As cidades de Braga e Guimarães são conhecidas em Portugal por abrigarem uma das melhores escolas do país: a Universidade do Minho. Ela tem mais de vinte mil estudantes, dos quais mais de 10% são estrangeiros. Mas, apesar de atrairem tantos jovens, elas são duas das cidades mais antigas do país.

O Minho, uma das 11 províncias tradicionais de Portugal, fica no extremo noroeste de Portugal. Essa região é conhecida como “o berço da nação”.

Foi ali, no território então chamado Condado Portucalense, que Portugal virou um país independente da Espanha, no ano 1128.

As três principais cidades do Minho hoje são Braga, Guimarães e Viana do Castelo.

Braga é uma das cidades mais interessantes do país.

Não apenas é cheia de história – ela chegou a ser capital de uma província do Império Romano, como também cheia de jovialidade: em 2012 ela foi eleita como a Capital Europeia da Juventude.

Guimarães, a apenas 20 quilômetros de Braga, é onde nasceu o primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques.

Ele nasceu no Castelo de Guimarães, e foi ali, após vencer uma batalha contra sua mãe, que ele declarou suas terras independentes. Nascia Portugal. E Guimarães orgulha-se até hoje de ter sido a primeira capital do país.

Viana do Castelo, cidade bem mais nova, é um excelente exemplo de cidade medieval portuguesa. Fundada no século XIII, seu centro histórico é super bem preservado e muito lindinho.

Nesse post vamos ainda visitar outras localidades do Minho: Barcelos, a cidade do famoso galo colorido que virou símbolo de Portugal; Ponte de Lima, uma cidade que faz parte da história do Império Romano; e Ponte da Barca, um refúgio para quem quer explorar a área verde do norte de Portugal (Parque Natural Peneda-Gerês).

Braga: a Bracara Augusta do Império Romano

Vamos começar nosso passeio pela mais antiga delas, Braga, cujo nome vem do povo celta que habitava a região há mais de dois mil anos atrás: os Bácaros.

O assentamento tornaria-se uma cidade no século III A.C., com a chegada dos cartagineses. Mas eles foram logo expulsos pelos romanos, que passaram a chamar a cidade de Bracara Augusta.

A cidade orgulha-se desse passado e, anualmente, revive seu tempo de império com um evento de rua chamado Braga Romana, que acontece geralmente no mês de maio.

Nos séculos seguintes, assim como o resto da Península Ibérica, essa região foi ocupada pelos visigodos e, posteriormente, pelos muçulmanos (eu já contei sobre isso no post sobre a história da Espanha).

Mas, graças à sua proximidade ao norte da Espanha, essa foi uma das primeiras regiões reconquistadas definitivamente pelos cristãos e incorporadas ao Condado Portucalense.

Em 1096, junto com o resto do condado, Braga foi dada de presente pelo rei de Castela e Leão, Afonso VI, para sua filha adotiva, Dona Teresa de Leão, e seu marido, Dom Henrique de Borgonha.

Foram eles que começaram a construção da catedral da cidade, onde hoje encontram-se seus túmulos.

E foi o filho deles, Dom Afonso Henriques, que tornou Portugal independente três décadas depois. Falaremos mais dele em seguida, quando chegarmos na cidade de Guimarães.

Voltando para Braga: no século XII a cidade foi doada para a Igreja e tornou-se sede do arcebispado de Portugal.

Foram os arcebispos que governaram a cidade até o final do século XVIII. Durante esse período, Braga desenvolveu-se como centro religioso.

O palácio onde os arcebispos viviam (Paço Episcopal) é um dos mais emblemáticos da cidade. Ele ocupa a quadra inteira na frente da catedral (Sé) e, atualmente, tem muitas funções.

A área voltada para a Sé, atrás do chafariz do Largo do Paço, foi transformada na Reitoria da Universidade do Minho.

Já a área voltada para a Praça do Município, prédio do século XVIII completamente restaurado no século XX, abriga a Biblioteca Pública da Cidade.

E, do outro lado do prédio, fica o bonito jardim do palácio (Jardim de Santa Bárbara), área verde totalmente integrada ao centro histórico da cidade.

Do outro lado da rua, uma curiosa escultura de dragão chama a atenção.

A escultura, que se encontra em caráter “temporário” em Braga desde 2013, pertence a seu criador, o escultor Aureliano Aguiar (conheça outras de suas obras em ferro aqui).

O dragão é um dos vencedores do Prêmio Utopia de Arte Fantástica, e foi parar em Braga no ano em que a cidade foi eleita Capital Europeia da Juventude (2012).

Uma das muitas iniciativas que levou à essa conquista foi um projeto de Street Art, que encheu as ruas de Braga de esculturas e todo o tipo de arte.

E é arte urbana (street art ou grafitti) que nos leva até o ponto final do nosso passeio por Braga, a torre de Menagem.

Essa torre é a construção mais antiga da cidade e ficava no prédio interno do Castelo de Braga. Ele construído durante o reinado de Dom Dinis (1279-1325). Infelizmente a torre não estava aberta para visitas quando estive na cidade.

Vê-la de fora é mais interessante a partir do Largo do Barão de São Martinho.

A torre, ao fundo, tem de um lado um prédio do começo do século XX que substituiu as ruínas das construções medievais; e, de outro, de um grafitti do britânico Darren John, pintado em 2022 como parte do Festival de Arte Urbana (FENDA).

Os três elementos fazem uma composição bonita, que ilustra a Braga histórica e a Braga jovem e multicultural dos dias de hoje.

Entre os estrangeiros que vivem na cidade, além de estudantes universitários europeus, há também muitos brasileiros.

Eles escolhem Braga, em geral, por sua alta qualidade de vida e seus baixos custos (relativamente inferiores aos de Lisboa e Porto).

O centro tem todo o charme de uma cidade tradicional portuguesa.

E, ao seu redor, há muitas áreas comerciais e residenciais mais novas, onde vive a maior parte de seus 200 mil habitantes.

Não posso terminar de falar de Braga sem mencionar o Santuário de Bom Jesus – se você leu artigos de viagem sobre a cidade, com certeza viu fotos de sua enorme escadaria, que é um dos cartões postais da cidade.

Hoje parte do Patrimônio Histórico da Humanidade, o santuário no alto da colina de Bom Jesus surgiu com a instalação de uma cruz e uma pequena capela, em algum momento do século XIV.

Um documento do ano 1373, o Estatuto da Irmandade da Igreja da Trindade de Braga, já recomendava a peregrinação ao local.

Com o passar dos séculos, novas capelas foram construídas. E, no século XVIII, uma grande restauração deu origem à igreja e às escadarias que vemos no local atualmente.

O local continua sendo destino de peregrinos e, graças a sua beleza, atrai também muitos turistas. No site oficial do Bom Jesus você encontra todas as informações sobre como explorar os jardins, entrar no prédio ou, ainda, fazer uma visita guiada.

Eu não consegui ir até o Bom Jesus porque ele fica um pouco afastado do centro histórico: 5 km a pé (ou 20 minutos de carro). Mas está na lista para uma próxima visita.

Guimarães, a Cidade onde Portugal Nasceu

Quando Dona Teresa e Dom Henrique ganharam o Condado Portucalense, já existia um castelo a 20 quilômetros de Braga, o Castelo de Vimarães.

Ele havia sido construído no ano 950, pela condessa Mumadona Dias, para proteger um mosteiro também fundado por ela nessa mesma região.

Mais de um século depois, quando o condado passou a pertencer à Dona Teresa e Dom Henrique, eles escolheram esse lugar para morar e fizeram uma grande reforma no castelo. Seu filho, Afonso Heriques, que se tornaria o primeiro rei de Portugal, nasceu lá.

O Condado Portucalense continuou sendo parte do Reino de Castela e Leão até 1128, quando Afonso Henriques, que queria que o Condado se tornasse independente do Reino de Leão, enfrentou sua mãe na Batalha de São Mamede, a poucos quilômetros do castelo Vimaraes (mais tarde chamado de Guimarães).

Eu já contei sobre essa batalha no post Pequena história de Portugal. Para essa história aqui, o que nos interessa é que, com a vitória de Afonso Henriques, Guimarães tornou-se a primeira capital de Portugal.

Foi por pouco tempo: alguns anos depois ele transferiu a capital para Coimbra, sobre a qual já escrevi aqui.

Entre os séculos XII e XIII o castelo de Guimarães passou a ter sua forma atual, com a construção de 8 torres.

Mas, por essa época, os portugueses já haviam conquistado muitos territórios para o sul.

E o castelo, que tinha tido importante papel de defesa no passado, foi perdendo destaque, sendo finalmente abandonado no século XVI.

Foi só no século XIX que ele foi reconhecido como patrimônio histórico de Portugal e importante herança medieval. Dentro do castelo tem um museu interativo bem legal que conta a história da fundação do país.

Pertinho do castelo ficam a Igreja de São Miguel, construída no século XIII, e o Paço (palácio) dos Duques, construído no século XV (hoje transformado em museu).

Aos pés do castelo, o antigo vilarejo continuou se desenvolvendo e se transformando na Guimarães dos dias de hoje, que tem mais de 150 mil habitantes.

O centro histórico tem construções do século XV ao XIX bem preservadas.

Todo esse conjunto foi considerado pela UNESCO como Patrimônio Histórico da Humanidade.

Assim como Braga, Guimarães também tem um campus da Universidade do Minho.

Barcelos e o Caminho de Santiago Português

Pro outro lado de Braga, também a apenas 20 quilômetros de distância, fica Barcelos. Ela é conhecida por ser a cidade onde foi criado o galo colorido que é hoje um dos símbolos de Portugal.

A história do Galo de Barcelos está ligada à do Caminho de Santiago.

Inicialmente, havia apenas um “Caminho de Santiago”: ele ia da fronteira entre Espanha e França (nordeste da Espanha) até a cidade de Santiago de Compostela (noroeste da Espanha), onde estaria a tumba do apóstolo Santiago.

No post sobre a história da Espanha eu já contei sobre a motivação política que deu origem a essa rota de peregrinação no século IX. O que nos interessa aqui é que, com o passar do tempo, mais e mais pessoas queriam ir a Santiago de Compostela.

E, com a expansão dos cristãos pela Península Ibérica nos séculos XII e XIII, muitas delas vinham a partir de Portugal.

Isso deu origem a três novas rotas para Santiago: Caminho Português Central, Caminho Português da Costa e Caminho Português do Interior.

O Caminho Português Central passa por Barcelos.

Conta a lenda que um peregrino que passava pela cidade foi acusado injustamente por um crime e condenado à forca.

Seu último pedido foi falar com o juiz da cidade, que estava num banquete, prestes a comer um frango. O peregrino teria dito: “É tão certo eu ser inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.”

O prisioneiro foi levado embora e enforcado e, de repente, o galo na mesa do juiz levantou e cantou. O juiz saiu correndo para tentar evitar a pena e, para sua surpresa, descobriu que o condenado ainda estava vivo, porque o nó da corda estava frouxo.

Anos depois, o peregrino teria voltado à cidade e esculpido o Cruzeiro do Senhor Galo, essa cruz que se encontra hoje ao lado do castelo dos Condes de Barcelos.

O conjunto, cruz e palácio, forma hoje o museu arqueológico da cidade.

De lá, você ainda pode ver peregrinos à caminho de Santiago cruzando a ponte sobre o rio Cávado.

Se você chegou até aí, aproveite para explorar a pé o conjunto histórico da cidade.

Nessa mesma esquina estão o Solar dos Pinheiros (prédio do ano 1448) e a igreja de Santa Maria Maior.

O Solar dos Pinheiros (à esquerda) é considerado Patrimônio Nacional e esconde uma pequena escultura conhecida como “o Barbadão”, mencionada em vários guias de turismo.

Mas, o mais curioso, é que esse não é o único “Barbadão” da cidade. Na parede da igreja matriz tem outra escultura “da mesma família”, como conta o blog Pormenores.

Um pouco mais acima fica a Câmara Municipal, um conjunto de edifícios que começaram a ser construídos no século XIV.

Indo adiante você vai chegar à Torre da Porta Nova, construída no século XV. Subindo nela você tem uma vista panorâmica para a cidade.

Pelo caminho, me chamou a atenção a quantidade de esculturas pelas ruas.

Começando por muitas variações do famoso galo.

E continuando com representações do povo português.

Para finalizar nossa passagem por Barcelos, um comentário sobre o Caminho de Santiago em Portugal. Como falei antes, há três rotas pelo país: Caminho Português Central, Caminho Português da Costa e Caminho Português do Interior.

Se você está considerando caminhar até Santiago, como fazem os peregrinos a mais de mil anos, vale a pena espiar o site da Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Viana do Castelo. Ele explica direitinho a diferença entre essas três possíveis rotas.

E, se você está pensando em seguir pelo Caminho Português da Costa, que passa por Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira (das quais falaremos em seguida), tem um post super detalhado desse trajeto no blog Pedalar e Viajar.

Ponte de Lima e seus Arcos Romanos

No Caminho Português Central fica nossa próxima cidade, Ponte de Lima. Você provavelmente vai ler por aí que ela é a cidade mais antiga de Portugal, o que não é correto.

Mas, se a fama de vila mais antiga de Portugal foi o que levou Ponte de Lima a “aparecer no mapa” e a entrar no meu roteiro, valeu a pena: a cidade é uma gracinha.

O nome dessa cidade vem do tempo do Império Romano. Ali, há dois mil anos, foi construída uma ponte, para viabilizar a passagem pelo rio Lima.

Segundo a prefeitura da cidade, 5 dos arcos da ponte atual ainda são daquela época.

Oficialmente, a cidade portuguesa de Ponte de Lima foi fundada em 1125, quando o Condado Portucalense ainda pertencia à Espanha.

A carta foral (documento de fundação) foi concedido por Dona Teresa, homenageada com uma estátua na entrada da cidade.

Poucos anos depois de Ponte de Lima receber seu foral, Afonso Henrique (o filho de Dona Teresa) tornou o Condado Portucalense independente da Espanha. E era o rio Lima que fazia a fronteira entre os dois reinos.

Nas décadas seguintes, Ponte de Lima teve papel estratégico, pois Afonso Henriques estava expandindo seu novo reino em todas as direções.

Rumo ao norte, o objetivo era ocupar a faixa de cerca de 40 quilômetros entre o rio Lima e o rio Minho.

Deu certo: desde o final do século XII, é o rio Minho que faz o limite entre o norte de Portugal e a Espanha (fronteira oficializada em 1864 pelo Tratado dos Limites de Lisboa).

Ponte de Lima continuou sendo uma vila importante ao longo da Idade Média. Ainda há na cidade parte dos muros que a protegiam no século XIV e vários prédios medievais.

Também na Idade Média, a antiga ponte romana foi ampliada. O ponto de passagem atraia comerciantes, e uma feira começou a ser realizada na margem do rio. A tradição é mantida até hoje, com a feira ocorrendo quinzenalmente.

Vale muito a pena dar uma passadinha por Ponte de Lima, a cidade é encantadora.

Duas horas são suficientes para explorar a cidade.

Rumo à Foz do Rio Lima: a charmosa Viana do Castelo

A apenas 25 quilômetros dali, o rio Lima encontra o mar. E é bem ali que fica uma das minhas cidades favoritas em Portugal: Viana do Castelo.

Ela foi fundada em 1258, com o objetivo de proteger a entrada do rio Lima. A cidade era, por isso, murada.

A Capela das Almas (ou Matriz Velha), construída logo em seguida, foi a primeira catedral da cidade.

No ano 1400, começou a ser construída uma nova catedral, que, desde então, é a igreja matriz de Viana.

No século XV, Viana tinha um dos principais portos do país.

Isso explica a construção do Forte de São Tiago da Barra pouco tempo depois.

O sucesso comercial português dessa época possibilitou a construção de muitas mansões, das quais várias ainda podem ser vistas no centro histórico da cidade.

Alguns exemplos podem ser vistos na praça da República, centro da cidade até hoje. O prédio à direita na foto abaixo é o Antigo Paço do Concelho, construído no começo do século XVI.

No meio do século foi instalado o chafariz da praça.

E, quase chegando no século XVII, foi construído o prédio à esquerda. Ele foi o primeiro hospital de Viana, sua Santa Casa de Misericórdia. Ela está em funcionamento no mesmo prédio até hoje.

Um outro prédio que chamou minha atenção no centro histórico da cidade foi a Capela das Malheiras, construída no século XVIII em estilo rococó.

Tem tanto prédio bonito nesse centro! Para saber mais sobre o patrimônio histórico da cidade, clique aqui.

Em 1904 começou a ser construído o Templo de Santa Luzia, uma das principais atrações turísticas da região.

Ele fica no alto de um morro, e a vista de lá é espetacular.

Atrás do templo fica a Pousada de Viana do Castelo, parte da rede de Pousadas de Portugal. Se você puder, pare para um café no terraço.

A vista é ainda melhor do que a do templo, já que fica num lugar um pouco mais alto.

Se você estiver pesquisando sobre a cidade na internet, provavelmente vai ler sobre o navio hospital Gil Eanes.

Ele foi construído em Viana e foi utilizado na primeira metade do século XX como apoio aos barcos bacoalheiros portugueses. Depois disso, foi abandonado.

Restaurado pela Fundação Gil Eanes, o navio-hospital foi aberto ao público como museu, em 1998.

Eu não entrei, mas gostei muito de caminhar pela área do rio onde ele está ancorado, indo até a marina da cidade. O caminho é cheio de árvores e super agradável.

Viana tem 24 quilômetros de costa e 10 praias pra banho. Eu fui até Cabedelo, que é bastante procurada para prática de surf, windsurf e kitesurf.

Existe um bosque de pinhais entre a areia e a estrada, que você atravessa por um passadiço (passarela de madeira).

O prédio que você enxerga entre as árvores é o hotel ecológico Feel Viana.

Para saber mais sobre as praias da região, visite o site da câmara municipal.

Viana do Castelo teve papel importante nas grandes navegações (séculos XV e XVI) e já foi o maior centro de produção vinícola do país, antes da mudança dos produtores para o vale do Rio Douro.

Para saber mais sobre essas histórias, espie meus posts sobre Sagres e Porto, respectivamente.

Parque Nacional Peneda-Gerês (e Minha Parada em Ponte da Barca)

A apenas 20 quilômetros de Ponte de Lima fica Ponte da Barca.

É uma cidade muito lindinha, e ótimo ponto de parada para quem quer conhecer o Parque Nacional Peneda Gerês.

Ponte da Barca fica a apenas 25 quilômetros de uma das cinco entradas do parque (Porta de Lindoso). Antigamente, a vila era conhecida apenas como “lugar da barca”.

É que ali havia um barqueiro que atravessava peregrinos e outros viajantes de um lado ao outro do rio. Foi só na Idade que foi construída uma ponte, e a cidade rebatizada.

E olha que espetáculo o reflexo da sua ponte nas águas do rio Lima:

Quem fica hospedado em Ponte da Barca, tem acesso fácil também à Ecovia do Vez, uma trilha que tem, ao todo, 32 quilômetros.

E, também, pode aproveitar o excelente custo-benefício do hotel Fonte Velha, que foi onde fiquei, bem na beirinha do rio.

No caminho até a Porta de Lindoso, você vai ver muitos espigueiros, estruturas de pedra feitas para secar milho (especialmente nas freguesias de Soajo e Lindoso). É super típico de toda essa região que divide Portugal da Espanha.

A Porta de Lindoso é uma das cinco entradas principais para o Peneda-Gerês. Ele é, na verdade, mais do que um parque nacional português.

Oficialmente ele é parte de um parque internacional, compartilhado por Portugal e Espanha, e, na íntegra, chamado de Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés.

Do lado português, ele estende-se por uma área de 720 quilômetros quadrados, ocupando território de 5 concelhos (sub-divisões dos 18 distritos que formam o país): Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, Melgaço, Terras de Bouro e Montalegre.

Por essa região, há dois mil anos atrás, passava uma estrada romana que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga, hoje parte da Espanha).

Ela é a estrada romana mais bem preservada de Portugal e é conhecida por três nomes: Via Nova, Geira ou Via XVIII do Itinerário de Antonino.

Ao longo dela, havia “marcos miliários”, colunas que eram colocadas a cada mil passos para marcar a distância. Muitas dessas colunas ainda podem ser vistas pelo parque.

Mas não é apenas isso que há para ver no Peneda-Gerês.

A região é cheia de trilhas (tudo sobre elas nesse post do blog VagaMundos) e cascatas (esse outro post do Vagamundos mostra como chegar nas mais bonitas). Um paraíso para quem gosta de natureza.

Chegar ao Peneda Gerês é facil. Além da Porta de Lindoso, as outras 4 portas do lado português são Porta do Mezio, Porta de Lamas de Mouro, Porta de Montalegre e Porta de São João do Campo.

Uma boa opção de hospedagem para quem quer ficar mais no meio do parque é a Vila do Gerês. Ela fica “no meio de tudo” e conta com uma boa infra-estrutura turística.

Para mais dicas práticas sobre como visitar o Peneda-Gerês, visite o site oficial do parque ou leia esse post do blog Berço do Mundo. E, para uma hospedagem top, espie o site da Pousada Caniçada, em Vieira do Minho.

Entre o Rio Lima e o Rio Minho: Valença, Vila Nova de Cerveira e Caminha

Vamos terminar nosso passeio pelo Minho na faixa de terra entre os dois rios. Esse é o último trechinho de Portugal antes da fronteira com a Espanha.

Valença

A cidade mais importante dessa área é Valença, que também foi romana há dois mil anos atrás. Um dos “miliários” de que falei antes fica nessa cidade e está super bem preservado.

Mas a maior atração da cidade são seus muros, com perímetro de cerca de cinco quilômetros construídos para proteger a cidade no século XVII (período de conflito militar entre Portugal e Espanha).

Dentro dos muros, além do miliário romano, também podem ser vistos muitos prédios medievais.

Uma das curiosidades dessa cidade é que, na Igreja de Santo Estevão (séc. XIII), pode ser vista a única imagem de Maria amamentando o Menino Jesus que não foi destruída durante a Inquisição.

O centro histórico de Valença fica dentro dos muros. Eu estive lá em um final de semana e a gente precisava deixar o carro do lado de fora, no pé da montanha onde a fortaleza se situa.

Lá de cima, a gente tem uma vista privilegiada para o rio e para a cidade de Tui, do outro lado do rio, já na Espanha.

A montanha onde fica a fortaleza / cidade histórica está exatamente entre as duas pontes por onde você pode cruzar o rio pra chegar na Espanha.

O mais legal é cruzar pela ponte rodo-ferroviária (a ponte antiga), pois você já cai dentro de Tui, a cidade espanhola.

O site da prefeitura é super organizado e dá uma boa ideia do que ver por lá.

Vila Nova de Cerveira

Continuando pela margem portuguesa do rio Minho em direção ao mar, a próxima parada é Vila Nova de Cerveira.

A cidade surgiu ao redor de um castelo construído no século VIII, época em que os cristãos estavam lentamente começando a retomar a Península Ibérica do controle muçulmano (processo que durou oito séculos e é chamado de Reconquista).

A vila que se desenvolveu ao redor do castelo recebeu carta foral em 1321, ano em que, possivelmente, começou a construção de um novo castelo, que está em pé até hoje e é considerado parte do patrimônio cultural português.

Estando por lá, tente ir no restaurante Casa das Velhas, de onde se tem uma vista bonita para o rio. E, para quem gosta de praticar exercícios e caminhar em lugares bonitos, vale a pena conhecer a Ecopista do Rio Minho, com 13 quilômetros de extensão.

Caminha

Nossa última parada antes do rio Minho encontrar o mar é Caminha, outra cidade que foi importante para a defesa de Portugal nas lutas contra a Espanha.

Ela também tem um centro histórico charmosinho, calçadas na beira do rio e vistas bonitas para o rio e para Guarda, a cidade lá do outro lado, já na Espanha.

Os peregrinos que estão indo a Santiago pelo Caminho da Costa cruzam o Minho em um barquinho de passageiros, o Xacobeo Transfer.

Até 2022, também era possível cruzar o Minho nessa região com o carro, em uma balsa (ferry-boat Santa Rita de Cássia). Mas esse serviço foi suspenso em 2022 em função do assoreamento da margem espanhola.

Quem está de carro, aqui terá duas opções: seguir pela costa até Viana do Castelo (25 quilômetros) ou, se quiser ir para a Espanha, voltar até Valença para cruzar o Minho por uma das pontes.

Pra terminar

O Minho é uma das regiões culturais mais interessantes de Portugal.

Muitas de suas tradições são consideradas galaico-minhotas, ou seja, compartilhadas entre a Galícia (região espanhola ao norte do rio Minho) e o Alto-Minho (região portuguesa entre os rios Minho e Lima).

Tradições centenárias, como o “lenço dos namorados” (que as moças em idade de casar bordavam e ofereciam ao seu amado), são preservadas por associações locais, como a Aliança Artesanal – Lenços Namorar Portugal.

Em uma parceria com o município de Vila Verde, ela já está na XX Edição de seu Concurso Internacional de Criadores de Moda, que busca manter a tradição ao mesmo tempo que moderniza o uso dos lenços.

Outras tradições bonitas dessa região são a “apanha do sargaço“, um tipo de alga que era utilizada como fertilizante, e o “lanço da cruz“, uma espécie de romaria de barco entre Valença (Portugal) e Tui (Espanha), que é parte dos festejos de Páscoa.

Em termos culinários, um dos pratos mais tradicionais do Minho são as papas de sarrabulho, prato fácil de encontrar no norte, mas raro nas outras regiões do país.

Ele é feito à base de sangue de porco. Você pode encontrar a receita aqui.

Uma última dica para que quem quer explorar o Minho: o melhor nessa área é viajar de carro, pois só assim você consegue chegar circular com mais flexibilidade (as rotas e horários de transporte público são bastante limitadas).

Para quem está indo a Portugal com o objetivo de explorar essa região, o aeroporto mais próximo fica no Porto (60 quilômetros de Braga), cidade sobre a qual já falei aqui.