Como a grande parte dos turistas brasileiros que vai a Portugal, eu fui à Sintra e visitei o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros e a Quinta das Regaleras.

Dá pra fazer essas visitas em um dia, num bate-e-volta de Lisboa, que está a apenas 40 minutos de trem.

Embora esses lugares sejam lindos e mereçam ser visitados (a gente vai falar deles em seguida), há muito mais para ver no Parque Natural de Sintra-Cascais.

Por isso, se você puder, recomendo que você vá à Sintra de carro e reserve dois ou três dias para explorar a serra.

Estando de carro, você não precisa hospedar-se na cidade – ela é esparramada pela encosta de um morro e fica super lotada no verão.

Nesse mapa eu te mostro outros lugares que merecem uma visita. Hospendando-se em qualquer lugar nessa área você estará bem localizado.

O caminho do bonde: Colares, Praia das Maçãs, Azenhas do Mar e Praia Grande

O bondinho elétrico surgiu em 1904, para ligar Sintra à Praia das Maçãs (confira aqui a rota e os horários).

A viagem de 13 quilômetros é feita em 45 minutos e atravessa a Paisagem Cultural de Sintra, região da serra considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

No caminho, ele para em Colares, freguesia conhecida por sua produção de vinho.

Chegando na Praia das Maçãs, é super fácil ir até Azenhas do Mar e Praia Grande – as duas ficam a apenas 2 km e podem ser facilmente acessadas a pé (cerca de 30 minutos) ou de táxi.

Colares

A freguesia de Colares tem pouco menos de 8 mil habitantes. Seu principal atrativo é o vinho produzido na região, um dos mais peculiares do mundo.

As uvas do tipo ramisco e malvasia crescem em terreno arenoso, e o cultivo ainda é feito da mesma maneira em que era feito séculos atrás.

No final do século XIX, quando a praga filoxera praticamente destruiu os vinhedos europeus, as uvas de Colares resistiram, pois o inseto não conseguia sobreviver na areia.

A demanda pelos vinhos da região foi enorme.

E, nas décadas seguintes, quando outras regiões voltaram a produzir graças a enxertos de vinha norteamericana, imune à praga, o fato de Colares continuar produzindo das vinhas originais virou sinônimo de pureza e qualidade.

Infelizmente, o crescimento da exploração imobiliária na região prejudicou o cultivo da uva.

Hoje o vinho de Colares é produzido apenas pela cooperativa Adega Regional de Colares.

Também é possível encontrar vinhos D.O.C. Colares com a marca Adega Viúva Gomes, que coloca seu selo em vinhos produzidos pela cooperativa.

Para entender mais sobre a produção de vinho na região, leia esse artigo do blog Bom Gourmet.

Praia das Maças

No passado, havia pomares de macieiras ao longo do rio das maçãs (ou rio Colares). Quando elas amadureciam, caiam no rio e vinham parar nessa praia. Vem daí o nome.

Essa é uma das praias mais populares da região, em função da sua estrutura (restaurantes, duchas, estacionamento, serviço de aluguel de cadeiras e guardas-sóis) e da facilidade de acesso.

Para saber mais sobre essa prainha charmosa, leia esse post do blog Surf Iberia, escrito pelos donos de uma pousada local.

Azenhas do Mar

O nome dessa aldeia de 800 habitantes vem dos moinhos d’água que existiam no local, provavelmente desde o tempo da ocupação muçulmana (séculos VIII a XII).

Ela fica no alto de uma rocha, com uma vista deslumbrante para o mar.

No pé da rocha existe uma piscina oceânica, que é onde é possível tomar banho durante a maré alta.

Quando a maré baixa, forma-se uma praia entre a piscina e o mar.

O turismo na região cresceu a partir de 1930, quando a linha do bonde que parte de Sintra chegou até Azenhas. O trecho Praia das Maçãs – Azenhas do Mar foi desativado em 1955.

Hoje um dos principais atrativos do local, além da vista e suas casinhas brancas, é o Restaurante Azenhas do Mar.

Para saber mais sobre a história ca vila, leia esse post do Blog Sapo. E esse outro, do blog Cultuga, tem umas fotos bem bonitas.

Praia Grande

Do outro lado da Praia das Maçãs fica a Praia Grande, que faz parte do roteiro internacional de surf e, também, oferece boa estrutura turística.

Cabo da Roca e Praia da Ursa

O Cabo da Roca é o extremo ocidental da Europa Continental.

As vistas são bonitas e, por isso, uma passada pelo local está incluído em vários dos roteiros turísticos que vão a Sintra.

O blog Viaje por Dois fala sobre o local,que é mais fácil de ser acessado para quem está de carro.

Há outro motivo para ir até lá: para chegar até a Praia da Ursa, uma praia virgem e de difícil acesso, a melhor trilha começa ali.

Se você for inclui-la no roteiro, lembre-se de usar um calçado adequado para caminhadas e levar água, algo para comer, toalha… não vai ter nada de estrutura lá (e é esse o seu charme).

Pra te ajudar no trajeto, que é pouco sinalizado, confira a rota nesse post do blog VagaMundos.

Convento dos Capuchos e Trilhas pelo Parque Natural Sintra-Cascais

O prédio do convento, construído no século XVI, fica dentro na área definida como Paisagem Natural de Sintra pela UNESCO.

Inicialmente chamado de Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra, os monges do local seguiam a filosofia de pobreza e renúncia dos prazeres terrenos pregados pela Ordem de São Francisco.

Por 250 anos o convento foi um local de culto e peregrinação. Isso acabou em 1834, quando as ordens religiosas de Portugal foram extintas.

O prédio ficou abandonado até o ano 2013, quando, sob gestão da empresa pública Parques de Sintra, começou a ser restaurado.

Ele já pode ser visitado, saiba como no site do convento.

Chegar lá é um pouco complicado: táxi vai cobrar bem caro, apesar da pequena distância; e o caminho a pé, desde o centro de Sintra, é de 7 quilômetros.

Bem mais fácil para quem está de carro, que pode parar no estacionamento do convento, onde começam duas trilhas circulares pelo parque: a trilha da Peninha / Anta Adrenunes e a Trilha da Barragem do Rio de Mula / Pedra Amarela.

Ambas tem 13 quilômetros e são de dificuldade moderada. Você encontra todos os detalhes sobre as duas nesse post do blog Vagamundos.

Sintra

A história da vila de Sintra confunde-se com a história do Castelo dos Mouros e do Palácio Nacional de Sintra.

Origens da Vila de Sintra (séc. X – XIV)

Em um texto do geógrafo árabe Al-bacr, escrito no século X, já havia referências a essas duas construções.

Ele diz: “uma das vilas que dependem de Lisboa no Andaluz, nas proximidades do mar. Está permanentemente mergulhada numa bruma que se não dissipa. (…). Tem dois castelos que são de extrema solidez (…) é uma das regiões onde as maçãs são mais abundantes.”

Foi do Castelo (ou Fortaleza) dos Mouros que eu tirei essa foto do palácio de Sintra (vamos falar mais dos dois em seguida).

Quando os portugueses ocuparam a região (séc. XII), D. Afonso Henriques cedeu a região para trinta povoadores, além de fundar a primeira igreja de Sintra, São Pedro de Canaferrim.

Entre os muros do Castelo dos Mouros, cresceu uma cidade medieval. Ela foi abandonada no século XV, quando a população já não mais temia conflitos entre cristãos e muçulmanos.

Ruínas dos muros ainda estão lá e a gente pode caminhar por cima deles. A vista é espetacular.

O outro castelo, hoje Palácio Nacional de Sintra, foi reformado no século XIII pelo rei Dom Dinis. A monarquia portuguesa passou a frequentá-lo e, ao seu redor, foi desenvolvendo-se a vila de Sintra.

O palácio, a vila de Sintra e o território ao seu redor foram doados por Dom Dinis para sua esposa, Dona Isabel.

Eles passavam, assim, a ser parte da “Casa da Rainha”, um conjunto de palácios e propriedades cuja renda destinava-se à manutenção da rainha e das pessoas que dependiam dela (damas, guardas, etc).

Nessa época já havia outras três igrejas, incluindo a de Santa Maria, que existe até hoje.

Desde então, todos os reis e rainhas portugueses passaram temporadas no Palácio Nacional de Sintra e foram acrescentando novos edifícios ao conjunto.

A vila, beneficiada pela presença do rei, prosperava.

Desenvolvimento da Vila de Sintra (séc XV – XVII)

No século XV, Lisboa firmava-se como sede do país. Pela sua proximidade da capital e clima mais ameno, o Palácio de Sintra passou a ser o local onde a família real passava boa parte do tempo.

Assim, essa residência passou a ter importância política. Muitas obras foram realizadas no local a partir de então. As paredes azulejadas naquela época são hoje consideradas as mais belas da Península Ibérica.

A vila ao redor do palácio crescia, e novas mansões iam sendo construídas nos arredores, como o Paço dos Ribafrias e a Quinta da Pinha Verde (citada por Eça de Queirós na obra Primo Basílio).

Foi nessa época que Camões (1524 – 1580), o maior poeta português, frequentou Sintra. Em sua obra prima, Os Lusíadas, ele escreveu: “Cintra, amena estância, / Trono de vicejante Primavera”.

A Serra de Sintra, naquela época, já era percebida pelos portugueses como um pequeno tesouro. E a pequena vila, por onde circulavam a corte e artistas, era um polo cultural.

Tudo isso mudou com a morte de Dom Sebastião e o período de união entre Portugal e Espanha, de que já falamos no post sobre a história do país.

Com a ausência da corte, Sintra perdeu sua importância.

E, após a restauração da monarquia portuguesa, a família real não voltou a frequentar a vila. O palácio real ficou praticamente abandonado.

Mas isso não impediu a construção de várias mansões na bela região serrana.

Alguns marcos desse período são a construção do Palácio de Seteais no final do século XVIII.

Enquanto isso, a família real ocupava-se com a construção de uma nova casa de campo, o Palácio de Queluz, na metade do caminho entre a vila de Sintra e Lisboa.

A popularização de Sintra e o Romantismo (séc. XVIII – XIX)

Mas, graças ao movimento literário e artístico conhecido como Romantismo (1750 – 1900) e o casamento de uma rainha portuguesa com um príncipe alemão, Sintra voltou a atrair a atenção da corte – e do mundo!

O Romantismo surgiu como uma reação à modernidade e fazia um resgate do mundo natural existente antes da Revolução Industrial.

Ele fazia apologia à natureza, resgatava tradições medievais e valorizava povos nativos. O exótico também era apreciado.

Um dos primeiros nomes do Romantismo foi o poeta britânico Lord Byron (1788 – 1824). Antes de ficar famoso, ele esteve em Sintra (1809). Lá, ficou hospedado no Lawrence’s Hotel (em funcionamento até hoje).

Uma carta para seu amigo Francis Hodgson dizia: “Eu preciso dizer que a vila de Sintra na Estremadura talvez seja a mais bela do mundo”.

Alguns anos depois, de volta a Londres, ele publicou o poema Childe Harold’s Pilgrimage, que se tornou um sucesso imediato.

Nele, ele falava sobre Sintra: “Eis que em vários labirintos de montes e vales / surge o glorioso Eden de Sintra. / Ai de mim! Que pena ou que pincel / logrará jamais dizer a metade sequer / das belezas destas vistas (…)?”

Sintra tornava-se, assim, famosa entre os Românticos europeus.

Em Portugal, o romantismo surgiu com Almeida Garrett (1799 – 1854). Ele também era apaixonado por Sintra e escreveu: “Oh! Sintra! Oh saudosíssimo retiro / Onde se esquecem mágoas”.

Um grande impulso ao movimento romântico português ocorreu a partir de 1836, quando chegou a Portugal o príncipe germânico Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, extremamemente culto.

Ele vinha em função de seu casamento com a rainha portuguesa Maria II. E, além de promover a cultura e a arte no país, ele escolheu Sintra para construir o palácio dos seus sonhos.

O Palácio da Pena

Ele comprou as ruínas do Real Mosteiro de Nossa Senhora da Pena, no alto da Serra de Sintra, e todo o terreno ao redor, incluindo as ruínas da Fortaleza dos Mouros.

Lá no alto, sobre o antigo mosteiro, ele construiu o Palácio da Pena.

O prédio é um ícone da arquitetura do Romantismo.

Nele foram combinados elementos da arquitetura egípcia, moura, gótica e renascentista.

Quando o compositor e maestro alemão Richard Strauss (1864 – 1949) visitou Sintra e avistou o palácio, teria dito:

“Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto, e nunca vi nada, nada, que valha a Pena. É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de Klingsor – e, lá no alto, está o Castelo do Santo Graal!”

O rei Fernando II não apenas construiu o palácio, como também reflorestou o parque ao redor do castelo e criou vários jardins, com plantas locais e outras trazidas de vários continentes.

Alguns anos depois, já viúvo, Fernando construiu no parque o Chalet da Condessa para sua segunda esposa. Ele é considerado um dos prédios mais interessantes da cidade.

Se você quiser ler um roteiro que explica como visitar o palácio da Pena e conhecer todos seus recantos, sugiro esse post do blog Cultuga.

Sintra voltou a ser um dos lugares preferidos da corte. Com ela vieram os nobres e a burguesia.

Palácio de Monserrate e Quinta da Regaleira

É dessa época a construção do atual Palácio de Monserrate, um prédio com influências góticas, indianas e mudejares, que fica no meio de um parque considerado “uma das mais notáveis criações paisagísticas do romantismo em Portugal”.

Ele foi descrito como “uma visão de conto de fadas” por ninguém menos que Hans Christian Andersen (1805 – 1875), o mais famoso escritor de contos de fadas.

Também foi após a construção do Palácio da Pena que um brasileiro filho de pais portugueses, Carvalho Monteiro, construiu um palácio na Quinta da Regaleira.

O prédio construído pelo italiano Luigi Manini tem influências gótica, manuelinas e renascentistas. E, dizem, tem vários símbolos ligados à alquimia, à maçonaria, aos cavaleiros templários e à ordem de Rosa Cruz.

O destaque dos jardins é o Poço Iniciático, que recebeu esse nome porque lá aconteceriam eventos de iniciação da maçonaria.

Ele tem uma escadaria em espiral que leva até o fundo do poço. Ali começam vários túneis, que vão até outras áreas do jardim.

Nessa época, Sintra tornou-se também um pólo de atração de artistas: vários pintores, músicos e escritores trabalharam ou buscaram inspiração na região.

Entre eles, destaca-se Eça de Queirós (1845 – 1900), que mencionou a cidade em várias de suas obras.

A relação de Eça com Sintra foi tão intensa, que hoje existe um roteiro na vila passando pelos locais mais comentados por ele.

Atualidade (séc. XX e XXI)

Sintra firmou-se como região turística ao longo do século XX.

Nas últimas décadas, a Câmara Municipal tem promovido ainda mais o potencial turístico da região.

Entre muitas iniciativas, destacam-se uma intensa programação cultural e o ActiveSintra, uma marca criada para promover o turismo ativo (aventura e ecoturismo) na região.

Dicas práticas sobre Sintra

Se você estiver de carro, prepare-se: estacionar na vila é um inferno! Arme-se de paciência.

A boa notícia é que, entre o Castelo dos Mouros e o Palácio da Pena, há estacionamento. E com uma parada só você pode visitar os dois lugares.

Outra opção para circular por Sintra é ônibus. A rota 434, chamada Circuito da Pena, para em vários pontos turísticos. A rota e horários estão aqui.

Se você não tem medo de subir ladeiras, também pode conhecer Sintra a pé. Para seguir um roteiro pré-definido, confira essas sugestões do site oficial dos Parques de Sintra.

Em termos de restaurantes, por ser um local super turístico, você vai encontrar muitas opções. A minha dica é seguir 10 quilômetros adiante do centro e ir até o restaurante Don Pedro 1, simples e ótimo. Entre as sobremesas encontramos os doces típicos da cidade: queijadas e travesseiros.

Para mais dicas sobre Sintra, leia esse excelente artigo da National Geographic.