A Alhambra é uma cidade medieval árabe deslumbrante que atraiu quase 3 milhões de visitantes em 2018.

Ela fica no alto da colina Sabika, na cidade de Granada, no sul da Espanha (Andaluzia).

Pertinho da Alhambra fica o Generalife, o palácio de verão dos reis muçulmanos que governaram o Reino de Granada por 250 anos.

Do outro lado do rio Darro, que corta a cidade, fica a colina de San Cristóbal.

Nela fica o bairro Albaicín, desenvolvido pelos muçulmanos entre os séculos XI e XVI. O traçado de ruas curvas ainda é o mesmo daquele tempo.

Depois que eles foram expulsos da cidade, a arquitetura da região foi se transformando e, hoje, é bastante peculiar.

Esse conjunto todo, que inclui a Alhambra, o Generalife e o Albaicín, é considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO.

E é sobre esses lugares que nós vamos falar nesse post.

Caso você queira saber mais sobre a história do país antes, leia meu post Pra Entender a Espanha.

Visitando a Alhambra

A Alhambra tem esse nome por sua cor: o termo árabe significa “o vermelho”. Era essa a cor dos seus muros no período muçulmano.

Comprar o ingresso pra visitar a Alhambra não foi fácil. Eu sabia que o melhor jeito de comprá-lo era online e com cerca de 8 semanas de antecedência.

Mas quando entrei no site oficial fiquei confusa com as opções.

Planejando o passeio

Pra simplificar, existem 3 áreas principais: os palácios Nazaries (a parte mais famosa), uma Alcazaba (fortaleza) e o Generalife (casa de verão dos sultões).

Entre elas, muitos jardins, alguns outros palácios (com destaque para o Partal e o palácio de Carlos V) e uma área residencial (hoje cheia de lojinhas).

Esse mapa mostra uma visão geral.

Fonte: Alhambra-Patronato

Na hora de comprar o ingresso você já precisa definir o horário da visita aos Palácios Nazaries.

Deixe essa área para o final! É o melhor da visita e o resto vai perder a graça se você começar por eles.

Reserve pelo menos 3 horas entre sua entrada na Alhambra e a visita aos palácios, para poder passear com tranquilidade.

Minha sugestão é começar pelo Generalife, depois ir para a Alcazaba (no outro extremo) e fazer hora circulando pelo palácio de Carlos V e arredores até seu horário de entrar nos Palácios Nazaries.

A visita aos palácios vai levar cerca de uma hora e terminar em outro palácio importante do complexo, o Partal.

Para visitar isso tudo, o ingresso certo é o “Alhambra General“.

Seja qual for sua escolha, se é a primeira vez na Alhambra, garanta que seu ingresso inclui os Palácios Nazaries.

Generalife, o palácio de verão dos sultões

Seguindo o roteiro que eu sugeri, vamos começar pelo Generalife.

Embora esteja a apenas 1 km dos Palácios Nazaries, essa era a casa de campo dos sultões, praticamente sua fazendinha.

O caminho para lá já é lindo. A gente passa por uma área ajardinada enorme, com vista para o resto da Alhambra e para a cidade de Granada.

Desde 1952, nessa área existe também um teatro à céu aberto, que é palco de shows de balé e dança durante o Festival de Granada.

O palácio do sultão fica logo adiante, cercado por vários outros jardins.

Alcazaba: a parte mais antiga da Alhambra

Depois de passear pelo Generalife, minha sugestão é que você siga para a Alcazaba.

No caminho você vai passar por um prédio renascentista que destoa completamente da arquitetura árabe.

Ele é o palácio de Carlos V, o melhor representante da arquitetura renascentista clássica da Espanha, estilo inspirado nas construções do Império Romano.

Carlos, que além de rei da Espanha, era imperador do Sacro-Império Romano Germânico, encomendou o palácio após visitar a Alhambra em sua lua-de-mel, em 1526.

A obra teve muitas pausas e só ficou pronta no século XX. O prédio abriga atualmente dois museus: o Museu da Alhambra e o Museu de Belas Artes.

Entrando na Alcazaba

Logo na frente está nosso destino, a Alcazaba. E logo você vai perceber que essa palavra é um termo utilizado para definir uma guarnição militar.

Alcazabas geralmente incluem também uma área residencial, e, algumas vezes, o palácio de um rei ou seu representante.

A alcazaba da Alhambra tem origem incerta, mas desconfia-se que alguma estrutura militar existisse nesse local desde o século IX.

Esse prédio tornou-se importante quando a dinastia Nazarí começou a governar a cidade e decidiu construir seus palácios naquela região (séculos XIII a XV).

Alcazaba Alhambra

Se você já visitou outras fortalezas na Espanha ou em Portugal, vai perceber a semelhança, com muros altos e muitas torres.

Mas essa vista espetacular para a Sierra Nevada, só a fortaleza da Alhambra tem.

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Palácios Nazaries

Depois de circular pela Alcazaba, finalmente chegamos à parte mais esperada do passeio.

Nessa visita com hora marcada a gente caminha por três palácios muçulmanos, mas que parecem um só, por terem sido construídos como extensões um do outro.

Cada um deles tem um pátio central, para o qual abrem-se várias salas.

A gente entra pelo Palácio Mexuar, o mais antigo. Ele começou a ser construído em 1314 pelo Sultão Ismail I.

O palácio ainda guarda bastante de sua estrutura original e, também, inclui uma área mais nova, construída também por Carlos V no século XVI.

Um dos destaques de todos os palácios é a decoração das paredes, portas e tetos.

No Mexuar, algumas paredes incluem trechos inteiros do Alcorão.

E olha que delícia de vista para a cidade:

Em seguida a gente chega a um pequeno pátio que liga o Mexuar ao palácio seguinte, o de Comares.

Em seguida a gente está no Quarto Dourado, onde é possível ver a transformação dos palácios ao longo do tempo: o teto tem o símbolo de armas dos Reis Católicos, que só chegaram quase dois sećulos depois.

Do Quarto Dourado já vemos o Patio de los Arrayanes (que significa murta, um tipo de planta), área central do Palácio de Comares.

O roteiro dos palácios segue pela Sala de La Barca, que lembra um corredor e é a antesala da Sala do Trono.

Olha que lindo o detalhe dessa parede!

Chegando na Sala do Trono, também chamada de Salão dos Embaixadores ou Salão de Comares, vemos uma característica importante da arquitetura moura: todas as janelas são entremeadas, filtrando a luz do exterior.

As paredes contém textos religiosos e, no chão, parte do piso de cerâmica ainda é o original.

Tanto o palácio Mexuar quanto o Palácio de Comares foram ampliados e embelezados pelo sultão Muhamad V (1362 – 1391), que também construiu o terceiro e último palácio, o dos Leões.

Sua área central, o Pátio dos Leões, que representa o paraíso, é considerado o coração da Alhambra.

Granada Alhambra

A fonte dos leões é cercada por cento e vinte e quatro colunas representando palmeiras. Canais de água no chão representando rios levam água até a fonte.

Os doze leões representam os signos do zodíaco. Eles são réplicas, mas os originais podem ser vistos no museu da Alhambra.

As salas ao redor desse pátio são lindas e delicadas.

No teto, muitas muqarnas, pequenas estalacmites que são um elemento típico da arquitetura árabe.

A vista para o Jardín de Lindarja a partir dessa janela linda é a despedida dos Palácios Nazaries.

A parte seguinte do passeio já é em um área aberta que abrange o palácio Partal e a área residencial da Alhambra.

El Partal

O que diferencia esse palácio dos outros de que falamos, é que o Partal, até pouco mais de cem anos atŕas, pertencia a uma família, diferentemente do resto da Alhambra.

Quando foi entregue ao governo, no final do século XIX, ele era basicamente uma casa.

A decoração original das paredes estava coberta, e o teto de madeira da torre havia sido retirado (hoje está em um museu de Berlim).

Foi a partir do século XX que esse palácio foi restaurado, seu jardim propriamente reconstruído e seu estilo alinhado ao dos outros palácios.

Do outro lado do Partal foram encontrados vestígios arqueológicos que indicam que, naquela área, antigamente ficava a área residencial da Alhambra.

Saindo da Alhambra

No fim dessa caminhada toda eu estava morrendo de fome!! Paramos por acaso no restaurante Jardines Alberto e pedimos um Frango ao Estilo Nazarí. Estava uma delícia.

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Voltamos a pé para a cidade, descendo pela Cuesta de Gomerez. É um caminho cercado por árvores que leva até à Puerta de Granadas, outra obra renascentista de Pedro Machuca, o arquiteto que criou o Palácio de Carlos V.

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Ali a gente já está na cidade. A cerca de 600 metros estão a Plaza Nueva e a Calle de Elvira, uma das mais conhecidas da cidade.

Albaicín, o bairro muçulmano

A terceira área da cidade considerada Patrimônio Histórico da Humanidade é um bairro que já existia em Granada pelo menos 300 anos antes da chegada dos Nazaries.

O surgimento do bairro na colina de San Cristóbal é nebuloso, mas sabe-se que os romanos andaram por lá e construíram uma primeira fortaleza na região.

Ela foi destruída quando os primeiros muçulmanos chegaram (711), mas foi reconstruída pouco depois.

E, no século XI, quando a região de Granada passou a ser um reino muçulmano independente (taifa), governado pela dinastia Ziri, a fortaleza foi ampliada.

A partir dessa época ela passou a ser chamada de Alcazaba Cadima.

Palácios foram construídos e, em seguida, começaram a surgir também casas na região.

As ruas vieram depois e, por isso, são tortas, ligando uma casa à outra. O bairro também é cheio de escadarias.

Não é fácil tentar andar em linha reta por lá!

Mas eu vou te dar algumas dicas para você poder se perder no Albaicín sem deixar de conhecer os pontos mais importantes do bairro.

Entendendo o Albaicín

Pra começar, vamos identificar o perímetro do bairro.

Comece olhando para o ponto 6 em verde nesse mapa. Está vendo logo acima dele uma rua chamada Cuesta de Alhacaba?

Fonte: Mesquita de Granada

Se você seguir sempre por ela, vai perceber que ela vai contornado o bairro ao mesmo tempo que vai mudando de nome. Vira Calle Panaderos, Cuesta de Chapiz, Paseo de los Trieste e Carrera del Darro.

Se você fizer toda a volta e chegar no ponto 3 em vermelho, vai estar na Plaza Nueva. Ali você vai ver a Calle Elvira, que te leva novamente até a Cuesta de Alcahaba.

Você não precisa fazer todo esse caminho, mas é importante entender que tudo aí no meio é a parte mais conhecida do bairro Albaicín.

Quanto mais perto do alto da colina você estiver, mais bonito vai ser o passeio. A dúvida é qual caminho escolher para chegar lá em cima e o que ver quando chegar lá.

Dá pra subir de ônibus, mas vale a pena ir a pé, o caminho já é passeio.

Opção 1: Cuesta de Alhacaba

Se você gosta de fortalezas, muralhas e arcos, comece pela Porta de Elvira, que existe desde o século XI, e suba pela Cuesta de Alhacaba.

De tempos em tempos você vai ver à direita o muro da Alcazaba Cadima, aquela fortaleza consturída pelos Ziris na mesma época. A parede norte ainda está de pé.

À sua direita via estar também a Calle Carril de la Lona. Entrando alguns metros nessa rua você vai ver a Porta Monaita, uma das mais antigas da cidade.

Opção 2: o mais popular entre os turistas

Se você prefere subir passeando pelas lojinhas de souvenir e casas de chá árabe, escolha a Calle Calderería Nueva (também chamada de Calle das Teterias).

Esse é provavelmente um dos caminhos mais turísticos. A gente foi seguindo o movimento de pedestres e foi suficifiente para não nos perdermos pelas curvas e escadarias.

Opção 3: pela beira do rio Darro

Se você prefere andar por uma das ruas mais antigas da cidade, cheia de ruínas romanas, muçulmanas e prédios renascentistas, siga pela beira do rio Darro, da Plaza Nueva em direção ao Paseo de los Tristes.

No número 31 da Carrera del Darro você pode dar uma paradinha em El Banuelo, uma das construções muçulmanas mais antigas (séc XI) e bem preservadas de Granada.

Ele é um banho público. Assim como os antigos romanos, os muçulmanos tinham o hábito de construir essas casas, que serviam também de local de encontro para discussões comerciais e políticas.

Logo você vai chegar na Cuesta de la Victoria, que é uma boa opção para começar a subida até o Albaicín. Dobre a esquerda quando ela acabar, na Calle San Juan de los Reyes.

Claro, que além de subir para o Albaicín por um desses três caminhos que estou sugerindo, você pode simplesmente pegar uma rua qualquer e ir subindo.

Só evite subir pela Cuesta del Chapiz – descer por lá é mais interessante, porque você vai ter uma boa vista da Alhambra quando estiver chegando perto do rio Darro.

O que ver no Albaicín

Vou começar falando da Plaza Larga, que é um bom ponto de referência para qualquer caminho que você tenha escolhido para a subida.

Depois a gente vai falar do mirador de San Nicolás e dos Carmens, um estilo de casa típico de Granada.

Plaza Larga

No tempo dos muçulmanos ela era apenas uma pequena praça ligando duas áreas diferentes do bairro.

Com a chegada dos cristãos, a praça foi ampliada e, ao seu redor, foram instalados vários pontos de comércio.

Hoje ela é uma das áreas mais movimentadas do Albaicín, com feiras ao ar livre vários dias por semana.

A praça fica ao lado da Porta de Pesagem (Puerta de las Pesas) uma das antigas entradas da cidade muçulmana.

Se você atravessar essa porta e pegar a direita, vai chegar no Palácio de Dar Al-Horra, também construído pelos muçulmanos e, mais tarde, transformado em convento.

Se, ao invés de ter ido para a Porta de Pesagem, você tiver ido pro outro lado, você estará indo em direção ao Mirador de San Cristóbal.

Lá é o lugar de onde se tem a melhor vista para a parede da Alcazaba Cadima (aquela que você veio acompanhando se subiu pela Cuesta de Alhacaba).

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Mirador de San Nicolás

Perto da Porta de Pesagem fica o mirador mais famoso de Granada. É de lá que se tem uma das melhores vistas para a Alhambra.

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O único problema é que não somos só nós que sabemos disso. O lugar costuma estar cheio de turistas e, se você se distrair muito, pode ser vítima de furto.

Se você quiser tentar a mesm vista de um lugar mais calmo, vá até o pátio da Mesquita Central de Granada, a poucos metros do mirador.

A vista do pátio é praticamente a mesma e, querendo, você também pode visitar a mesquita.

Inaugurada em 2003, ela foi a primeira a ser construída na cidade desde a expulsão dos muçulmanos, em 1492.

Outras opções interessantes para ver Granada do alto podem ser encontradas nesse post do blog Donde Vamos Eva.

Carmens

Um Carmem, que vem do termo árabe karm, no tempo dos muçulmanos costumava ser tipo um sítio: uma pequena casa, fora dos muros da cidade, com uma grande horta e jardim.

Quando os cristãos ocuparam a cidade, mais de 500 anos atrás, havia muitas dessas casas nas encostas da colina de San Cristóbal.

Elas logo foram ocupadas por novos donos, que, com o tempo, foram mudando seu estilo.

Já no século XVIII, ter um Carmem era um símbolo de riqueza. As casas tornaram-se maiores e passaram a ser ricamente decoradas.

Hoje, muitas deles são restaurantes, hotéis e casas de festa.

Alguns Carmens podem ser visitados. Os destaques no Albaicín são a Casa-Museo Max Mureau e a Casa del Chapiz.

Saindo do Albaicín pela Cuesta del Chapiz

Lembra que eu falei que era melhor guardar essa rua para a descida?

Na hora que cansar de passear pelo bairro, procure pela Iglesia del Salvador.

Fica pertinho do restaurante Jardines de Zoraya, que foi onde nossos amigos, que são de Granada, nos levaram para assistir a um show de flamenco e provar a comida típica da região.

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Nessa região começa a descida, que vai passar por essa estátua.

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Aí é a entrada de Sacromonte, o bairro cigano, onde muitas casas são construídas em grutas.

Foi nessa região que nasceu a zambra granadina, tipo de flamenco típico da cidade.

Um pouquinho mais adiante fica a Casa del Chapiz, o Carmen de que falei agora há pouco. Ele foi construído no século XIV e é hoje o Centro de Estudos Árabes.

Chegando nele você já começa a ver a Alhambra. Depois da curva, você já está na margem do rio Darro, em uma área ajardinada que é chamada de Paseo de los Tristes.

Esse é outro lugar excelente para ver a cidade murada no alto da colina Sabika, do outro lado do rio.

Para saber mais sobre Granada

Nesse post a gente falou sobre como ver o melhor de Granada num passeio pela Alhambra, Generalife e Albaicín, áreas da cidade consideradas Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO.

Há muito mais arquitetura árabe, renascentista e barroca para ser vista pela cidade. Eu vou contar mais sobre isso em um post sobre a história de Granada.

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