trecho renderia uma ou duas semanas.

Nossa viagem começou na ponte 25 de Abril, a mais fotografada de Lisboa, que liga a capital à península de Setúbal.

Parque da Arrábida: praias deslumbrantes a uma hora de Lisboa

Parte significativa da Península de Setúbal é ocupada pelo Parque Natural da Arrábida, um pequeno paraíso a apenas 40 km da capital.

Nele você vai encontrar castelos históricos, praias lindas e vistas deslumbrantes.

Saímos de Lisboa no meio da manhã e, nas poucas horas que tínhamos disponíveis, conseguimos visitar Sesimbra (castelo e praia) e Portinho da Arrábida.

Sesimbra

Essa pequena vila piscatória lota no verão.

Ela é super agradável e um bom ponto de hospedagem para quem quer passar uns dias pela Arrábida.

No centro são duas praias: do Ouro e da Califórnia.

Além delas, há outras 5 praias na cidade. O site da prefeitura é super organizado, você pode ver foto de todas elas aqui.

Pertinho do centro tem um castelo. Vale muito a pena visitá-lo, a vista lá de cima é linda.

Quando estivemos lá, havia dentro do castelo uma exposição bem interessante sobre a evolução arquitetônica desse tipo de prédio em Portugal, do tempo dos árabes (séc XVIII a XII) até o século XVII.

É também perto de Sesimbra, há 16 quilômetros do centro, que fica o Cabo Espichel, extremo oeste da península.

Lá você encontra o Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel, formado por uma igreja, uma ermida, um aqueduto e alguns outros prédios.

E ali perto fica a Baía dos Lagosteiros, onde foram encontradas pegadas de dinossauros.

Se você quiser saber mais sobre isso, sugiro esse post.

Portinho da Arrábida

Essa é uma daquelas prainhas que vive entrando em lista de praias mais bonitas do mundo.

É complicadinho chegar nela. O caminho é uma estrada estreita, com sinaleira (porque cabe um carro só).

Você também pode passar um pouco de trabalho para estacionar, considere parar na estrada ainda, quando começar a ver carros estacionados, e ir a pé.

Pra quem tem mais tempo

Tem muito mais o que fazer na Arrábida.

Olha quantas opções de esporte de aventura a agência Vertente Natural oferece na região: de mergulho a canoagem, passando por rapel e observação de golfinhos.

A região também é muito procurada por quem gosta de observação de pássaros.

O site Setubal em Bom Ambiente tem bastante conteúdo sobre a fauna e a flora do parque.

Se você está pensando em passar mais tempo por lá, recomendo a leitura desse post do blog VagaMundos.

Ele tem um roteiro de três dias na serra, incluindo as trilhas que você precisa seguir para chegar nas prainhas mais escondidas e nos locais onde a vista é mais espetacultar.

Setúbal

Chegamos em Setúbal no final da tarde. Nos hospedamos no Hotel Rio Art, que recomendo.

Fomos recebidos com esse divina cortesia da casa: os típicos vinho moscatel de Setúbal e torta de Azeitão.

São uma delícia… juntos, então, nem se fala!

Depois saímos a caminhar pela simpática avenida Luisa Todi, onde encontramos várias opções de restaurante.

Se você tiver algumas horas para passear em Setúbal, entre no Mercado Livramento, caminhe até o Miradouro de São Sebastião e visite o Forte de São Filipe.

O mercado, que fica em um prédio Art Déco de 1930, é considerado um dos melhores mercados de peixe do mundo.

No Forte de São Filipe há uma capela barroca revestida de azulejos formando cenas da vida do santo.

E uma curiosidade sobre a cidade: foi lá que nasceu o poeta Bocage, um dos mais importantes escritores portugueses.

Ele ficou conhecido por suas sátiras e pelo erotismo de sua obra.

O dia de seu nascimento, 15 de setembro, é feriado em Setúbal.

Para saber mais sobre essa cidade simpática, leia o roteiro de dois dias do Blog VagaMundos.

Ruínas Romanas de Troia

No dia seguinte, cedinho, continuamos nosso roteiro rumo ao Algarve, sempre pela costa.

Para sair de Setúbal, pegamos a balsa que vai para a península de Troia.

Se você nunca viu uma ruína romana, essa é uma excelente oportunidade.

As ruínas da romana Troia, construída no século I, estão super bem preservadas e sinalizadas.

O complexo foi habitado até o século VI. Ele inclui “fábricas” de salga de peixe, casas, termas, necrólopes e um mausoléu.

As primeiras escavações no local aconteceram no século XVIII.

Hoje, além da visita in loco, você pode também visitar um pequeno museu com peças das escavações a apenas 5 quilômetros das ruínas.

Ali pertinho nós ainda paramos em Carrasqueira, a 20 quilômetros de Troia, para ver as tradicionais casas de colmo (tipo de caule).

Costa Vicentina

Ainda no distrito de Setúbal, você já vai estar entrando no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

A gente fez o trajeto Setúbal – Sagres via Costa Vicentina (quase 300 km) em um dia, então só paramos em Porto Covo, Vila Nova de Milfontes, Aljezur e Sagres.

Mas, no final, vou te indicar um post que fala sobre várias outras paradas ao longo desse caminho.

Porto Covo

Entramos nessa aldeia por indicação de um amigo português. Ela é lindinha demais!

Sua população é de cerca de mil habitantes, mas ela aumenta bastante no verão.

As praias são encantadoras.

Nesse post do blog Discover Portugal 2 Day você pode ver todas elas.

O mar aberto é perigoso, mas há enseadas como essa onde é seguro aventurar-se.

Se você for até lá, saiba que existe uma música portuguesa famosa sobre o local.

Ela chama-se Porto Covo e seu autor é Rui Veloso. Você pode ouvir no YouTube.

Porto Covo é uma das muitas praias de Sines, cidade onde nasceu o navegador Vasco da Gama.

Por isso, existe lá um pequeno museu multimídia dedicado a ele.

Vila Nova de Milfontes

Dezessete quilômetros ao sul fica Vila Nova de Milfontes, que é bem maior e tem mais opções de hoteis e restaurantes.

Ela é a praia mais famosa do município de Odemira e está situada na foz do rio Mira.

Lá tem praias de mar e rio, que agradam de crianças a surfistas.

Vila Nova de Milfontes tem dois apelidos, do qual o mais divertido é “terra das três mentiras”: não é vila, não é nova e não tem mil fontes. O outro é “princesa do Alentejo”.

É também um ótimo ponto de parada fora do verão, porque toda a estrutura continua funcionando normalmente e há bem menos turistas.

Milfontes tem também um castelo, o Forte de São Clemente, construído há mais de 400 anos.

Para mais detalhes sobre essa cidade, que é uma ótima base para explorar a região, confira esse post do blog VagaMundos.

E para conhecer todas as praias de Odemira, incluindo as populares Zambujera do Mar, espie mais um post do Discover Portugal 2 Day.

Aljezur

Fomos até lá para ver as ruínas do castelo muçulmano construído no século X.

Confesso que depois de visitar o castelo de Sesimbra no dia anterior, esse foi meio decepcionante: só o que sobrou foi a muralha circular no topo do morro.

Mas a vista lá de cima… É linda, a gente vê as casinhas brancas da antiga cidade árabe lá embaixo.

A apenas 7 km do castelo ficam as praias de Monte Clérigo e Amoreira.

Ainda no Concelho de Aljezur você pode visitar a pequena vila de Carrapateira (menos de 200 habitantes), perto da qual ficam as praias do Amado e da Bordeira.

A praia do Amado é super popular entre os surfistas.

Muitos europeus, especialmente alemães, vão até lá de motor home.

Você vai ver vários desses veículos no estacionamento perto da praia.

Da praia do Amado você pode caminhar até a praia da Bordeira por uma passarela de madeira.

Se você gosta de longas caminhadas, aproveite: esse trecho é parte de uma trilha circular chamada Pontal da Carrapateira, que tem um total de 11 km.

Esse post do blog Viajar entre Viagens explica o trajeto.

A Bordeira é ainda mais extensa que a praia do Amado. São 3 quilômetros de areias brancas entre penhascos.

Apaixone-se por essas duas praias lendo os posts do blog Alvarve Tips sobre Praia do Amado e Praia da Bordeira.

Sagres

Nosso destino era Sagres, no extremo sul da costa, terra de uma lendária Escola de Navegação que teria estado na origem das grandes navegações.

Se você já leu o post sobre a história de Portugal, sabe que o grande incentivador das aventuras marítimas foi o infante Dom Henrique (1394 – 1460).

Foi ele quem construiu a fortaleza de Sagres, a partir de 1443.

Mas ela nunca foi uma escola. Ela foi a casa do infante.

Ele fundou uma “escola”, sim, mas ela ficava a 30 quilômetros dali, na vila de Lagos. Mas vamos começar do começo.

O infante Dom Henrique era o terceiro filho dos reis Dom João I e Dona Filipa.

Em 1415, no contexto das cruzadas e da guerra santa, ele liderou uma expedição que resultou na conquista de Ceuta, no norte da África.

Dom Henrique passou a ser o governador de Ceuta.

Por sua posição geográfica, Lagos era uma excelente base para dar proteção à cidade africana.

Mas havia mais: em Lagos já existia uma vila de pescadores acostumados à navegação em alto mar.

E Dom Henrique queria ir mais longe.

Até aquele tempo, toda a navegação europeia era de cabotagem, ou seja, sempre mantendo terra à vista.

E os europeus nunca tinha ultrapassado o Cabo Bojador, ao sul do Marrocos.

Esse passou a ser o objetivo do infante a partir de 1420.

Ele começou a atrair para Lagos os melhores geógrafos, cartógrafos, astrônomos e carpinteiros de sua época, que, juntos, passaram a desenvolver novas técnicas e instrumentos, a criar cartas náuticas e a aperfeiçoar os barcos.

Para cruzar o Bojador, era preciso afastar-se da costa. Orientação em alto-mar passava a ter papel fundamental nas viagens.

Fazer isso apenas com a ajuda das estrelas foi uma das principais áreas de estudo em Lagos.

Foi lá também que o protótipo da caravela, que havia sido criado nos Países Baixos, foi testado e desenvolvido.

Mas não era a falta de tecnologia o maior desafio.

A partir de 1422, todos os anos, Dom Henrique mandava um navio partir de Lagos com o objetivo de dobrar o Bojador.

O maior desafio era o medo dos navegadores: eles achavam que o Bojador era o fim do mundo, que suas águas ferviam e que monstros marinhos terríveis esperavam por eles do outro lado.

Foram 12 anos até que Gil Eanes conseguisse a proeza. Logo os portugueses chegariam ao Oceano Índico. A história do mundo mudaria a partir de então.

Alguns anos depois de Eanes dobrar o Bojador, aconteceu o fato que provavelmente levou à construção da fortaleza de Sagres.

Dom Henrique decidiu conquistar Tanger, nas proximidades de Ceuta.

Mas a campanha militar foi um fracasso. No fim, ele teve que deixar seu irmão Dom Fernando como garantia de que Ceuta seria entregue aos árabes.

Mas ele não entregou Ceuta, e seu irmão morreria no cativeiro seis anos depois.

Pouco depois da notícia da morte chegar à Portugal, Dom Henrique, por solicitação própria, recebeu da coroa a doação das terras no extremo ocidental do Algarve.

Ele escolheu o Cabo de Sagres, que, na época, era considerado “o fim do mundo”, para construir sua casa.

Além do palácio onde ele vivia, havia também casas para sua corte e empregados e uma igreja, tudo cercado por uma fortaleza.

Foi lá que ele passou a maior parte dos seus últimos anos de vida.

E foi lá que ele morreu, aos 66 anos, cercado apenas por alguns cavaleiros da Ordem de Cristo.

Mas, então, como surgiu o mito da Escola de Sagres, reforçado até hoje por uma placa no local?

Difícil saber, mas encontrei duas informações interessantes sobre o assunto.

Esse post do blog Para Entender a História diz que ele surgiu no século XIX, em meio ao movimento romântico, que promovia os nacionalismos e o resgate de heróis medievais.

Em outros lugares, li que ele havia surgido ainda antes, no século XVII, a partir de histórias do nobre, escritor e metido a historiador Dom Francisco Manual de Melo, que também era membro da Ordem de Cristo.

Foi apenas a partir da década de 1950 que historiadores começaram a questionar a existência da lendária escola.

O que ver em Sagres

Sagres é uma das 4 freguesias do concelho Vila do Bispo. A população da vila é menos de dois mil habitantes.

Farol do Cabo de São Vicente

Essa foi nossa primeira parada, pois queríamos ver o pôr-do-sol de lá.

Esse é um daqueles lugares que as pessoas dizem que tem o pôr-do-sol mais lindo do mundo.

A gente foi conferir, e é bonito mesmo.

O nome do farol deve-se ao fato de que naquela área teria sido enterrado São Vicente, o que fez com que o local passasse a ser considerado sagrado.

Fala-se que muitos peregrinos já iam até lá no século IV.

O corpo foi removido para Lisboa no século XIII. Mais ou menos por essa época, foi fundado um convento no local.

Em função de sua posição geográfica estratégica, no extremo da Europa, foi construída também uma fortaleza.

Infelizmente ela foi destruída no século XVI, em um ataque de piratas britânicos liderados por Francis Drake .

O prédio que existe lá hoje é uma reconstrução, feita em 1606.

O farol seria instalado apenas bem mais tarde, em 1904.

Vila de Dom Henrique (ou Fortaleza de Sagres)

No dia seguinte visitamos a Vila de Dom Henrique, mais conhecida como Promontório (cabo) ou Fortaleza de Sagres.

Os muros que cercam a vila são uma reconstrução do século XVIII, pois os originais foram destruídos no mesmo ataque pirata em que a Fortaleza do Cabo de São Vicente foi derrubada.

Dentro dos muros, algumas construções são do tempo de Dom Henrique, como a Casa do Governador, a “Correnteza” (conjunto de edifícios que, mais tarde, foi usado como quartel), uma cisterna e o antigo armazém e cavalariça (que hoje é um auditório).

O conjunto de canhões esparramados por toda a fortaleza também é original.

Também parece ser da época do infante a misteriosa “rosa dos ventos”, que estava sob o solo até 1921.

Uma das partes mais divertidas do passeio é sair caminhando pela trilha que vai até o miradouro do Cabo de Sagres.

Venta muuuuito, o que realmente dá a sensação de termos chegado ao “fim do mundo”.

Excelente para os surfistas, que adoram a região.

Se você quiser aproveitar a passagem por lá para aprender a surfar, vai gostar de conhecer o site da escola Free Ride.

Para ver fotos de todas as praias do “fim do mundo”, espie esse post do blog Discover Portugal 2 Day.

Se você quer saber mais sobre a vida de Dom Henrique, a fortaleza de Sagres e a Escola de Lagos, assista esse vídeo delicioso da RTP (em português, 39 min).

Acabamos nosso passeio pegando a estrada de novo.

Nosso destino agora era Lagos, aquele lugar onde o infante Dom Henrique juntou as pessoas certas para dar início às grandes navegações.

Lá ficam algumas das praias mais bonitas de Portugal.

No post Pra entender o Algarve (sul de Portugal) e escolher onde ficar eu conto tudo sobre essa região.

Se você quer saber mais a Costa Vicentina, confira as 37 dicas do blog Viajar entre Viagens.